Aos 76 anos, Betty Faria afirma: “A idade me trouxe a liberdade que sempre persegui”

Publicado em 01/08/2017

Longe da televisão desde o fim de Boogie Oogie em 2015, Betty Faria acaba de entrar na novela das 21h, A Força do Querer dando vida à Elvira, esposa de Garcia (Othon Bastos). A veterana que está no ar também como Tieta, no Canal Viva conversou com nossa reportagem, e falou sobre seus cuidados diários.

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Aos 76, você envelheceu muito bem. A que você atribui estar assim tão bem?

Meu amor, tem que fazer a cabeça, não é assim tão fácil não. Porque no budismo tem uma frase que baseei minha vida, que é: “Ninguém escapa dos quatro sofrimentos da vida: nascimento, doença, velhice e morte”. Então você tendo a consciência que vai passar por essas coisas, você tem que negociar. Ninguém fica jovem e com força o tempo todo. O corpo fica fraquinho, enche o saco, dá problema. Não só por conta da vaidade, e precisamos nos preparar para o terceiro tempo, porque não gosto de dizer “terceira idade”. As pessoas dizem que é a melhor idade, melhor idade é o cacete. É um saco, porque toda hora tem uma coisa. No último ano operei o joelho. O usei muitos anos e tive que operar. Não posso mais dançar por exemplo, então não é a boa idade, é o terceiro tempo, que tem que ser muito bem transado.

Como você se cuida para isso?

Cuido primeiro a cabeça, do psicológico e espiritual para sobreviver com dignidade. Eu sou budista há 20 anos. E depois cuido o corpo dentro das possibilidades, com alimentação, remedinho. Enfim, é um nhem nhem nhem.

E você faz algum exercício como caminhada?

Não posso por causa do joelho, faço umas coisinhas mais leves e faço fisioterapia pra ter força na perna por causa do joelho que foi operado. É uma história viu, não tem aquele “Ha ha ha, ela está maravilhosa”. Não estou.

O que você acha que tem de bom na idade?

Para mim uma liberdade louca, que eu sempre persegui. Liberdade de não virar uma velha loura por exemplo (risos). A cor do meu cabelo é natural. Você gostou? Todo dia acordo e agradeço por estar viva. Gratidão é uma palavra que está na moda, mas tenho realmente gratidão em estar viva e ter vocês aqui comigo me prestigiando. É um privilégio chegar na minha idade, podendo conversar com vocês, e dando alguma informação que preste. Sou uma sobrevivente, de ventos, tempestades e trovoadas.

Comente mais sobre esse período fora da TV.

Minha última novela foi Boogie Oogie, eu fazia a Madalena, uma vovó moderna, que dançava, que namorava. Mas naquela época eu estava tomando injeções de 15 em 15 dias para aguentar. Eu saí da novela e fui fazer uma peça em que eu ficava 1 hora e meia de sapato alto aí meu joelho acabou de estourar. Depois disso falei: “vou tirar meu ano sabático” (risos), e agora estou aqui, lindinha andando, de salto baixo, porque sapato de cachorra não posso mais, mas como eu gosto de salto de cachorra (risos).

Você acha que existe uma cultura da mulher só ser aceita quando jovem?

A tendência da mulher é ser discriminada por causa da idade. O negócio é dar uma banana pra esses putos e não permitir que isso aconteça. Até na ficção, os homens mais velhos ficam barrigudos, papudos, horrorosos e comendo as garotinhas e está tudo normal. Nosso atual presidente tem uma mulher jovem e loira. Imagina se fosse o contrário? Coitada da Dilma se tivesse com um homem mais jovem. Iam dizer que todo o fracasso do Brasil aconteceu porque ela dava pra ele (risos).

Você acha que a mulher quando chega numa certa idade é jogada para escanteio na televisão?

Existem autores que ainda pensam nos velhinhos, senão a gente fica fazendo participação especial numa boa, mas a gente quer trabalhar e exercer a profissão. Infelizmente isso acontece no mundo inteiro e não só no Brasil.

O que você achou da situação do Mario Gomes, que está vendendo hambúrguer na praia?

Ele tem direito, está se divertindo e está gostando. Ele tem a liberdade de fazer o que quer. Ele era um símbolo sexual na década de 80 mas ninguém com 60 anos é símbolo sexual mais. Eu sou ajeitadinha, ele pode ser jeitoso, mas isso já foi. Acho ótimo ele vender hambúrguer. Tem pessoas que têm uma vocação eterna, e tem pessoas que se cansam disso aqui.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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