Entrevista

Aline Dias explica como se preparou para Salve-se Quem Puder: “Procuro não mexer em nenhuma dor minha”

Atriz revela que conversou com amigos ansiosos

Publicado em 13/02/2020

A atriz Aline Dias encara um personagem de destaque em Salve-se Quem Puder. Ela é a Úrsula, uma antagonista que promete fazer loucuras para ficar com o galã Téo (Felipe Simas), e atrapalhar a mocinha Luna/Fiona (Juliana Paiva). Além disso, a personagem sofre transtorno de ansiedade, o que a deixa ainda mais intensa nas ações contra os pombinhos.

Em entrevista ao Observatório da TV, Aline Dias contou como foi o processo de composição do personagem e quais os aprendizados que obteve. A atriz fala ainda sobre a vida pessoal e como fazer terapia foi importante para encontrar o equilíbrio. Confira.

Primeiro, eu quero que você fale para a gente. Salve-se Quem Puder: você já esteve em uma situação bem difícil?

Pois é. Salve-se Quem Puder. Quem nunca esteve em uma situação difícil? Mas é uma novela que mostra várias situações difíceis de você sair. É a história de três meninas que são testemunhas de um crime. E dá essa reviravolta, aí entra o elenco inteiro, entra a trama inteira. Eu faço parte da trama da Juliana Paiva, [interpreto] a Úrsula, namorada do Téo. Uma namorada de anos, que sofre de ansiedade, muito ciumenta.

E assim, né? É bom a gente tratar de uma doença séria, uma doença do século, que atinge muita gente. Fiquei muito feliz com esse convite. A gente poder falar disso de uma forma bem delicada e bem verdadeira. Não tratar isso como uma brincadeira, porque quando você não tem tratamento, você não é diagnosticado, você não procura uma ajuda médica, você fica perdida, você não sabe o que você tem, você perde o equilíbrio. E a história dela é muito interessante, porque ela já foi internada várias vezes.

Téo (Felipe Simas) e Úrsula (Aline Dias) em Salve-se Quem Puder
Téo Felipe Simas e Úrsula Aline Dias em Salve se Quem Puder GloboEstavam Avellar

Desequilíbrio

E ela se vê numa recaída aí de novo, com os remédios. Quando ela não toma o remédio, ela fica totalmente desequilibrada. Então, aqui que entra um pouco, abre aspas, a “vilania” da Úrsula. Ela não é uma má pessoa, mas ela é uma pessoa que precisa de ajuda, que precisa de tratamento. E ela fica totalmente cega quando a Fiona aparece na vida do Téo. Aparece, vira fisioterapeuta.

Aí vão rolar muitas coisas, ela não vai deixar barato, ela vai infernizar a vida da Fiona. Está sendo muito legal poder fazer essa personagem, tem várias nuances, que, ao mesmo tempo, ela realmente ama o Téo. Ela veio de um trauma dos pais, que os pais se separaram, cada um seguiu um caminho.

Então, ela se viu sozinha e se apegou à família do Téo, a família da Helena Santamarina, que é mãe. E é isso, quando ela se vê perdendo o namorado, perdendo o que ela mais tem de precioso na vida dela, ela realmente passa por cima, inferniza a vida da Fiona e vem fortes emoções aí. Fiona não vai ficar muito tempo dominando o espaço, não. A Úrsula vai chegar com tudo.

Vida real

Você já passou por isso? Você tem algo a ver com a personagem?

A ansiedade é muito confundida com a impaciência, né? Que não tem nada a ver uma coisa com a outra. Mas, assim, acho que todo mundo tem ansiedade. Mas quando você se vê numa situação de muita aflição, alguns sintomas de que você realmente está precisando de ajuda, aí, sim, é tratado como uma ansiedade.

Mas eu sou uma pessoa muito ansiosa, comecei a fazer terapia. Eu acho que é excelente para qualquer pessoa. Eu comecei a fazer tem oito meses, então, para controlar a ansiedade, controlar a insegurança. Eu tinha um pouco da Úrsula, em relação à insegurança tinha bastante. A ajuda médica, a ajuda profissional me ajudou muito. Eu torço para que a Úrsula tenha essa redenção no final.

Você acha que a Úrsula vai ganhar esse páreo?

Olha, eu não sei. Ali existe um sentimento verdadeiro da Úrsula com o Téo. O namoro de anos. Mas aí o público sempre torce, é complicado, né? Eu acho que a grande vitória da Úrsula, no final, vai ser ganhar o respeito do Téo. É uma coisa que vai se perder, ele não vai reconhecer. É muito difícil para a pessoa se reconhecer, é muito difícil para as pessoas reconhecerem a doença no outro, também.

