“A Rosa inspira justiça social”, diz Letícia Colin sobre personagem em Segundo Sol

Publicado em 28/07/2018

Letícia Colin está vivendo um dos melhores momentos de sua carreira. Sua personagem Rosa, em Segundo Sol roubou a cena e se transformou na queridinha do público. Seus embates com Laureta (Adriana Esteves), logo transformam suas cenas numas das mais comentadas nas redes sociais.

Em conversa com o Observatório da Televisão, a atriz falou que não consegue sentir toda a dimensão da personagem, mas que Rosa está fazendo-a refletir sobre diversas questões, inclusive sobre a prostituição como profissão. Confira:

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Como está sendo a novela para você?

Eu adoro ver a novela. Não é porque eu faço, mas fico envolvida com cada trama, com cada virada. A novela tem muito gancho, é muito dinâmica. Não dá para perder um dia senão você perde o que aconteceu, a gente se envolve com a novela. Estou muito instigada com todas as tramas.

Você entrou no sotaque português em Novo Mundo, e agora no baianês total em Segundo Sol. Como está sendo?

O melhor elogio é quando a galera da Bahia mesmo fala que o sotaque está convencendo. Adoro personagens desafiadoras. Sempre apontei para esse lugar. Eu quis isso para minha carreira e estou colhendo o que plantei. Não é fácil porque todo dia para mim é um desafio, uma vitória. Levar para cada cena da Rosa uma verdade. É uma personagem com muitos conflitos, que tem um drama familiar com o pai machista, tem ainda o trabalho dela que é desgastante, a dificuldade em lidar com a Laureta, e a vida amorosa atribulada. Sofro um pouco com ela. Meu objetivo é fazer essa menina feliz, porque ela tem muito problema.

Letícia Colin fala sobre triângulo amoroso de Rosa, Ícaro e Valentim

Ela gosta dos dois rapazes. Como fica essa história?

Eu não sei. Ainda bem que não sou eu quem tem que decidir (risos). Esse é um problema do autor, ainda bem que não é meu.  Eu adoro contracenar com os dois. Estou com muita sorte eu acho, Danilo (Mesquita), Roberto Bonfim, Nanda Costa, Kelzy Ecard, Adriana Esteves, fora os outros, só atores que admiro, que são referências para a mim. Já os meninos da minha geração, a gente se joga muito, conversa muito e a troca é muito legal.

Representando uma garota de programa, você tem recebido mensagens sobre?

Diretamente não. Mas as pessoas falam ‘ah, conheço alguém’. Não sei se as pessoas não assumem por ser ainda um tabu, e acabam dando esse relato. Contam histórias em terceira pessoa. Mas acho que a discussão está rolando o que me deixa feliz. As pessoas estão conseguindo enxergar, pelo menos pelo que vejo na internet sinto que todos têm um respeito muito grande pela opinião dela. Ela não foi julgada pelos internautas. Eles acolheram fortemente.

Como está fazendo para manter esse corpo?

Eu estou malhando para caramba, e comendo melhor. Tenho tido mais disciplina no meu dia a dia, é uma coisa que a maturidade trouxe, agora aos 28. Sei que sou jovem, mas eu deixava essas coisas muito de lado. E sinto que quando treino e me alimento melhor, tenho mais energia para trabalhar. Me sinto mais equilibrada.

Queridinha do público

Você está sendo considerada a queridinha do público…

Para mim isso também é uma surpresa. Por mais que eu tenha uma trajetória longa, eu nem imagino o quanto posso render. O legal de ter um personagem desafiador, que te exija tanto é que a opção de fazer uma composição complexa, porque a Rosa é uma composição complexa, isso me trouxe muito problema. Foi um caminho de muito trabalho para construí-la. Então me surpreendo quando a cena traz uma carga que toca, comove, que é verdadeira. Para mim não era certo que isso iria acontecer, para mim é uma surpresa maravilhosa que vem de muito trabalho. Eu entro no estúdio todos os dias pensando ‘Caramba’.

Qual o sentimento que vem, porque você está mostrando todo o seu potencial em cena.

Eu estou trabalhando muito e vejo muito através da internet porque as pessoas comentam muito no meu Twitter e Instagram. Sempre acho que tudo pode ser uma bolha, sempre desconfio. A unanimidade é burra, então não sei. Eu já li críticas, e acho bom porque é como ‘ufa está tudo certo’. É norma opiniões diferentes. Estou muito comprometida com a personagem, e para mim o jogo não está ganho. Tenho ainda um percurso para fazer de coisas que o João escreveu que estou nervosa, porque estou nessa expectativa. Eu só vou receber isso quando a novela terminar.

Cenas quentes

Como está sendo para você fazer as cenas quentes, como aconteceram entre Rosa e Ícaro?

É uma história de amor, e romance. A Rosa me ensina muito a pensar sobre a sexualidade de maneira mais saudável, com menos preconceito, menos hipocrisia. Tudo quando vai para esse lugar mais natural, é orgânico. Rosa e Ícaro são um casal jovem, com uma química louca. O espectador merece que a gente conte essa história de um jeito verdadeiro e não tem nada de errado nisso. São novos tempos. A interpretação vem vindo para um caminho mais realista. Estamos aprendendo muito com a linguagem das séries, e do cinema.  Acho que as cenas de amor vêm nesse pacote e ajudam a contar a história. Tenho um canal muito aberto com o Chay (Suede). Somos amigos.

