Bombeiro na série Treze Dias Longe do Sol, Fabrício Boliveira conta sua experiência durante preparação

Publicado em 17/11/2017

Fabrício Boliveira está na série Treze Dias Longe do Sol, como o bombeiro Marco Antônio. Considerado um dos heróis da história que já está disponível na Globo Play e tem estreia marcada para janeiro na Globo, o ator conversou com nossa reportagem, e falou sobre sua inspiração para compor o personagens, suas dificuldades durante a gravação, e seu sentimento sobre a forma como a série se desenrola. Confira:

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Você vai ser o grande herói dessa história?

“Eu não sei mais se eu acredito na coisa do herói e do líder, mas esse cara também ganha em estar ali, tem o trauma do passado, mas é um homem movido pelo afeto. A gente chama ele de Marco Antônio Coração de Leão, porque ele só age pelo afeto. Um cara que vê as pessoas com humanidade, independente se for o cara que de fato construiu o prédio ou aquele que planejou para derrubá-lo. Ele está ali para salvar pessoas, e é bonito pensar isso, alguém que está olhando para o humano, conectado com vidas. Tive um contato muito forte com os bombeiros, que estão numa profissão que salva vidas independente da cor, credo, se são mortadelas ou coxinhas. Acho que é um ensinamento pra gente hoje.”

Como foi esse trabalho que você fez com os bombeiros?

“É um trabalho delicado e foi o que tive contato. Tivemos algumas reuniões, e tive algumas práticas para entender como as pessoas eram retiradas de dentro dos escombros. A parte mais delicada, é em relação às famílias, olhar nos olhos dos familiares e comunicar uma morte, ou um desaparecimento, uma falta de notícias, ainda tentar manter a esperança delas, ganhar esperança como ator também, e colocar isso na cena foi muito bonito, mas ao mesmo tempo delicado, olhar para o outro e vê-lo numa situação de dor.”

Fisicamente essas cenas te exigiram muito também, né? 

“Sim, porque trabalhamos o tempo todo embaixo dos escombros e ali tinha muita poeira. Chegávamos às 5 da manhã e saíamos às 5 da tarde. A série não tem tanta ação, o mote maior é como as pessoas lidam com as tragédias.”

A sua técnica como ator também ajuda na composição, né?

“Acho que me engrandece cada vez mais, como podemos abdicar dos nossos privilégios, e do nosso conforto para olhar para o outro.”

E como você muda a ‘chavinha’ após um dia de gravação?

“Eu tenho artifícios. Florais, um bom acupunturista (risos). É a prática também. A gente não leva o personagem para casa, mas trabalho ali o dia inteiro, carregando peso, e o corpo acaba sentindo isso. No inicio do ano, estávamos gravando em São Paulo, uma mudança de tempo terrível, acabei ficando rouco, e meu personagem também.”

Algum desses bombeiros contou  alguma história em especial para você?

“Histórias muito delicadas sobre tentativas de resgatar pessoas que estão para se suicidar, e isso mexeu muito comigo, porque eles tem uma atividade cotidiana em relaçao a isso. Passei a ter mais atenção à doença social.”

Você passou a enxergar os bombeiros de outra forma?

“Eu adoro os bombeiros, é uma corporação que de algum jeito fiquei muito mexido com o trabalho deles, com a seriedade. Dá orgulho de ver que tem gente perto da gente que tem outra função, importante, extremamente valiosa, faz isso todos os dias. Se o meu trabalho é delicado, imagina o desses caras.”

A minissérie já terminou de ser gravada?

“Sim.”

Como foi construir esse personagem? 

“Eu destituo ele da coisa do herói e olho para o ser humano e para essas opções diárias. Eu tive uma conexão muito forte com os bombeiros e foi muito lindo ver esses caras a cada dia reconfigurando a cabeça, e indo lá salvar vidas, doar a vida deles em prol de outras pessoas.”

Mas essa conexão foi durante a preparação?

“Sim, durante a preparação. Eu fui até lá para ver como era o universo, entender os materiais utilizados, como se tira alguém de um escombro depois de uma tragédia. Para mim, foi o mais forte de tudo, caras que lidam de humano para humano sem se importar com cor religião, com quem caiu ou quem estava lá para se suicidar. Isso é um aprendizado, talvez o recorte bonito que as pessoas vão se identificar com o Marco Aurélio, porque ele trata tudo com o coração, tudo com afeto. Entender que tem alguém que precisa e ele tem como ajudar.”

Você se apegou ao personagem? Como foi para você interpretar esse homem?

“Foi um aprendizado para olhar para o outro e aprender de acordo com essa profissão. Um exercício que faço é me silenciar um pouco, tirar um pouco dos meus preconceitos e achismos e olhar para o personagem, e pessoas que o inspiram. Me pergunto qual a construção me agrada, qual me desagrada e por que isso. Eu aconselho às pessoas que depois de assistirem à série, visitem a unidade dos bombeiros mais próximas às suas casas, porque lá elas vão ter contato com histórias bastante cruciais, fortes, do perigo de vida e morte. É bonito ouvir e aprender com elas.”

Você é contratado da Globo?

“Não. Eu faço por obra, nunca fui contratado da Globo. Como eu já tinha feito outra novela do João, ele me convidou diretamente. É um cara que admiro.”

No momento, você está com algum outro projeto?

“Estou rodando um filme chamado ‘Miragem’, do diretor Eric Rocha. Ele é um gênio, e estou muito feliz de trabalhar com ele. O filme fala sobre a crise política no Brasil, sob o olhar de um taxista carioca que trabalha a noite. Estou andando muito de táxi de verdade.”

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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