Ator Sandro Rocha defende Jair Bolsonaro de ser homofóbico e corrupto: “Não acredito, é intriga”

Publicado em 10/01/2018

Com pouco mais de vinte anos de carreira, Sandro Rocha, mais conhecido como o Major Rocha da sequência de Tropa de Elite, coleciona também alguns trabalhos na TV em papéis de “autoridade”, entre eles, delegado, investigador em tramas contemporâneas ou até mesmo as bíblicas, em especial da Record.

Em seu atual trabalho, Apocalipse, Sandro é um médico corrupto que administra o hospital da família e mantém um caso com uma colega de trabalho. Na vida real o ator revela que por conta de uma depressão encontrou a cura ouvindo as pregações do Padre Marcelo Rossi em meados dos anos 90 pela rádio América.

Nesses quase vinte e dois anos, Sandro tem buscado preservar seu lado espiritual, dispensa o rótulo de “evangélico”, afirma que acredita em um Deus que não faz acepção de pessoas, credo, opção sexual [sic], e que em 2018 irá apoiar a candidatura do deputado Jair Bolsonaro à presidência da república.

Em entrevista exclusiva ao Observatório da Televisão, o ator defende a família do deputado, que segundo reportagem da Folha de São Paulo do dia 07/01 teve seu patrimônio multiplicado nos últimos dez anos: “Li sobre e não acredito. Eu refuto completamente essas acusações. É vergonhoso”, afirma Sandro.

Sandro também afirma que o deputado não é homofóbico: “Eu não vejo o Bolsonaro como homofóbico. Isso é uma intriga que tentam colocar uma pessoa como homofóbica. Eu concordo que ele tenha declarações infelizes. E se [ele] fosse eu falaria”, defende o ator que pretende ajudar na campanha do deputado nas áreas de cultura e lazer.

Em paralelo à carreira na TV e no cinema, o ator mantém uma empresa de investimentos, canais no Youtube e busca patrocínio para um reality show que produziu para várias plataformas. Já sobre os ajustes no folhetim da Record ele revela: “No mínimo incomum. Nunca tinha vivido essa experiência”.

Confira a entrevista:

É verdade que você ingressou como ator por acaso?

Sim, trabalhava com vendas. Então um amigo me indicou um curso de teatro. Eu era muito travado. Fiz todos os cursos livres até o profissionalizante.

Mas antes já gostava de novelas, filmes e teatro?

Sempre gostei bastante, mas não sabia que tinha essa aptidão. Me encontrei realmente.

Se fosse pra escolher: vendedor ou ator?

Sempre ator, sempre. Estou há 21 anos nessa carreira. Em paralelo sou empresário.

E Tropa de Elite ainda repercute em sua vida? Fora do Brasil o público também te aborda? 

O filme é surreal. O que eu vivo até hoje por conta do Tropa… Dez anos. É muito forte, surreal. Aqui e fora do Brasil é a mesma coisa. É maravilhoso, surpreendente. Dentro da Disney tem nego falando com a minha família. Eles acham que é ficção, que o filme tem coisas lúdicas… Eu falo que se a gente for mostrar ainda mais a verdade será bem pior.

A maioria dos seus personagens possui alguma ligação com a justiça. Acredita que ser rotulado como uma “autoridade” pode ser prejudicial pra sua imagem?

Isso foi se colocando naturalmente. Eu nasci no Complexo do Lins. Era pra fazer papel de bandido. (risos). O Lins é uma das áreas mais perigosas do Rio de Janeiro. Eu fui me encaixando… Não querendo me comparar, mas o Denzel Washington e Javier Bardem sempre fazem o mesmo papel. Eu gostaria de fazer comédia. Fiz Se puder dirija, da Disney, um bandido na linha de comédia. Risos. É um tempo pra cada coisa. Pra mim é um trabalho. Isso não acontece só comigo. Muitos atores passam por isso também. Falta me testarem em outras coisas também, outros universos.

Em 1996 você foi curado de uma depressão ouvindo as pregações do Padre Marcelo. De lá pra cá tem se dedicado à igreja. Pela Record TV fez alguns personagens dos folhetins bíblicos da emissora. Ficou feliz com as oportunidades? 

Eu não entrei pra igreja. Graças a Deus o Padre Marcelo existe. Eu ouvi o programa dele na rádio América por indicação de uma tia. Eu passei por várias mudanças como um todo, a parte espiritual começou a fazer parte da minha vida, caminhei na igreja católica, depois eu fui parar na igreja evangélica, me casei na Batista, esse ano eu faço vinte anos de casado.

Eu não gosto de ser “chapado” como o cara que “fica” na igreja, eu entendo Deus na sua multiplicidade e forma. Nós somos o templo.

O Deus que eu acredito não faz acepção de pessoas, credo, opção sexual [sic], nada disso… Não estou muito dentro desses “moldes” que hoje a parte espiritual se tornou. Eu não gosto de “chapar” porque dá uma conotação errada. A minha opção espiritual e religiosa é a cristã.

Então os personagens foram uma feliz coincidência?