Muita gente quando diz “Eu estou com depressão”, [ouve] “Ah, depressão nada, é preguiça. Ansiedade nada, é preguiça”. Então, assim, talvez precise o Téo reconhecer que ela está precisando de ajuda. Talvez só no final só dela ganhar o respeito dele, o carinho dele, como ele sempre teve e ter essa redenção de ter um tratamento, já vai ser um final muito bonito, muito feliz, que assim eu espero. Mas, com certeza, deve ser Téo e Fiona, né?

Micaela (Sabrina Petraglia), Úrsula (Aline Dias) e Téo (Felipe Simas) em Salve-se Quem Puder
Micaela Sabrina Petraglia Úrsula Aline Dias e Téo Felipe Simas em Salve se Quem Puder ReproduçãoTV Globo

Tem alguma história prevista para ela? Você pode passar para a gente?

Não, não tem nada. Só sei que Úrsula não vai deixar esse término do namoro barato, vai atrás do amor dela. Mas o que vai rolar para frente ainda não sabemos.

Vida pessoal

Como está você, sua família, sua casa?

Ah, está tudo lindo. Coloquei meu filho no coleginho, na creche. Eu dei uma entrevista há pouco tempo que está em uma fase bem gostosa, eu estou bem mais tranquila para vir trabalhar. Quando eu fiz O Tempo Não Para, ele estava com cinco meses. Então, foi uma fase um pouco complicada, eu estava amamentando ainda.

Mas, agora, está na creche. Ele que vira para mim e fala “Tchau, mamãe”. A gente que fica ali igual uma boba, né? Mas eu estou em uma fase muito deliciosa, em que ele está explorando tudo, ele está conhecendo tudo, está falando tudo. Estamos muito felizes. Eu, meu marido e ele. É um presentão fazer essa novela, tendo essa estrutura familiar, que é muito importante. A gente está superbem.

Como foi a preparação para essa personagem?

Então, eu tenho uns amigos, um amigo muito próximo que tem ansiedade. Um já se trata com remédio, o outro sabe que tem, mas é isso. É muito difícil você encarar a realidade e procurar uma ajuda. As pessoas, às vezes, não querem se enxergar, se aceitar ou nem sabem. Eu acho que não tem que ter nenhum tipo de julgamento em relação a isso.

Eu acho que é o tempo da pessoa de procurar uma ajuda. Eu conversei com ambos, o que toma e o que não toma. Eu procurei, mas eu não procurei me aprofundar muito no assunto. É que é difícil você fazer uma coisa que você nunca passou por isso, de reação corporal, o que treme, o que te faz ficar nervosa.

Cena por cena

Então, eu vou cena por cena, eu vejo a cena anterior, como é que ela estava e, depois, como é que ela vai ficar. Antes de tomar o remédio, qual é a sensação que a pessoa tem? Antes de tomar o remédio se ela já sabe que vai ficar calma. Então, eu vou ali no meu feeling ali na hora.

Eu conversei com a minha terapeuta para entender a diferença da ansiedade para a depressão. A Úrsula também teve depressão. Tem diálogo entre o Téo e a Micaela que fala que ela teve depressão com 14, 15 anos. Então, é uma coisa que vai levando para a outra. Mas eu vou muito no que a Úrsula está sentindo. Eu procuro não mexer em nenhuma dor minha, mas eu me conecto com a Úrsula na hora e vai.

A Úrsula tem aquela coisa da mulher que ama demais?

Pode ser. É exatamente isso. Ela pegou o Téo como um pilar da vida dela. É uma pessoa que sempre foi carinhosa com ela, deu tudo que ela precisava na vida dela, uma pessoa que ficou totalmente carente de pais. E ele foi namorado, foi pai, foi mãe. Tem uma sogra incrível, que é supermãezona.

Extremismo

Pode ser, eu acho que é uma mistura de sentimentos. Quem sofre de depressão, quem sofre de ansiedade é tudo muito ao extremo. Nem ela sabe o que ela sente, talvez nem seja bom também. Talvez seja uma carência, uma dependência e, às vezes, quando a pessoa termina, quando você enxerga a situação, quando você está realmente enxergando e você vai procurar uma ajuda, talvez era isso que te prendia.

A pessoa vai embora e você se liberta daquilo. A doença está nisso, nessa dependência que ela tem pelo Téo, em toda a energia que ela joga nele, ela precisa dele, é uma responsabilidade muito grande ficar com uma pessoa assim. Então, talvez nem seja amor, pode ser outro tipo de sentimento que ela desconhece e, realmente, está afundando ela.

Quero saber se a terapia te ajudou e se teve algum motivo para você procurar.

Sim. Então, eu falei que sempre fui um pouco perfeccionista. Sempre achava que “está errado”, “está certo”, ou “poderia ter feito melhor”. Me cobro muito. Eu acho que isso é muita insegurança. Quando eu conversei com a minha terapeuta, ela me deu dados, estatísticas de que existem muitas pessoas inseguras.

