Éramos Seis

“Impactante demais”, diz Ricardo Pereira sobre amor de Clotilde e Almeida em Éramos Seis

Ator fez bonito par com Simone Spoladore

Publicado em 04/03/2020

Com uma carreira consolidada na TV brasileira, Ricardo Pereira não deixa de se encantar com as histórias que protagoniza na tela da Rede Globo. Prestes a concluir as filmagens de Éramos Seis, ele não esconde a satisfação com o sucesso que seu personagem, Almeida, fez em sua história de amor com Clotilde (Simone Spoladore).

O Almeida vem na contramão do que eu tenho costumado fazer. É um personagem que foi construído muito óbvio: ele não existe sem o grande amor dele, a Clotilde. Por isso a Simone, que a interpreta, teve muita importância na construção do Almeida“, analisa.

Confira a entrevista completa com o astro português favorito das telespectadoras ‘brazucas’.

OBSERVATÓRIO DA TV – Como tem sido para você interpretar o Almeida em Éramos Seis?

RICARDO PEREIRA – Tem sido um prazer. Ontem mesmo estava dando uma outra entrevista e falei sobre isso. O Almeida vem na contramão do que eu tenho costumado fazer. É um personagem que foi construído muito óbvio: ele não existe sem o grande amor dele, a Clotilde. Por isso a Simone [Spoladore], que a interpreta, teve muita importância na construção do Almeida. Acho que ele vive do olhar que tem pra ela, do olhar que ela tem pra ele, do silêncio, de amor, de paixão, de um olhar vibrante, um olhar com história. É um homem que carrega um ‘karma’ muito grande da época [o fato de ser desquitado]. Um personagem muito bacana de fazer, muito adulto. Deu pra a gente construir fases diferentes do personagem: a gente sente um evoluir da vida dele, um amadurecimento, uma constatação de várias questões… O que é muito bom. Foi um personagem muito ‘pra ele’, muito centrado na vida dele, na própria história, pra viver e acompanhar intensamente, já que as emoções ali eram meio fortes.

Você sofreu críticas por conta de alguma atitude do Almeida?

Eu tive medo em certo momento. Quando ele ficou com a Natália e decidiu morar com ela, com os filhos, eu achei que as pessoas pudessem não entender que ele tem um caráter, mas que tinha tentado de tudo com o amor da vida dele [Clotilde] e… [não deu certo.] Eu realmente fiquei pensando: ‘o que será que as pessoas vão achar? Será que vão entender que chegou um momento da história em que ele tinha que optar ou pelos filhos ou pelo grande amor – e, na verdade, ele optou pelos filhos porque esse amor não estava tão certo?’ Eu achei que o público ia dizer assim: ‘meu, esse cara agora tinha tudo, por que ele não larga a Natália e fica com a Clotilde e com os filhos?’ Porém mais uma vez esse personagem revelou o caráter dele. Ele reconheceu que a Natália ajudou muito pra ter os filhos em casa e ele não queria ser mau caráter com essa mulher – por isso, abriu mão mais uma vez do grande amor da vida dele. Só que a Natália veio a se revelar também uma pessoa impaciente, que não estava verdadeiramente encantada por esse Almeida. O fato é que o público acompanhou, torceu, não criticou o Almeida, entendeu, e acho até que duplicou a torcida pra que ele voltasse pra Clotilde. Acho que o casal ganhou muito o carinho do público do princípio ao fim da história, e a autora decidiu escrever um final com muitas cenas alegres pra eles dois.

Recentemente, houve uma cena em que o Almeida diz à Natália que não pensa mais na Clotilde. Meio cafajeste, não?

