Novela das 21h

“Para alguns pode ser considerada uma vilã”, declara Camila Márdila sobre a Amanda de Amor de Mãe

A famosa comentou sobre sua estreia em folhetins da Globo

Publicado em 03/12/2019

No ar como a Amanda de Amor de Mãe, trama das 21h de Manuela Dias que é dirigida por José Luiz Villamarim, Camila Márdila conversou com o Observatório da Televisão sobre a sua estreia nos folhetins e a caminhada até conseguir a oportunidade.

Como é para você fazer parte de Amor de Mãe?

Essa novela tem uma grande expectativa em torno dela, principalmente por toda a equipe que reúne, um elenco primoroso, equipe que faz séries e novelas incríveis na Rede Globo. O tema acho particularmente muito afetivo, fico muito feliz que a minha novela tenha o tema da maternidade. Minha primeira novela na TV. Muito do que eu conquistei na vida eu devo muito a minha mãe. Todo o apoio que ela me deu quando eu comecei com essa loucura de querer ser atriz. Desde os meus 11 anos de idade.

Dedica essa novela a sua mãe?

Certamente. Minha mãe está muito feliz e orgulhosa. Ela faz muito parte disso. A novela consegue demonstrar de maneira muito ampla diversos afetos, situações e identificações familiares que a gente pode ter com a nossa mãe, com quem nos criou, quem a gente identifica como laço familiar mais íntimo.

Como é a sua personagem, a Amanda?

A Amanda é uma jovem destemida, corajosa, tem uma vingança a ser realizada na história. A princípio, é uma personagem muito misteriosa. Por um laço familiar, ela guarda um rancor que vai conduzir as ações dela dentro da novela e as relações. Ao mesmo tempo, ela é ligada ao ativismo ecológico, que é um grupo que ela acaba se aproximando, e é muito justiceira e fiel às crenças dela, no que ela acredita como certo e errado, vai trazer com muito vigor isso.

Ela chega a ser uma vilã?

Para alguns ela pode ser considerada uma vilã, mas eu acho que no contexto que a gente vive no mundo, pra mim ela é muita grande heroína.

Ela tem um namorado no começo da novela.

Sim. Ela começa namorando o personagem do Chay Suede, o Danilo. Eles estão juntos há algum tempo, mas ela começa a se incomodar com uma imaturidade que talvez ele tenha e que ela coloca na conta da sogra [Lurdes, vivida por Adriana Esteves], que é muito protetora, que perde um pouco o crescimento e que ele mesmo vai percebendo. Ela traz à tona dizendo ‘olha, pra mim não dá mais esse esquema de estar namorando você e quem faz a sua comida é sua mãe, quem arruma a sua cama é sua mãe, eu acho que é preciso evoluir’. Ela é uma personagem que passou por um salto e que ela está um pouco mais avançada no mundo e com ideias mais claras, enquanto o Danilo tá um pouco tentando de descobrir.

Ela terá um outro relacionamento?

A Amanda vai encontrar umas pessoas no caminho dela. A questão dela se envolver com o grupo do ativismo ecológico vai deixar ela muito próxima do personagem do Vladimir Brichta, o Davi. Eles compartilham mesmos ideias, crenças, então eles vão estar muito juntos.

Como está sendo contracenar com esse elenco?

Absolutamente incrível. Para todo lado que eu olho é só elenco dos sonhos. Algumas pessoas eu tive oportunidade de trabalhar, inclusive no meu primeiro trabalho na TV, que foi um convite do José Luiz Villamarim e da Manuela Dias para fazer a série Justiça. Lá eu contracenei com a Adriana Esteves e estamos aqui novamente. Vários pessoas que eu admiro e que elevam as cenas para outro nível.

Você fez o filme Que Horas Ela Volta com a Regina Casé. Vocês vão contracenar juntas na novela?

Por enquanto eu e a Regina não nos cruzamos na novela. A gente está em núcleos distantes. Mas fico feliz que a história do filme seja um pouco representada na novela. Pela filha da personagem da Regina que vai para a faculdade, se forma como professora de história. Sinto quase como uma continuidade de uma conquista e que muitas meninas vão se identificar novamente com isso porque eu acho uma história muito potente e representativa do nosso país.

Como é a sua relação com seus pais?

Os meus pais são incondicionalmente pais. Eu fico muito admirada com a coragem deles em terem me apoiado tanto numa coisa que é tão fora do mundo deles. Decidi ser atriz, nem sei como exatamente, mas desde pequena eu tenho pra mim que essa é a minha vocação e a partir daí comecei a ser uma criança disciplinada nesse sentido, de descobrir os cursos de teatro que eu queria fazer, e conciliar isso com a escola.

Muitas vezes os cursos eram distantes da minha casa ou de valores que meus pais não conseguiam arcar. Eu dava um jeito, conseguia me movimentar dentro da escola, as vezes a escola pagava uma parte pra mim, minha mãe me carregava quilômetros e ficava esperando horas dentro de um carro eu fazer um curso, e ao mesmo tempo desesperados, pensando ‘como essa menina vai sobreviver, a gente não conhece ninguém, não sabemos como se aproximar desse mundo’. Não tenho ninguém da família no mundo das artes. Foi uma coisa que brotou e acho que eles foram muito corajosos e confiantes em mim. Acredito que por toda a paixão que eu demonstrava ter desde cedo.

Qual é a profissão deles?

