Após cobrir incêndio na Boate Kiss, âncora do SBT sofreu de estresse pós-traumático

Publicado em 03/01/2017

Desde meados de setembro, o SBT exibe um jornal nas madrugadas que vem incomodando as suas principais concorrentes. Idealizado por Silvio Santos, o SBT Notícias garante não só a vice-liderança contra a Record, mas vez ou outra passa a Globo.

Exibido logo após o The Noite e ao vivo, o jornal até então contava com a apresentação de Marcelo Torres, João Fernandes e Cassius Zeilmann. Após uma reformulação no departamento de jornalismo, outros apresentadores passaram a fazer parte do noticiário, como os experientes Hermano Henning, Analice Nicolau, Joyce Ribeiro, Karyn Bravo, Patricia Rocha e o novato Dudu Camargo.

Em entrevista exclusiva ao Observatório da Televisão, um dos primeiros apresentadores do jornal, Cassius Zielmann, revela curiosidades sobre a sua rotina à frente do jornal e coberturas marcantes que já realizou,  como o incêndio na Boate Kiss em 2014: “Sofri de estresse pós-traumático. Fiz terapia intensiva por 15 dias. Hoje eu falo abertamente, mas durante um bom tempo esse assunto era proibido dentro minha casa”, revela o apresentador do SBT.

Cassius já morou no Canadá e conquistou um prêmio da Associação Riograndense de Imprensa por conta de um reportagem sobre esportes.

Cassius esta à frente do SBT Notícias ReproduçãoSBT

Confira:

Como foi mudar de Porto Alegre para São Paulo? 

Foi uma mudança bastante tranquila. Há muito tempo eu desejava vir para São Paulo, então isso ajudou na adaptação. Cheguei há quatro meses e já me sinto em casa. Além disso, fui muito bem recebido pelos colegas de TV e tive a oportunidade de reencontrar amigos do Sul.

Sobre o Prêmio ARI de Jornalismo (Associação Riograndense de Imprensa): Como e por qual trabalho conquistou o título? Como recebeu a notícia? 

Podemos dizer que foi um pouco engraçado. Lá em Porto Alegre eu era repórter da editoria geral, então fazia um pouco de tudo. Um dia cobri o Mundial de Atletismo Master, competição que foi realizada na capital gaúcha. O editor da reportagem inscreveu a matéria no prêmio na categoria esporte. A parte engraçada é que eu vi o nome dos finalistas apenas na categoria “reportagem geral” e liguei para alguns amigos parabenizando-os. Estava muito feliz por eles, até que um amigo me ligou dando os parabéns. Aí ele me contou que estava entre os finalistas no esporte, em uma editoria que até então não havia feito muitas matérias. No final das contas, deu tudo certo e fui um dos ganhadores. Liguei para minha mãe (maior coruja do mundo) e foi aquela choradeira só pelo telefone.

A cobertura da tragédia em Santa Maria, RS, mexeu de alguma forma com você?

Hoje, eu falo abertamente. Mas durante um bom tempo esse assunto era proibido dentro de minha casa. Eu sofri de estresse pós-traumático. Durante os 21 dias que fiquei lá acompanhando a dor das famílias e os desdobramentos do caso, eu fazia papel de jornalista e também de psicólogo de algumas famílias. Elas abriam as portas das suas casas para chorar em nossos ombros. Como eu era mais jovem, eles viam seus filhos em mim. Fiquei 21 dias. Chorei 21 dias e pedia para voltar todos os dias, por que não aguentava mais sofrer. Aguentei com a ajuda da minha equipe do SBT e, com certeza, se não fosse eles eu não teria conseguido ter feito um bom trabalho.

Quando voltei a minha rotina passava noites em claro. Eu tinha flashs da tragédia e dos rostos das vítimas. Algumas histórias me marcaram e mexeram muito comigo. Em alguns casos eu tinha a mesma idade dos jovens que morreram na tragédia. Acabei me envolvendo demais e tendo um bloqueio ao ponto de não conseguir falar sobre o assunto. Fiz terapia intensiva por 15 dias. Os três primeiros dias fiquei apenas olhando para a psicóloga. Não falamos nada. Ela me deu o tempo necessário para eu decidir expor meus sentimentos e minhas angústias.

Já tinha frequentado a boate Kiss?

Nunca frequentei a boate. Ela ficava em Santa Maria, uma cidade universitária que fica longe de Porto Alegre.

Perdeu amigos ou conhecidos por conta da tragédia?

Pelo fato da distância não tinha amigos lá. Mas tenho amigos que perderam familiares e conhecidos na tragédia.

Durante o tempo que morou no Canadá, quais experiências você trouxe? O que agrega ao seu trabalho como jornalista?

A experiência de vida em outro país e língua acredito que agregam não só no dia-a-dia, mas também no meu futuro. Vivi e me relacionei com pessoas do mundo inteiro com culturas e visões de mundo diferentes. Qualquer proposta dessa enriquece um jornalista. Isso me deu mais vontade de conhecer esse mundão, me aventurar por aí contando histórias. Sem contar que voltei mais educado, compreensivo e com a sensação de valorizar ainda mais o nosso país que é incrivelmente incrível.

Quais os desafios que enfrenta ao apresentar o SBT Notícias?

Primeiro, pelo fato da responsabilidade de apresentar um telejornal nacional. Vocês têm noção que o Brasil inteiro está te assistindo? É muita responsabilidade. Segundo, é o fato de ser ao vivo por mais de três horas e meia de programa. Mais isso só me motivou ainda mais. Gosto de me sentir desafiado e pisar em terrenos que não domino para evoluir cada vez mais.

Como é o seu papel à frente do jornal?

Sou um dos apresentadores, mas também ajudamos no fechamento do jornal. Na verdade, todos trabalham bastante lá. A equipe está unida e se ajuda desde o primeiro minuto. Quando há cooperação de todos os lados, o trabalho fica mais fácil. No SBT Notícias não há vaidade. Há uma pequena família louca para crescer.

O que destaca no jornal? Qual o diferencial dele em relação aos concorrentes?

O horário por si só já é um diferencial e o fato de ser ao vivo. O retorno que estamos tendo está sendo sensacional. Bares, restaurantes, condomínios, comércios em geral, insones e outras pessoas que trocam a noite pelo dia precisam de uma opção jornalística nessa faixa de horário. Nada melhor do que começar o dia muito bem informado.

Como é o retorno do público? Se surpreendeu pelo retorno em audiência, repercussão, levando em consideração o horário?

“Bah”, pra ser bem sincero estamos mais preocupados em informar e fazer o programa do jeitinho que o povo gosta. Espero que a audiência seja o retorno do nosso trabalho. Mas nunca vamos descansar. A ideia é sempre crescer e fazer um programa a cada dia melhor. Fica aqui meu agradecimento aos meus colegas que me ajudam todos os dias.

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