Bianca Rinaldi celebra romance de Leonor e Marcelo em Malhação: “Amor inocente e de respeito”

Publicado em 11/12/2018

Inicialmente, a professora Leonor faria uma rápida passagem por Malhação: Vidas Brasileiras. Porém, a personagem de Bianca Rinaldi conquistou o público e retornou à trama, escrita por Patrícia Moretzsohn com direção artística de Nathalia Grimberg. Logo quando chegou no Colégio Sapiência, Leonor enfrentou um dilema inusitado: viver ou não viver um romance com Leandro?

O garoto, interpretado pro Dhonata Augusto, era seu aluno nas aulas de história. Agindo conscientemente, a divertida professora procurou esquecer o jovem. Pouco tempo depois, ela foi surpreendida com uma nova paixão. Dessa vez, os seus olhos brilharam para Marcelo (Bukassa Kabengele), diretor da instituição de ensino. Sobre os detalhes desse romance, Bianca Rinaldi conversou com o Observatório da Televisão.

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A atriz destacou o preconceito racial que o casal enfrentou no início do namoro, inclusive de Dandara (Jeniffer Dias), filha de Marcelo. “Por que uma mulher loira não pode estar com um homem negro?”, questionou.

Ao longo da entrevista, Bianca também falou sobre o carinho do público, infância difícil, carreira e muito mais. “Eu agradeço a Deus todos os dias por todas as oportunidades que me aparecem”, frisou. Confira a seguir:

A personagem

Fala um pouco sobre a Leonor?

“A Leonor entrou de uma forma singela, mas muito marcante. Primeiro ela veio levantando a questão do amor livre por uma pessoa mais jovem. Ele não tinha nem 18 anos quando ela entrou. Levantou essa questão: ter ou não ter? Viver ou não viver essa paixão? Seguir as regras ou não seguir? O que é correto? Ela foi pelo correto e não vivenciou essa paixão pelo o Leandro. Mas, o destino é tão bom que ela pegou logo o diretor da escola, o Marcelo (risos). E também veio com uma questão que, infelizmente, vivemos muito ainda: racismo e preconceito. Por que uma mulher loira não pode estar com um homem negro? Por que um homem negro não pode estar com uma mulher loira? É tão ultrapassado isso. Acho tão piegas ainda termos que falar disso. Mas, infelizmente, passamos por essa situação”.

Você ficou surpresa quando a Dandara não aceitou o namoro da Leonor e Marcelo?

“A Dandara é tão estudiosa, inteligente, culta, trabalhadora, mas quando vê o pai namorando a Leonor fala: por que essa loirinha aí, pai? Então, o preconceito está com ela, não está com ele e nem com a Leonor. Ela se pegou nisso de uma forma agressiva, foi atuando nas aulas. Perdeu o respeito e o prazer de ter uma aula de história da arte. Mas o namorado Hugo, que é tido como o que não sabe nada na escola, teve a sabedoria no momento de falar que ela estava errada.  O Hugo conseguiu despertar nela esses pontos onde ela precisava melhorar. E ela veio se desculpar”.

Parceria com o Bukassa Kabengele

O romance com o Marcelo já estava previsto na sinopse?

“A gente não sabia. Eu entrei no meio da novela, acho que ela já tinha uns seis meses. Então eu nem estava na sinopse (risos). Na primeira cena que tivemos, conversando com a diretora, levantamos a proposta”.

Você já tinha trabalhado com o Bukassa Kabengele?

“Não, mas eu já adorava muito esse cara. Curtia muito ele. Toda vez que eu falo ‘Bukassa’ eu lembro do Rei Leão que o ‘Mufasa’. Eu falei para ele que nunca ia esquecer o seu nome (risos). Primeiro porque é diferente e forte. Segundo porque eu amo o Rei Leão”.

Histórias reais

Você já foi abordada por casais que enfrentaram o mesmo preconceito que a Leonor e o Marcelo?

“Nunca ninguém chegou levantando essa questão, mas adoraria. Acho que a gente ia bater um papo legal. Se tem por aí e se está resolvendo amém! Que aconteça mais e que nossa relação seja uma inspiração para ajudar. Eu acho que é por uma dessas funções que eu escolhi ser atriz. Eu escolhi continuar no meio artístico sendo atriz porque sei que qualquer personagem que eu faça, seja mocinha ou vilã, vou estar levantando alguma questão na cabeça de quem está assistindo. Eu vou mexer com a emoção daquele que está me assistindo. E é isso que eu quero e é disso que eu gosto”.

Você já viveu um relacionamento onde existia uma característica vista como incorreta pela sociedade?

“Eu vivo. Eu e meu marido temos 22 anos de diferença. Já vivo com ele durante 18 anos. No começo teve essa questão. Eu não tenho problema, mas a sociedade cobra tanto e é tanto olhar que, às vezes, você se pega falando: ‘caramba’. No começo existiu muito essa diferença de 22 anos. Eu tinha 26 anos e estava num momento de ascensão muito grande com ele do meu lado. Eu sei que essa ascensão veio com ele. Eu não estaria aonde estou hoje, por tudo que passei, se ele não estivesse ao meu lado. A gente fez terapia de casal, que eu acho que foi muito bom”.

Leonor nas redes sociais

Como está a repercussão da sua personagem nas redes sociais?