A profissão da minha mãe é ser mãe acima de tudo. Ela teve alguns trabalhos na vida e parou de trabalhar fora de casa quando a gente nasceu. Meu pai foi bancário toda a vida e aposentou assim. São pessoas muito simples, que saíram do interior das suas cidades. Minha mãe é do Piauí e meu pai do interior de Minas Gerais. Foram tentar a vida em Brasília.

Sua mãe se parece com algumas das mães retratadas na novela?

Vejo uma mistura muito forte das personagens da Adriana Esteves e da Regina Casé. Em muitos momentos existiu uma superproteção. Ela chora muito, é emotiva, tudo que toca ela se manifesta com lágrimas. Acho parecidas e isso me emociona. Ao mesmo tempo ela tem a fibra da Lurdes. Uma mulher forte e capaz de matar e morrer pelos filhos. Ela tem essa veia nordestina muito forte.

Estrear só agora na TV foi uma opção, faltavam oportunidades ou foi o momento certo?

Acredito que foi o momento certo. A minha mãe ficava desesperada, porque quando eu era mais nova eu falava ‘eu não vou ficar correndo atrás da televisão. A televisão será uma consequência do meu trabalho’. Eu não sei se ouvia gente mais velha falar isso, mas tinha essa intuição que eu ia trabalhar muito, ralar muito. Que eu não estava num lugar privilegiado e que as coisas poderiam acontecer. Não tinha contatos, não tínhamos condições financeiras para ir para outras cidades. Eu fazia muitos testes para publicidade em Brasília e eu era negada em absolutamente todos os testes. Deixava minha mãe triste e sem conseguir entender, ela falava ‘como que você consegue levar tanto não na cara com essa idade e fala que tá tudo bem?’. Claro que não estava tudo bem, mas eu entendia que em algum lugar o meu trabalho seria valorizado quando fosse a hora.

Tiveram intervalos, eu fiz faculdade de comunicação social, fui fazer outros trabalhos pensando em me bancar como atriz. ‘Ah, vou juntar um dinheiro para ir para o Rio de Janeiro’. Quando consegui vir para o Rio, já tinha alguns contatos do teatro. Então as coisas foram acontecendo na medida que o meu crescimento foi acontecendo e da maneira como vislumbrei desde muito nova. A parte do reconhecimento do cinema, teatro, e agora fazendo a minha primeira novela com essa personagem potente.

Qual foi a primeira vez que ganhou uma boa grana com arte?

Nunca aconteceu exatamente. Tem os altos e baixos, períodos que consegue fazer algo, mas aí… Essa novela uma hora não ia acontecer, muda a data, e isso me fez ficar com uma lacuna de seis meses sem trabalhar. E antes disso eu tinha feito peça com o meu coletivo que é algo que eu mais gasto do que ganho. Mas sem dúvida [o dinheiro entrou] quando eu comecei a fazer televisão. É uma situação que eu acho que quase todos os meus amigos artistas vivem. Muitos se sustentam do cinema, mas é um perrengue grande, o teatro nem se fala, cada vez mais massacrado, e a televisão é quando a gente tem um pouco a oportunidade de pensar que pode pagar suas contas direitinho por uns meses.

Como seus pais receberam a notícia de que você ia atuar na novela?

Eles ficaram muito felizes. Minha mãe tentou abafar um pouco a felicidade para eu não achar ela coruja demais. ‘Não posso ficar feliz demais porque a Camila vai cafona, vai achar que sou muito tiete’. Mas ela é e eu acho maravilhoso. Desde que eu comecei a fazer TV na Globo, eu fiz todos os projetos do Villamarim e alguns outros. Então todos os anos eu fui fazendo algum projeto e foi dando uma calmaria nos meus pais, que em Brasília falavam ‘meu Deus, você tem que fazer concurso público, tem que ter um cargo público senão não vai conseguir viver’. Hoje eles entendem que não tinha nada a ver. Novela representa muito no Brasil. É um pouco uma aprovação para o resto das pessoas em volta. Meus pais foram muito julgados por bancarem essa minha loucura pela família que é grande, as pessoas em volta. Acho que eles estão se sentindo muito bem.

Como foi na época do lançamento do Que Horas Ela Volta?

Eu não esperava tanta coisa e aconteceu na estreia, num festival dos Estados Unidos, eles derem um prêmio especial para mim e para a Regina. Foi uma notícia muito de uma hora para outra, esse prêmio nem exista, fizeram pra nós. Eu não esperava, eu fui pra lá porque o meu irmão bancou a passagem. Teve a comoção, o movimento, mas ainda o cinema não tem o reconhecimento tão amplo como a televisão. Tem internamente, que aí vai pipocando oportunidades. A partir de outros trabalhos as pessoas foram entendendo que eu não sou aquela personagem, que faço outras coisas. Isso foi gerando o caminho.

A questão da mãe do Danilo, como seria ter uma mãe como ela?

Seria complicado. Eu sempre fui muito apegada, mas também independente. Mesmo sendo a filha mais nova, minha mãe conta que desde os 12 anos eu fazia mochilinha e dizia que ia embora quando desse. Não por um desapego, mas eu sempre quis ganhar o mundo. Trabalho desde mundo cedo. Não sei se conseguiria me relacionar com alguém como o Danilo.

Como está sendo fazer a primeira novela?

Estou sentindo. Bastante na expectativa. Seguir fazendo um trabalho enquanto ele está no ar, essa experiência eu nunca tive. Essa coisa de estar trabalhando, lidar com a recepção do público e o dia a dia da rotina do trabalho tão intenso quanto da novela, isso nunca tive.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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