Alice Wegmann comenta fragilidade de Dalila em Órfãos da Terra: “São as cenas que mais me tocam”

Publicado em 08/07/2019

Em Órfãos da Terra, Dalila Abdallah é uma moça arrogante e mimada. Interpretada pela talentosa Alice Wegmann, a vilã nutre uma obsessão por Jamil (Renato Góes), e tem feito de tudo para destruir o romance do rapaz com Laila (Julia Dalavia).

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Alice comentou sobre essa sede de vingança da personagem, que era prometida em casamento ao mocinho da novela. A atriz também destacou a complexidade de Dalila, uma jovem que guarda sentimentos e mágoas que a levam ter momentos de vulnerabilidade.

A atriz ainda falou sobre o reconhecido do público por seu trabalho, empoderamento e revelou se sua personagem poderá despertar empatia nos telespectadores. Confira a seguir:

A morte de Soraia

A sua personagem tinha uma ligação muito forte com a mãe Soraia (Letícia Sabatella). Como foi gravar a cena em que ela morre?

Mãe significa muito na vida da gente, acho que é a origem. Tudo surge a partir de uma mãe, então já diz muito do que somos. A Soraia foi extremamente na vida da Dalila. Apesar de ela ter essas características frias e calculistas, acho que ela tinha um afeto pela mãe. Por isso foi tão impactante a cena. A grande virada, talvez, dela começou a partir da cena em que o Aziz mata ela (Soraia). Ela (Dalila) estava muito impotente, não tinha o que fazer, chegou no momento em que ele já estava dando o tiro, praticamente. Acho que ela vai fazer muita falta para a Dalila.”

Você já se imaginou sem a sua mãe na vida real?

Com certeza não. Mas, claro, é a ordem natural da vida. Imaginamos que um dia vamos ter essa perda, mas nunca queremos que essa perda chegue tão rápido. Então vai ser sempre um susto, uma coisa que não esperamos e não queremos que aconteça. Eu espero que demore bastante. Eu tenho muito carinho por minha mãe, ela me acompanhou a vida toda, ainda é uma pessoa muito próxima a mim. Ela cuida de todos os sentidos, é uma mãezona, leoa, protetora. Me acompanhou no Projac durante mais de três anos quando eu era menor de idade. Me acompanhava na ginástica olímpica. Ela me levava para todos os lugares, sempre foi uma mãe muito presente, e ainda é muito presente. Se eu sou a pessoa que sou hoje, sem dúvidas, ela é a pessoa mais importante e responsável por tudo isso.

Personagens Soraia e Dalila em cena na novela Órfãos da Terra
Personagens Soraia e Dalila em cena na novela Órfãos da Terra Foto Reprodução TV Globo

A vulnerabilidade de Dalila

Como foi o retorno do público sobre essa cena?

Foi muito surpreendente porque eu gostei de ver o quanto a Dalila é uma personagem complexa. Eu já tinha isso na minha cabeça, mas eu não sabia a dimensão. Conseguindo ter esse retorno do público, eu fui conseguindo entender as camadas ainda mais dessa menina. Ela não é uma vilã superficial, que só faz maldade por fazer maldade. Ela tem muito mais para contar. Ela tem as dores dela, as fragilidades, e isso é o mais bonito. Essas são as cenas que eu mais gosto de fazer. As cenas em que ela fica sentida por alguma coisa, em que ela sente realmente a paixão pelo Jamil, a perda dos pais. As questões que deixam ela fora da zona de conforto, não se sentindo tão poderosa. Acho que são essas as cenas que mais me tocam em algum lugar.”

Apesar da vilania e dos momentos de fraqueza, a Dalila é uma mulher empoderada?

O empoderamento está na fragilidade também, você se reconhecer frágil. Eu acho bonito esse milésimo de segundo em que ela se reconhece frágil, e depois ela se refaz, digamos assim.”

Ela não é uma vilã superficial”

Você falou dos momentos de vulnerabilidade da Dalila. Você sabe reconhecer as suas próprias fragilidades?

Tenho muita, e tenho me culpado cada vez menos por isso. Acho que antes eu queria me provar cada vez mais, ser forte cada vez mais. Hoje em dia, eu tenho momentos em que falo: ‘nossa, que dia esquisito’. Tudo bem chegar em casa e querer ficar um pouco sozinha, reconhecendo o que aconteceu, o que eu posso melhorar, os meus erros. Estamos nesse momento também de se entender. Eu acho que é um todo, não só sair apontando o dedo para todo mundo. Mas entender o que estamos fazendo e como podemos ser melhores e não se culpar tanto pelas coisas que fazemos. Eu me culpei muito na vida. Acho que eu, comigo mesma, estou num momento mais leve.

Sentimentos da personagem

A Dalila pode despertar a empatia do público ao longo da novela?

Como ela tem os momentos de fragilidade, eu acho que as pessoas podem falar às vezes aquele ‘ah’ mais três pontinhos. Porque realmente é muito complexo, tem muita coisa.”

As maldades da personagem são motivadas por esses traumas que ela tem na vida ou por prazer?

Eu acho que é uma construção, não é uma coisa só. Acho que ela tem muita. Vem da ganância do pai, vem dela ter a responsabilidade que o pai passou para ela. Ela foi criada muito mimada e foi projetada para ser o que ela é. Ela guardou muita mágoa, rancor, tem essa obsessão pelo Jamil. Foram muitos sentimentos que foram conduzindo ela para isso.”

Jamil (Renato Góes) e Dalila (Alice Wegmann) em Órfãos da Terra
Jamil Renato Góes e Dalila Alice Wegmann em Órfãos da Terra Divulgação TV Globo

Reconhecimento do público

Sua interpretação em Órfãos da Terra está sendo muito bem elogiada. Você acredita que essa trama está te colocando em um patamar superior como atriz?

Eu acho que foi uma grande oportunidade. Estamos num momento da dramaturgia aqui no Brasil em que estamos conseguindo explorar muita coisa. Essa novela abre espaço para isso e tem muita coisa nascendo por aí. É engraçado porque eu acho que é um momento do país em que está tudo tão conturbado, e a arte nasce a partir disso também. Tem um brilho nos trabalhos. Não sei explicar isso, colocar isso na frase especificamente. Então eu acho que não seja nem pelo o meu trabalho. É uma história muito potente, é uma personagem muito potente. Eu me sinto cada vez mais envolvida com o meio artístico, com a interpretação, com a atuação, com o fato de querer contar histórias sobre pessoas. Isso tem me interessado cada vez mais. Acho que me aventurar nisso está sendo muito emocionante.”

Tema central da novela

Antes da novela, você já tinha interesse nesse tema de refugiados? Você já buscava informações sobre o assunto?

Claro, com certeza! Foi uma coisa que sempre me tocou. E quando eu soube que iam fazer uma novela sobre isso, eu fiquei muito mexida e impactada. Quando me chamaram para fazer foi ainda mais especial.”

Muitas novelas geram comoção no público logo nos primeiros capítulos, como é o caso de Órfãos da Terra. É responsabilidade dos atores manter esse nível de aprovação no decorrer da trama?

Eu acho que a responsabilidade é sempre muito grande. Botar e manter uma novela no ar é sempre muito difícil e um desafio. Quando você começa uma novela e ela não vai muito bem de audiência, você faz de tudo para ela crescer. Não é porque ela começou boa que tem o desafio de continuar boa. Se ela começou com uma audiência não tão boa, temos o desafio de fazer crescer. Então é tudo muito relativo.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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