Camaleônico, André Dias surge com visual bem diferente em Segundo Sol

Publicado em 18/04/2018

Depois de interpretar o mordomo Patrício em Novo Mundo, André Dias estará em Segundo Sol, próxima novela das 21h. Poucos reconhecerão o ator logo de cara. Na pele de Groa, melhor amigo de Luzia (Giovanna Antonelli), André estará loiro, de cabelos longos, e ainda terá sotaque de gringo. Na trama, prevista para estrear em maio,  ele vive um islandês que se apaixonou pela cultura baiana e terá um papel fundamental quando a protagonista cair nas armações das vilãs Karola (Deborah Secco) e Loreta (Adriana Esteves).

“Ele é quem arquiteta a história dela, ele ajuda ela traçar um plano de fuga para que ela possa ter uma vida nova, ele acaba indo com ela para Islândia e 18 anos depois retorna com ela para o Brasil para ela reencontrar os filhos e tentar provar a inocência dela. Ele é meio um anjo da guarda”, adianta o ator, que está adorando o novo desafio.

“O Groa é completamente diferente do Patrício, tem sotaque, é outra composição.  Quando você tem uma oportunidade de fazer uma composição na televisão, ela tem que ser feita com muita delicadeza, para não cair na caricatura”, analisa. Em entrevista exclusiva ao Observatório da Televisão, o ator conta um pouco do que vai rolar na novela de João Emanuel Carneiro.

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Seu primeiro trabalho em novelas foi em Novo Mundo, no horário das 18h, como foi para você fazer novela depois de 27 anos de carreira no teatro e no cinema?

São trabalhos diferentes, são interpretações diferentes, mas eu acho que foi muito uma consequência da carreira que eu fiz no teatro. Eu sempre quis chegar na televisão com uma oportunidade de fazer um trabalho de ator interessante, com um personagem interessante e esse personagem demorou 27 anos, mas chegou, que foi o Patrício.

Como aconteceu o Patrício para você?

A Márcia Andrade estava apresentando nomes para o Vinícius Coimbra (diretor), ele viu o teste que eu fiz em São Paulo, gostou muito e me chamou para fazer o personagem. Foi um personagem que, graças a Deus, cresceu muito ao longo da novela.  Um personagem pequeno, ele era mordomo do palácio, mas a trama era muito bem escrita, muito bem desenvolvida. Uma coisa foi puxando  a outra e o público gostou muito daquele mordomo pernóstico, daquele cara meio híbrido, que a gente não sabia se era bom caráter. O público gostou das maldades que ele fazia, da implicância dele com a princesa Leopoldina (Letícia Colin). Ele virou um personagem que as pessoas gostavam de odiar. Meio ‘Meu malvado favorito’. Então foi muito gratificante ver que no meu primeiro trabalho o público comprou de cara, mesmo sendo um vilão meio patético, meio cômico. As pessoas falam até hoje com carinho dele.

Essa pitada de humor que o Patrício tinha talvez não deixasse as maldades ficarem tão cruéis, não é?

Ele era muito engraçado. Muito pernóstico, muito sem noção.

Com esse trabalho na TV, você teve um grande assédio do público nas ruas?

Houve algumas pessoas que me reconheciam, mais em São Paulo do que no Rio, onde as pessoas já estão mais acostumadas a ver artistas, em São Paulo teve algum assédio durante o período que a novela estava no ar. Não houve uma grande exposição. Foi um personagem pequeno que foi tomando um vulto um pouco maior do que era pra ser.

Agora você vai viver o Groa em Segundo Sol e você está completamente diferente. Você acha que as pessoas vão perceber que é o mesmo ator que fez o Patrício?

Tomara, é o que eu gostaria que acontecesse, que as pessoas não soubessem nem quem é. Não associar um personagem ao outro é o maior elogio que o ator pode ter. As minhas composições eu gosto de fazer isso. Eu gosto estar completamente diferente. O Groa é completamente diferente do Patrício, tem sotaque, é outra composição.  Quando você tem uma oportunidade de fazer uma composição na televisão, ela tem que ser feita com muita delicadeza, para não cair na caricatura.

Conta pra gente um pouquinho de como vai ser o Groa.

Ele é uma espécie de melhor amigo da Luzia. Ele é um gringo, ele não é brasileiro, ele Islandês, fala com sotaque. Ele é quem arquiteta a história dela, ele ajuda ela traçar um plano de fuga para que ela possa ter uma vida nova, ele acaba indo com ela para Islândia e 18 anos depois ele volta com ela para o Brasil para ela reencontrar os filhos e tentar provar a inocência dela. Ele é meio um anjo da guarda. Ele é um gringo que se apaixona pela Bahia, pelo sol, pelo calor das relações humanas no Brasil e se envolve com o Candomblé.

Essa questão religiosa vai ser muito em evidência?

A gente ainda tem muito pouco sobre essa questão. Eu sei que vai ter uma busca espiritual dele, ele é tomado de emoção pelo Candomblé, ele se apaixona pela cultura brasileira. Ele quer ficar aqui. Novela é uma obra aberta. A gente já praticamente acabou de gravar a primeira fase, faltam poucas cenas, a gente já está começando a segunda (fase). Mas uma das características do personagem é ser uma figura espiritualizada.