Mas era tudo mentira, né? Qualquer passagem no bondinho ele se lembrava dela… [risos] Isso é que é difícil de você defender no personagem. Porque… Isso é a vida, cara! Você pode estar com uma pessoa e o amor ter acabado, e você andar pra trás, ir atrás de alguém que te marcou no passado e nunca saiu da sua cabeça. Muita gente vai atrás desse amor. O que eu queria era que realmente esse personagem não fosse mau caráter. De fato ele foi se encantando pela Natália e estava com ela por uma questão de ética mesmo – ‘essa mulher me deu a mão quando eu mais precisei, me ajudou a voltar a ter uma família unida dentro de casa, e eu não posso largar’. É caráter isso.

Como telespectador, acredito que o encontro definitivo entre ele e a Clotilde foi quando ele assiste ao batizado do filho, em Itapetininga.

É, e ele não sabia de nada [sobre ser pai da criança]. Mas as cenas do reencontro do Almeida com a Clotilde, quando ele finalmente toma coragem pra ir encontrá-la em Itapetininga… Essa chegada à cidade e esse assistir do batizado do Chiquinho, sem saber que é filho dele, foi algo muito forte. Quando eu falo sobre o público ter torcido muito por esse casal ao longo da novela, é porque a gente recebeu muito feedback. Eu já fiz muita novela, e a torcida por esse casal é mesmo muito grande. Hoje a gente consegue medir isso. Todo o conteúdo digital envolvendo esse casal, o Twitter comentando, até mesmo o feedback que a direção nos dá… É um casal que sofreu e o público sofreu com eles, com essa impossibilidade do amor. Então quando ele chega, pega o filho, não sabe que é o filho, mas sente uma energia, sente uma magia… E ainda, como a cena é dirigida e editada, torna-a ainda mais mágica… Isso tudo dá força pro Almeida, embaralhou de novo a cabeça dele, aí a Natália vem do Rio de Janeiro pós-guerra e fala que não quer ter mais nada com ele. Aí ele fala: ‘ótimo, eu vou seguir a minha vida e você vai seguir a sua’. Esse reencontro de Itapetininga foi um prazer de fazer, tanto pra mim como pra Simone. Eu amo a Simone, ela é parceiraça! Essa novela foi uma novela sofrida pra gente, e, nesse encontro final [dos personagens], a gente colocou toda a felicidade, toda a emoção, toda a alegria de poder finalmente ficar junto. O encontro tem muito da emoção do encontro – óbvio, são pessoas que se amam e que estavam afastadas, querendo muito estar uma com a outra -, mas principalmente da emoção de quem diz: ‘agora a gente tem o direito de ser feliz’. É isso que a gente, eu e Simone, queremos na reta final da novela. A gente foi muito parceiro ao longo da novela. Trabalhou muito em parceria, muito junto, e muito de mão dada. Acho que isso deu pra ver. As pessoas me param em todos os lugares e exigem: ‘você vai ficar com a menina, hein? Não vai deixar a menina!’ [risos] O mais engraçado é que muitos desses são pessoas que você olha e pensa: ‘não é o público da novela’. Apesar que essa novela é uma pintura, né? É uma novela que não só retrata muito bem a época [os anos 30], mas dá a conhecer muita coisa. Por isso acho que ela pegou um público muito interessado em conhecer essa época.

Você acredita que Éramos Seis pega muito também o público masculino?

Pega sim! Eu acho que essa novela não tem um vilão – o vilão é a vida. E, ao abordar a vida e questões muito parecidas com as nossas vidas, embora seja em um outro tempo – as nossas dificuldades familiares, de educação, de conquista também, de você pagar um aluguel, ou ter uma casa própria, um negócio próprio. Acho que tem uma identidade que se aproxima de muita gente e de histórias do passado. Acho que essa novela te leva pra uma viagem interna da vida, e várias pessoas, de várias faixas etárias, se identificam com aqueles problemas. Essa identidade atrai o espectador, e tem muitos homens que com certeza viajam nessa ficção. Quantas pessoas deixaram grandes amores porque a vida os obrigou a ir por outro caminho? Isso é fato! Então acho que as pessoas se identificam com essa questão, com essa impossibilidade. Aqui é o desquite, mas em todo lugar você tem uma inibição por algum motivo. Essa impossibilidade do amor aproxima muitas pessoas a viverem essa história [de Almeida e Clotilde]. A gente se surpreendeu muito. A gente sabia que era uma história forte de amor, uma história sofrida, mas foi impactante demais. Eu falo isso mesmo de verdade. Depois de tantas novelas feitas, você sente o público diferente na rua. Foi uma novela que tocou de um jeito especial as pessoas. E muita gente, óbvio, me para pra tirar foto e gravar recado pra avó, pro avô… Uma galera que acompanha essa história torcendo de verdade. Isso é muito bonito.