“É uma graça! A Patrícia falou no começo: ‘Bianca, os seus fãs ficam me perturbando porque eles querem a Leonor com o Leandro’. Mas a gente sabe que não dava. Uma professora correta não pode ter relacionamento com aluno menor de idade. Isso não é possível. Ter um relacionamento com o Marcelo foi muito legal. A gente ficou feliz pra caramba. Eu acho que na rede social, a princípio, teve uma reação das pessoas que torciam pelo Leandro e Leonor. Mas, logo depois, eu coloquei uma foto minha com o Bukassa e as pessoas começaram a shippar”.

Você ainda recebe mensagens das pessoas que não aprovam esse romance?

“Sempre tem um ou outro. Mas esse um ou outro deixa de lado, curtindo a fossa dele. Eu prefiro olhar as coisas boas, as pessoas que torcem e que veem o lado do amor. O respeito, o companheirismo, a alegria e felicidade de estar ao lado de alguém que te quer bem. Eu acho que foi isso que aconteceu com Leonor e Marcelo. Eles não viram idade, posicionamento social e, principalmente, cor. Eles viram uma alegria e uma paquera gostosinha de adolescente que tiveram. Um amor inocente e de respeito. Não foi pegação. É um casal que vai durar para a vida toda”.

O retorno para Malhação

A Leonor entrou em Malhação para fazer uma participação, mas a personagem agradou ao público e retornou à trama. O que você sente ao ver o reconhecimento do seu trabalho?

“É muito gratificante. Eu agradeço a Deus todos os dias por todas as oportunidades que me aparecem. Eu entrei pensando em três meses, era uma participação. Eu fico muito feliz de ver a galera gostando do meu trabalho. Eu estou muito grata pela Patrícia, pela Nathalia, pela equipe toda que me acolheu. É muito difícil entrar em um produto que já tem seis meses no ar. Eles [a equipe] passaram por workshop juntos, montaram e criaram Malhação: Vidas Brasileiras. Eu cheguei com o bonde lá na frente. Eu não estaria me sentindo tão em casa se não tivesse sido abraçada por toda equipe de Malhação“.

Como surgiu o convite para integrar o elenco de Malhação?

“A Gabi me ligou. Eu vou falando com as pessoas: ‘gente, estou aí. Quero trabalhar’. Eu vou falando, pedindo a Deus. Uma hora chega, uma hora o trabalho vem. É um trabalho de formiguinha, de persistência, resiliência, fé acreditar, sonhar. Qualquer palavra que a pessoa quiser ter para si e seguir em frente. Não pode desistir”.

O preconceito

Você sempre teve uma compreensão do quando o racismo e o preconceito são destrutivos ou foi adquirindo esse olhar com o tempo?

“Eu venho de uma família muito humilde. Eu nunca tive privilégios nenhum desde quando nasci. Eu cresci ouvindo que a minha mãe foi trocada por outra pessoa. Cresci em uma família onde existia, sim, muita dificuldade. Eu lembro de muito pequena desejar coisas que os meus colegas tinham, mas minha mãe não pode me dar. Cresci sempre falando que queria trabalhar logo e estudar para poder ajudar a minha mãe. Não era nem em benefício próprio. A minha mãe era copeira, trabalhava de madrugada para poder sustentar eu e minha irmã. Sempre tinha a ajuda do avô e da avó. Lembro que às vezes ela podia comprar uma carne, um peixe quando recebia o salário”.

“A minha madrinha de batismo é negra, minha madrinha que eu amo. Cresci com ela. Então, para mim, o racismo nunca esteve presente na minha casa. Eu fui saber desse racismo e preconceito depois de grande, na escola. Dentro da minha casa o convívio era com todo mundo”.

A vida na infância

Você passou algum drama com a sua família?

“Eu tinha um tio que morreu de alcoolismo. Isso também era presente. Era um tio que a gente pegava na rua. Tentava fazer de tudo para ele sair disso, mas ele não saía. Então não tive nenhum privilégio. Cresci como qualquer brasileiro que passa dificuldades”.

Você foi uma criança feliz?

“Eu era uma criança grata, porque isso minha mãe sempre me ensinou: você tem que agradecer pela comida que tem todo dia no prato, pela cama quietinha e pela família que tem. O resto a gente corre atrás. Eu acho que o mundo vai te mostrando. A imprensa vai te mostrando. A televisão vai te mostrando. Se você tiver uma base familiar boa, você vai entender aonde tem amor e respeito. Respeito é fundamental. O preconceito e o racismo, para mim, são a falta de respeito”.

O preconceito está em todas as camadas da sociedade?

“É do ruivo, japonês, loiro, albino, gordo, magro. Todo mundo tem preconceito. Estamos vivendo em um tempo onde se tem a liberdade de discutir, levantar as bandeiras e mostrar o que é certo e o que não é certo. De mostrar o que é respeito e o que não é respeito. De falar do amor. O amor é a coisa mais importante do mundo. Para mim duas coisas são fundamentais: amor e respeito. Eu acho que as pessoas estão confundindo as coisas nesse triângulo de amor, respeito e liberdade. Ele está meio desequilibrado. Nós estamos passando por uma fase turbulenta no nosso país onde tudo aflora. Mas eu tenho esperança de que as coisas vão mudar. Eu acho que a gente já vê mudança. A mudança parte de dentro da gente”.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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