Você gostou desse novo visual, esse cabelo longo e mais claro?

Gostei muito. Eu não tenho nem muita escolha, tive que adotar para a vida pessoal . Eu achei  que ficou bom, compôs muito o personagem, me ajudou a diferenciar bastante do Patrício, toda a caracterização e o figurino. Como eu entrei na novela pouco antes de começarem a gravar, minha preparação foi muito rápida, então o figurino e a caracterização me ajudaram a criar.

Vocês gravaram na Bahia. Você já conhecia o estado, foi uma novidade para você?

Eu conhecia Salvador já, mas não ia lá há 18 anos, justamente na época em que se passa a primeira fase da novela. Foi uma viagem de um mês. Nós ficamos na região de Arraial d’Ajuda e depois passamos duas semanas em Salvador. Foi muito interessante passar um mês na Bahia, entender um pouco da cultura local, ouvir o sotaque, tanto na capital quanto em outras regiões foi muito importante, percorrer o Pelourinho duas, três vezes. Andar por aquela área histórica da Bahia foi muito importante pra gente pegar o tom da novela.  A ideia é a gente levar durante toda a gravação da novela essa sensação que a gente viveu lá, naquelas paisagens paradisíacas. A gente levar um pouco dessa emoção pro público que vai assistir a novela e tentar manter o coração ali, naquele lugar.

O Groa leva a Luzia para a Islândia. Vão ter cenas no país?

A princípio não. Tem cenas escritas, mas é tudo estúdio. A Islândia vai ser no Projac.

Como o personagem é da Islândia, você tentou se aproximar de alguma forma com o país?

Eu tive uma preparação curta, mas fiquei em cima da fonética. É um idioma muito distante do nosso, então eu fiz um estudo em cima da fonética do idioma, pra pegar alguns fonemas que eles não conseguem reproduzir, e ainda consegui colocar nisso uma musicalidade baiana. Além dele falar com sotaque, ele aprendeu a falar o português na Bahia. Ele é um gringo baiano. Ele também é um personagem que vai ter bastante humor. Tem uma seriedade na questão espiritual dele, mas ele é um cara bem engraçado. Eu tive que fazer uma pesquisa do universo da Islândia sim. Eu vi muita imagem de Internet, eu escutei muito Björk, muita música islandesa. A gente tem uma coach linguista, especializada em sotaque, que trabalha com a gente. A novela se passa na Bahia e a gente tá fazendo uma coisa bem orgânica para não cair na caricatura, uma coisa muito sutil.

Um dos seus trabalhos que você aparece bem diferente está o Emanuel, no filme Chico Xavier. Como é para você mudar tanto entre cada personagem?

É uma coisa que eu procuro mesmo fazer. Algumas pessoas dizem que eu sou parecido com o David Bowie, que eu sou bem camaleônico, que eu sou meio andrógeno. Eu gosto de me preparar dessa forma, me distanciar do meu último personagem. Eu acho que os meus quase 30 anos de teatro emendando uma peça na outra, fazendo cinco peças por ano, me deu um pouco dessa versatilidade. As vezes você está se apresentando no teatro com um personagem e ensaiando outro completamente diferente, com outra temperatura, com outro maneirismo, com outro corpo, com outra voz. Mudar a voz, mudar a forma de falar, mudar o corpo. Esse trabalho de composição me interessa muito. Sempre priorizei os detalhes do personagem, fazer completamente diferente. É o desafio que me move para seguir sendo ator. Do Patrício pro Groa tem um pulo enorme. O que me move é justamente é ser diferente, não ser refém da minha própria personalidade. Abri espaço na minha personalidade para criar a personalidade de outra pessoa.

Você percebe muita diferença em compor o personagem no teatro e na TV?

Novela é diferente de teatro, você vai se aprimorando. Você começa a fazer uma novela, você não tem noção do que você está fazendo. Daqui a pouco você vai ouvindo direcionamento da direção, você vai se inteirando do figurino, vai se inteirando de outros textos e de outras cenas que vão chegando e vão elucidando o personagem. Você vai se apropriando dele conforme você vai fazendo. No teatro não, no teatro você está todo preparado. A obra é fechada, você estudou aquilo do início ao fim, você repetiu dezenas de vezes, você chega muito preparado. Televisão você não prepara nada, é aquele momento. Ou melhor, você prepara tudo, menos a forma de interpretar. Você vai chegar lá o diretor vai falar: ‘eu quero que você esteja limpando copo’. A cena que você imaginou que ia ficar parado, ele quer que você ande de um lado pro outro. Não adianta você preparar, a continuidade da história. Você tem que estar preparado, mas você não pode preparar  aquilo que  vai ser feito. Eu acho que é muito rico você trabalhar entre esses veículos. Pro ator é muito gratificante.

Você tem algum projeto paralelo à novela no teatro?

Ano passado, quando eu estava fazendo Novo Mundo eu fiz quatro espetáculos junto com a novela. Mas o Groa é um personagem que exige um pouquinho mais, é uma responsabilidade um pouco maior e esse ano eu sou estou aberto a convites.

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