Éramos Seis é uma história muito brasileira. Sobretudo nos arquétipos: a Lola (Glória Pires) são as nossas mães, a Genu (Kelzy Ecard) é a nossa vizinha fofoqueira… A novela te ajudou a compreender melhor o país que você escolheu pra viver? Você vê similaridades com Portugal também?

Total! No passado, Brasil e Portugal ainda eram mais parecidos, em tudo, na arquitetura… Tinha em Portugal essas vizinhas como a Genu – tinha e tem, né? [risos] Acho que essa novela, além de já ter uma legião de fãs, de já ter feito muito sucesso em outras versões, com o desenrolar dessa nova pegada, esse outro olhar, atraiu muito mais fãs.

Você já tem novos trabalhos para depois que Éramos Seis terminar?

Não, não, agora vou descansar um pouquinho… [risos] Nem vou pra Portugal, porque a criançada está na escola, e é por aqui que a gente fica. Tenho um filme agora estreando, De Perto Ela Não É Normal, da Suzana Pires. Tenho outro filme também estreando em Portugal, Um Golpe de Sorte. Tenho três projetos de cinema ainda que estou analisando, tenho teatro, tenho televisão aqui na casa já, que estamos pensando qual é o próximo passo. Mas acho que agora vamos segurar um pouquinho. Nós começamos a gravar essa novela em junho do ano passado, e eu não tinha noção de que a gente andou esse tempo todo! Foram muitos meses, e eu gosto sempre de, quando acabo um trabalho, me desligar um pouquinho, dormir bem, voltar a ler os meus livros. Estou lendo algumas peças de teatro, já estou vendo, no quesito de atuação e de apresentação, qual deve ser o meu próximo passo, o desafio mais interessante, e a seu tempo todos saberão.

Você disse que temia o feedback do público depois que o Almeida traiu a Natália com a Clotilde. O que você esperava que o público te falasse? E o que o público realmente te falou?

Quando eu transei com a Clotilde, falaram: ‘opaaaaa! Isso aí!’ [risos] Porque estavam torcendo muito por esse momento. Era um homem e uma mulher em ebulição, gente! Ele não queria jamais ser aquela pessoa de usar a Clotilde, de viver só essa emoção. Teve uma cena linda, dentro da loja, pra mim uma das mais bonitas da novela, em que eles quase transam e o Almeida fala: ‘não posso’. Aí depois, na casa da Lola, eles de fato transaram e foi a grande virada. Mas o público estava tão do lado deles que falou: ‘cara, vão ser felizes!’ Agora, até quando ele iria sustentar essa questão com a Natália? Ele foi aguentando mais pelos filhos. Aí ela fala que foi mais feliz no Rio de Janeiro com o Elias (Brenno Leone), que foi pra cama com ele… E eu pensei: ‘não posso ser escroto’. Não é só defendendo o personagem, mas acho que, pelo caráter que demonstrou ao longo da novela, ele jamais iria condená-la. Ele só diz: ‘bom, sendo assim, você vai seguir sua vida e eu, óbvio, vou seguir a minha’. Ao longo da novela, os personagens cresceram. Não é só a época que foi mudando, dos anos 30 pros 40. O estilo do diálogo, o estilo da fala, o respirar, as pausas foram sendo encontradas – sempre com a ajuda do Antônio Carnevale, um preparador de elenco maravilhoso, que faz um trabalho incrível nessa novela. Ele acompanhou todo o elenco pra fazer um trabalho detalhado. A gente sentiu o envelhecimento nos detalhes.