Feliz coincidência. A Vivian de Oliveira que escreveu Os Dez Mandamentos, cai também no estereótipo.

Você não frequenta uma igreja…

Eu frequento a igreja, toda a minha família serve a Deus de alguma forma. Minha mulher trabalha com mulheres, minha família toca bateria, meu filho trabalhou no marketing por muito tempo.

Às vezes eu vou à igreja evangélica, na católica. Eu tenho laços ainda, desculpa o termo, não quero soar prepotente, eu transcendi um pouco a questão do “dogma”. Eu gosto de amar as pessoas. Eu filtro dogmas, não filtro pessoas. Eu acredito no cristianismo, porém tem interpretações que eu discordo às vezes. Esse é o dogma.

Então doutrinas como mulher não pode usar calça, homem não pode usar bermuda…

Isso, exatamente. Eu não comungo das mesmas ideias. Jesus não perguntou se o cara era rico, pobre, feio, gordo, magro, opção sexual [sic].  Eu procuro pautar a minha vida nesse principio.

Em Apocalipse, Henrique Peixoto, sua personagem é o oposto do que você apresenta no seu dia a dia. Ele deixou a igreja, é corrupto e mantém um caso com uma colega de trabalho. Entre os atos de Henrique está desvios de verbas e o superfaturamento de remédios, algo bem comum na rede pública.

São os ossos do ofício. Quem não te conhece não faz ideia… Você não representa nada daquilo. Quem sabe um dia eu faço um personagem que desce a escada, toma café, passa a manteiga no pão… (risos). O que eu mais gosto de fazer é comédia.

Como foi a sua linha de pesquisa para compor o Henrique Peixoto? 

A corrupção é uma falha de caráter. Você liga [sic] o Google e toda hora tem um escândalo. Eu procurei ver o amigo do Sergio Cabral, [ex-governador do Rio de Janeiro preso pela Lava Jato e outras investigações] o ex-secretário de saúde Sergio Cortez [acusado de desviar mais de R$300 milhões em verbas públicas]. Foi uma surpresa pra todo mundo… De onde vem essa volúpia. Já ganham bem…Tem uma condição boa…

Ele já devolveu R$14 milhões…

Mas quem devolve R$14 milhões não tem R$15 milhões, né? Tem mais de 40 milhões… Ele devolveu um troco. Essas delações premiam o crime. O cara paga pra ser solto. O cara roubou 200, paga 100, fica com cem. O crime compensou.

Como tem sido a repercussão junto ao público? Eu acho que a novela é entretenimento, mas pode também passar uma mensagem: a luta entre o bem e o mal, o crime não compensa… Como analisa isso?

Quem é o público? Muita gente do outro lado da tela faria a mesma coisa ou até pior.

Mas você não acha que os pais podem explicar para os seus filhos: ‘olha meu filho, o médico é corrupto, não faça isso’?

Não, sinceramente não. O nosso retrato é muito ruim. A gente colhe aquilo que planta. Eu acredito que não. Nosso país, segundo o senso, tem 86% de cristãos. Ou Deus está morto, ou 86% das pessoas não têm caráter. Daria menos de uma pessoa pra evangelizar.

Não é conflitante isso. Onde está a questão aí?

Caráter. Tanta gente que tem um berço maravilhoso e se perde no tempo. As pessoas não se conhecem, o que você vai ganhar fazendo isso? [atos de corrupção]. As pessoas se esquecem que elas possuem uma missão aqui [na Terra].

A maioria dos evangélicos, em sua maioria em relação aos católicos, não está mais preocupada em ir para o céu, buscar a salvação, em vez de viver na Terra e a Terra?

Esse conceito de céu um tanto deturpado. A relação só fica boa quando fica boa pra todo mundo. As pessoas estão muito individualistas. Estamos ligados, entrelaçados. É beber o veneno esperando que o outro morra. (risos).

A trama vem sendo modificada por conta do ibope. O seu núcleo passou por mudanças?  

Não, cara. A gente também foi pego de surpresa nesta questão. Nada mudou. A gente chega, recebe o capítulo, decora e vai gravar… Tem coisas que a gente não tem como ter nenhum tipo de ingerência. A gente vai e desenvolve o nosso trabalho naturalmente.

Agora a gente foi pego de surpresa também.

Em relação a quê? No corte de capítulos?

Não. A diminuição de 60 capítulos, você fala?

É…

O corte da história. Ficou muito confusa. Todo mundo foi pego de surpresa. Isso foi notório. O Flavio Ricco deu a matéria. A narração a gente foi pego de surpresa, algumas edições, muito detalhe.

Novela é uma obra aberta, está sujeita a alterações, alguém rende mais, outro rende menos…

No mínimo incomum. Nunca tinha vivido essa experiência. A Vivian [de Oliveira, autora da novela] é muito capaz em transformar um limão em limonada.

A novela apresenta personagens que buscam a redenção, ou que passam por problemas como as drogas e aí buscam ajuda da igreja. Você acredita que o seu personagem possa passar pelo processo?

 Eu torço para que ele se humanize e retome a sua vida espiritual.