Quem ela ama mais? Ícaro ou Valentim?

Acho que ela ama os dois. O personagem do Chay entrou numa onda um pouco opressora, machista, e vamos falar sobre isso. É uma novela que combate o machismo pra caramba. Essa personagem da Rosa, ela é feminista, prostituta, que quer dignidade como uma pessoa que merece respeito.

Em uma das cenas, o Acácio disse que a prostituição é uma profissão como outra qualquer. O que você pensa sobre?

Temos que pensar sobre isso mesmo. Por que não? A prostituição é uma profissão. Eu hoje penso assim, e não acho que seja pior, melhor, mais difícil ou mais fácil que qualquer outra. Não existe profissão fácil. A gente padroniza as coisas e joga tudo no mesmo pacote, mas claro que cada profissão tem sua peculiaridade.

Prostituição

Você acha que cabe à mulher escolher então?

Acho que é mais complexo que isso. Há casos e casos. A prostituição de luxo é um lugar onde as pessoas que desejam ascender financeiramente mais rápido encontram um caminho. E acho que isso tem que ser uma escolha pessoal. Claro que existe a prostituição que vem da miséria, que vem da tragédia humana e situação socioeconômica do país, que é falta de criação de valor humano. Isso eu acho que não pode existir. Que é quando a mulher acha que só pode se prostituir porque ela não teve uma formação estrutural, familiar, até um cuidado do governo com programas de capacitação. Quando ela acha que não tem valor e por isso o corpo dela é seu único valor, e ela é assim, subjugada, não está certo.

É mais complexo que isso. Várias pessoas que pesquisei, são pessoas estudadas, que fazem faculdade, e tem uma liberdade tão grande com o corpo que entendem que podem ganhar dinheiro com isso, e isso não as desmerecem porque não estão presas nesse sistema. A Rosa fica neste meio. Ela tem um lance de autoestima que não foi bem construída ao longo da vida porque em casa ela sempre escutou que não valia nada. E isso gera na mulher aquela coisa de ‘eu não valho nada, então posso fazer isso’.

Essa é uma das possibilidades, mas existem mulheres super fortes, que eu invejo, que tem uma formação tão interessante da psique, que elas podem entrar numa profissão como essa e saírem saudáveis. Acho que é uma profissão que imagino eu que é muito difícil dia a dia estruturalmente. Como fica o seu emocional? Temos que ouvir essas pessoas não as marginalizas por essas escolhas.

Glamourização da prostituição através da novela

Você não tem um receio dessa profissão ganhar um certo glamour pela história da Rosa? Porque ela é um pouco heroína.

Eu acho sempre sensacional fazer personagens que inspiram liberdade. As pessoas fazem as próprias escolhas. Já foi o tempo que você batia num vilão de guarda-chuva porque achava que aquilo era real. A Rosa inspira justiça social, ela quer ser feliz, e viver a vida dela. E outra, ela está sofrendo também, pois se vê que não é um mar de rosas o que ela vive.

Você disse que para viver a personagem, conversou com algumas garotas. Você chegou a ver alguém ao vivo?

Sim. Eu tenho contato com uma pessoa que trabalha como garota de programa de luxo. Ela me tirou muitas dúvidas, foi muito generosa. Eu achei que era necessário ouvir esse lado porque falta a gente ouvir o lado dessas mulheres ao invés de julgar.

Eu entrevistei uma ex-prostituta que vive num asilo, e vocês atores acabam sendo companhia para essas pessoas mais velhas. Como o lado ruim da profissão vai ser mostrado?

Está tudo sendo construído ainda. A gente não sabe a trajetória, e a Rosa ainda vai passar por muita coisa. A Rosa é muito jovem, e não há ali a projeção de um mundo perfeito. Ela vai descobrir isso da maneira dela, e passando pelo lugar que ela escolheu que é a prostituição. Uma mulher que sai da juventude, da infância, da casa dos pais e vai para o mundo, existe uma frustração. Ela vai amadurecer.

Papéis de mulheres fortes nas novelas atuais

Sabemos que você troca muito com seu namorado, que também é ator, o Michel. O que ele está achando da Rosa?

Ah, ele me dá muita força. Passamos o texto juntos, me ajuda a decorar, e assistimos muito a novela juntos. Às vezes assisto alguma cena achando que podia ter feito melhor, e ele sempre me acolhe dizendo que fiz meu melhor.

Em todas as novelas estamos vendo os papéis femininos muito fortes. Você acha que você vai por esse caminho?

Estou aprendendo a ser, a me descobrir. Estou nessa fase mais adulta da minha vida, me formando como mulher, e o encontro com a Rosa, tem me formado também. Sei que vou sair uma mulher mais forte e melhor, por ter acolhido essa personagem na minha vida. Esse momento é irreversível. Cada vez mais personagens com protagonismo feminino, de mulheres incríveis que possamos nos orgulhar.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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