Empatia

O maior motivo é insegurança, a pessoa procurar para melhorar isso tanto no relacionamento pessoal, profissional. E eu queria, realmente, lidar com situações sem perder a razão. A gente, às vezes, acaba perdendo a razão porque a gente grita, porque a gente fala alguma coisa que não era para falar, ou a gente deixa de falar.

Então, eu tenho essa dificuldade de não falar algumas coisas, de não falar “não”. Então, foram coisas que eu precisei me situar. Estar mais presente na minha vida, tanto no trabalho quanto no pessoal. O nome é cognitiva comportamental. Então, é maravilhoso porque você enxerga o outro lado da situação que você não enxergava.

E você consegue, realmente, se situar naquilo e resolver de uma forma a melhor possível. Foi para isso, foi para uma melhora como ser humano, como mulher. Ainda mais, agora, que a gente vive numa era de se empoderar como mulher. Eu acho que faltava um pouco disso em mim. É a gente chegar chegando no ambiente, ser respeitosa, mas ao mesmo tempo ter personalidade. Então, eu fui para a terapia para me situar nesse mundo que a gente está vivendo e lidar com situações diversas.

Sexto sentido

Quando a Fiona chega, ela já percebe que há alguma coisa?

É, a mulher tem o sexto sentido. Mulher sabe que ali está rolando alguma coisa. Não é diferente com a Úrsula. Ela sente que está rolando, ela fica insegura porque é outra mulher que está aparecendo na vida dele, que chegou e já se infiltrou na casa da Helena, já virou fisioterapeuta dele.

Então, ela fica, realmente, com o pé atrás. Acha muito estranha a forma como a Fiona apareceu na vida dele. Ela bota pilha direto de que tem coisa estranha. A Helena também fica um pouco mexida. Mas ela fica ali com a sogra, super best friends. Ela se apegou a essa família, tanto a cunhada, quanto a sogra.

Mas a Micaela tem uma coisa de situar a Úrsula também. A Helena é mais maleável. Mas a implicância vem com toda força da Úrsula e da Helena de saber de onde vem essa menina, de onde ela é. Por isso que ela inferniza, porque ela vai até o fim.

Papel de Úrsula

Você já se viu nesse papel de Úrsula ou Fiona na vida real?

A gente não manda no nosso coração, mas eu evitei, ao máximo, me apaixonar por pessoas comprometidas, levar isso para frente. Mas a gente não manda no nosso coração, mas traz um desconforto para gente. O problema que a gente tem que enfrentar, o término, da outra aceitar.

A gente não manda no nosso, nem no coração de ninguém. Então, assim, nunca passei por essa situação de estar no meio de um casal. Ou como a Úrsula já aconteceu, eu já estive no lugar da Úrsula, de achar que tem alguém, de implicar e ficar insegura, já aconteceu. Mas eu no lugar da Fiona, não.

Você é muito ciumenta?

Não, não possessiva. Não chega aos pés da Úrsula, pelo amor de Deus, vamos deixar isso bem claro. Não sou possessiva, mas rola um ciúme, né? Mas eu conheço o meu limite. Se eu estiver ultrapassando o limite, desrespeitando, ficar cega, não chega nesse nível, mas eu sou muito observadora.

Desconfiada

Eu sou muito desconfiada, então, qualquer coisa eu já fico, já me posiciono, já fico olhando. Agora me seguro antes de falar, primeiro observo a situação para depois falar. Eu tento resolver sempre na conversa, eu acho que é o melhor caminho, olho no olho para esclarecer o que está acontecendo. Mas rola um ciuminho, sempre rola. Se for saudável, é normal, tudo bem. Mas se ultrapassa, aí você tem que ver onde você pode melhorar para não estragar o seu relacionamento.

Como o público tem reagido?

Então, já tenho recebido umas mensagens, inclusive eu recebi de uma que toma remédio e ela falou assim “Nossa, você me encorajou a parar de tomar”. Aí eu repostei essa mensagem e eu não me atentei que ela precisa procurar uma ajuda até para parar de tomar o remédio. Porque o remédio, ele está ali para te ajudar.

Ele não está ali para te viciar ou qualquer outra coisa. As pessoas precisam desse tratamento. Então, é realmente muito perigoso você parar de tomar o remédio sem a alta do médico. Você não pode se dar alta. Então, eu me corrigi depois, fiz uns vídeos sobre a importância de você procurar uma ajuda médica, se você estive sentindo os sintomas de ansiedade.

E se ele prescrever um remédio para você tomar o remédio devido a tempo que ele passar. Eu tenho duas amigas psicólogas que acharam superimportante eu falar sobre isso. Elas me ajudaram muito, porque eu também não sou profissional para falar muito do assunto e dizer o que tem que ser feito. Mas as minhas amigas me ajudaram. E, sim, eu tenho recebido bastante mensagens. Muita gente está nessa situação. É uma responsabilidade.

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