Geralmente, os casais que mais conquistam as redes sociais nas novelas são os mais jovens. Mas em Éramos Seis foi o contrário: ‘Clomeida’ e ‘Lolonso’ – isto é, Lola e Afonso (Cássio Gabus Mendes) – bombaram no Twitter! Como você vê isso?

Acho que as duas histórias de amor eram muito bonitas. A da Lola e do Afonso também, além de que são dois atores que… Sem palavras pra eles. Maravilhosos, com um timing, uma delicadeza na atuação… Algo muito bonito de se ver. Acho que são duas histórias reais, verdadeiras, sofridas. A Lola é uma mulher de pulso, cuidando da família, sofrendo pra caraca… E o Afonso é um homem dum altruísmo, duma vontade de ajudar, de amparar aquela mulher. E ela, coitada, levando porrada a toda hora! Todas as circunstâncias da vida acontecendo naquela família. Acho que essas histórias dão um afeto no público, né? Têm uma proximidade com o público – e também vividas muito intensamente. E, modéstia à parte, a gente se jogou de cara, loucamente nesses papéis, e trabalhando sempre com muita parceria. Essas duplas [‘Clomeida’ e ‘Lolonso’] foram muito intensas, muito profundas. E às vezes não diziam muito – era muito olho. O olho desses quatro estava muito preenchido. E acho que isso foi muito bom. Inclusive, sinto que o personagem faz eu próprio me sentir um pouco sofrido. Lembro que, em Deus Salve o Rei, fazendo o Virgílio, eu às vezes tinha um olhar que não era meu – um olhar de maldade, uma coisa meio estranha. E no meu dia a dia hoje sinto algo parecido. Chego em casa e me sinto exausto – mas é um sentimento interior, é ‘sofrência’ mesmo!

Como o Almeida vai reagir quando descobrir que o Chiquinho é filho dele?

Essa cena do filho vai ser muito bonita. E mais bonito ainda é o papo que eu vou ter com o Zeca (Eduardo Sterblitch). Quando ele descobre que o filho é dele, é um momento muito emocionante. É um momento delicado, e um momento difícil também, porque a família pra quem a Clotilde deu o filho – o irmão e a cunhada dela – vai ter que abrir mão dele. Tem uma cena com o Zeca que é bem bacana, dois homens se colocando em um lugar bem diferente, sabe? Com um agradecimento muito especial, sem a dureza do homem, que, principalmente nessa época, era mais reservado, mais bruto nas suas emoções. E eles estarão ali sem escudo, falando um com o outro, sentados no alpendre. É uma cena muito delicada, muito bonita.

Como a sua família têm reagido à novela?

Ah, lá em Portugal todo mundo adora! Também passa pela Globo de lá, e eles falam muito sobre ela. É o mesmo respaldo e feedback que a gente tem por aqui, de que é uma novela muito bonita de se ver. Tem muito português conhecendo essa realidade [retratada em Éramos Seis], essas cidades aqui do Brasil se formando, o período da guerra, da revolução… Tem uma parte histórica muito didática que eu acho que, pro público de Portugal, é muito interessante pra ver e conhecer. Já com os meus filhos, é hilário! Ontem eu estava vendo um capítulo em que eu aparecia tendo um papo com os meus filhos; o Vicente se aproximou e eu falei: ‘olha aqui os meus filhos’. E ele reagiu indignado, como quem diz: ‘O que é isso?! Filho sou eu!’ [risos] Mas ele adora ver a novela. A mais nova não sabe bem o que eu estou fazendo na televisão, mas o Vicente é engraçado, fica sempre perguntando a respeito. Ele, que tem 8 anos, e o outro de 6 se interessam muito pelo desenrolar da história, eu fico justificando e contando pra eles. Eles perguntam como o pai se chama nessa novela ou nesse filme.

(entrevista realizada pelo jornalista André Romano)

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