 A igreja no Brasil tem forte influência na política. Pensa em se candidatar?

Já recebi convite para vir como deputado federal, mas eu não acredito nesse modelo de negócio. Eu amo a política. Imagina você receber uma procuração para representar milhares de pessoas? É honroso isso. Mas nesse modelo é enxugar gelo. Eu até agradeci o convite e me coloquei à disposição para ajudar na cultura e no lazer caso essa frente que me convidou venha a ser exitosa. Quem passou dos 40, como eu, já está com o caráter formado. Dificilmente vai conseguir transcender. Só um milagre espiritual.

Você tem uma linha mais conservadora? De direita, de esquerda?

Eu tenho uma linha pelo que é certo. Tem ideias do grupo de esquerda que são boas, do grupo conservador que são boas, tem ideias da frente liberal que são boas… Não vou colocar de direta ou de esquerda. É um governo de valores. É como uma reunião de condomínio: a maioria prevalece. Hoje os valores estão invertidos.

Mantém algum apoio ou simpatiza com a plataforma, projetos e opiniões do deputado Jair Bolsonaro? 

Fiz faculdade com a mulher do Bolsonaro [Rogéria]. Conheço a trajetória política de todos eles. Sou amigo do Flavio Bolsonaro. Mas isso é desde que o mundo é mundo. Sou amigo do Pastor Everaldo. Sou conhecido do Feliciano. Eu já fui ligado ao PT na época em que estudava no Pedro II [escola do RJ].

Conhecer pessoas não significa que você concorde com linhas de pensamentos. A minha tendência é para o Bolsonaro. Eu acho que ele tem o principio necessário para você começar uma mudança. Que é o da honestidade, do caráter… Tem coisas que eu não concordo com a visão dele, já até falei pra ele pessoalmente.

Reportagem da Folha de São Paulo, 07/01, aponta que a família do deputado multiplicou o seu patrimônio de forma incomum. Leu a reportagem? 

Li sobre e não acredito. O Felipe Moura Brasil [colunista da Veja] escreveu a respeito. É uma atualização patrimonial. Não tem muita coisa. Tudo declarado. Uma valorização patrimonial. Eu conheço a família. O Flavio tem uma franquia de chocolates. O que estão tentando fazer é colocar na balança tudo o que é de corrupção da esquerda, da direita, do PT, do FHC, do Aécio… fica até feio. Eu refuto completamente essas acusações. É vergonhoso.

Você tem outras linhas de pensamento, esse Deus que não faz acepção de pessoas, orientação sexual, e o Bolsonaro também. No caso a orientação sexual…

Rapaz… Isso é um assunto que eu nem discuto. Eu não consigo ver um homossexual indiferente.

Então nesse sentido as suas ideias com as do Bolsonaro dão choque?

Eu não vejo o Bolsonaro como homofóbico. Isso é uma intriga que tentam colocar uma pessoa como homofóbica. Eu concordo que ele tenha declarações infelizes. E se fosse eu falaria. Tem uma youtuber, Karol Eller, prima da cantora Cássia Eller, que apoia ele, vai voltar nele. Ela é homossexual. Ela é promoter e mora nos EUA. Se tornou amiga do Jair. Ela é o maior exemplo para entender se ele é homofóbico ou não.

A corrente do Bolsonaro é igualzinha a do Trump. Querem assassinar a reputação do cara. Quanto mais batem no cara, mais cresce. O que ele fez com a Maria do Rosário, eu não faria aquilo, apesar de que no vídeo ela o chamou de estuprador.

Mas no Brasil a gente vem com uma cultura do abuso e do estupro que é muito grande. Ele não poderia defender as ideias dele sem ofender?

Sim. Imagina ele com o “discurso” do Lula? (risos). Mas ele tem melhorado muito. Ele é um cara que veio de cultura militar. Dar o voto de confiança me soa muito mais democrático do que dar a outro que já arruinou o Brasil.

Durante uma entrevista à Mariana Godoy, ele disse que durante a ditadura militar o Brasil não sofria problemas econômicos, o que foi desmentido pela jornalista. Você acha que depois disso ele está estudando mais?

Ele tá estudando. Existe uma implicância muito grande com ele. O Lula é um analfabeto. Ninguém falou de tripé macroeconômico com ele. Qualquer coisa que ele fale fora vão querer pegar no pé dele.

https://www.youtube.com/watch?v=m3GePxM2s3c

Mas o fato do Lula ter participado de muitas campanhas, inúmeras reuniões com autoridades e especialistas nacionais e internacionais, ser ativista desde os tempos da ditadura não contribui para que ele tenha essa experiência?

O Lula de hoje sim, mas no livro [“Assassinato de reputações: um crime de Estado”, de autoria de Tuma Junior,] mostra que ele era um agente disfarçado do Dops. Oito anos em uma gestão você sai tarimbado. Jair é muito inteligente. Ele tem um potencial muito bom para o país.

Você vai fazer campanha nas redes sociais e nas ruas?

Ainda é cedo, mas se ele precisar vou sim.

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