Bom Sucesso

“A escolha é dela e também do público”, diz David Junior sobre com quem Paloma deve ficar no final da novela

Ator fala ainda sobre seu personagem em Sessão Terapia

Publicado em 05/09/2019

Emplacando mais um trabalho na TV, o ator David Junior brilha em Bom Sucesso, trama de Rosane Svartman e Paulo Halm, como o jogador de basquete Ramon, homem apaixonado por Paloma (Grazi Massafera) e que luta para reconquistar o coração da costureira.

Em um bate-papo com o Observatório da Televisão, o ator falou sobre a torcida para com quem Paloma deve ficar no final da trama, o desejo da paternidade, comentou sobre o preconceito racial no Brasil e contou detalhes sobre seu personagem em Sessão Terapia, série da plataforma de streaming, Globoplay.

Ramon em Bom Sucesso

Como você está vendo esse sucesso todo de Bom Sucesso, e como está sendo para você interpretar o Ramon?

Estou vendo pelo Globoplay (risos), porque a gente fica aqui dentro o dia inteiro, mas tenho visto que a novela é mesmo um sucesso, que fala de humanidade, que fala de gente, que não tem essa coisa de competição de quem é melhor ou pior. Apresentamos nossas fragilidades, incertezas, defeitos, qualidade e o público sente, e aprova. Nas ruas vejo uma galera querendo falar sobre e saber como vai ser, tem muita gente torcendo e isso é muito positivo para a gente que faz o personagem. É a primeira vez que faço um personagem periférico, venho de Nova Iguaçu então para mim tem sido muito gratificante fazer um personagem que eu posso sentar na calçada e tacar uma pedrinha no chão, voltar a fazer coisas que eu fazia quando morava em Nova Iguaçu, poder ver o vizinho e saber que esse cara me conhece desde pequeno, essas coisas assim que quando a gente passar a morar em prédio, perdemos a referência, e proximidade que no suburbio tem muito. Bom Sucesso apresenta isso, essa relação de pessoas.

Com quem Paloma vai ficar…

Eu faço parte daquela galera que pergunta, Ramon ou Marcos com Paloma? Como vai ser?

Não vejo como competição. Acho que a Paloma vive uma relação complexa porque um personagem vive a realidade da vida, pé no chão, o outro é o lúdico apresentado pelos livros e relação utópica daquela pessoa que vem de uma família menos favorecida e acaba conhecendo o príncipe encantado, que tem todas as possibilidades para apresentar para ela. Ao mesmo tempo os dois são humanos e estão apresentando as qualidades para ela. A escolha é dela e também do público de decidiri com quem vai ficar. Eu não estou preocupado com isso, acho que a novela já tem apresentado um sucesso, e acho que têm coisas que a gente aborda que são urgentes, como o abandono dos pais, como fica essa família com a ausência do pai, qual a relação se tem ao voltar após 16 anos, e tudo isso que faz parte do patriarcado e masculinidade tóxica, e do que precisamos desconstruir. Precisamos apresentar à sociedade o novo homem e a dramaturgia brasileira tem esse poder. Temos 36 pontos de audiência e isso significa muita gente consumindo o que a gente faz, então é importante termos um posicionamento político e entender que esses personagens representam uma máxima positiva e negativamente. Esse cuidado é para mim o maior desafio, inclusive para mim que represento o Ramon. Um cara que sente falta da família mas ficou 16 anos longe por uma escolha profisisonal, e não pensou nas consequências que teria. E a gente joga essa pergunta para o público também. O triângulo amoroso é bonito de se ver mas meu desafio com o Ramon é a relaçaõ dele com a Alice, de como a gente pode criar uma nova narrativa para esses pais que optam pelo financeiro e esquecem que o sentimental também faz parte da construção psicológica, e das relações sociais que essa criança vai ter.

Cacique de Ramos

A cena que aconteceu no Cacique de Ramos, como foi para você, o que você sentiu?

Tive uma catarse ao falar sobre essa cena. Enquanto ator a gente tem a benção de poder visitar lugares que antes não conhecíamos. Já ouvi falar muito do Cacique de Ramos na época do colégio, mas eu não conhecia, e conheci agora gravando a novela. Aquele lugar tem uma energia incrível. Quando entrei e vi aqueles banners daquela galera que ouço desde pequeno, e poder ver que todo mundo veio do mesmo berço, acho que foi uma benção que recebi ali, uma ancestralidade e alegria muito fortes, vindo de pessoas que viveram de subempregos e usavam aquele lugar como válvula de escape para ter seus momentos de alegria, e compartilhar suas dores.

Tem alguma cena que você fez com a Bruna que tenha te marcado?

A primeira cena na preparação que trabalhamos em família, tivemos uma catarse emocional em que ela despejou tudo o que ela queria falar enquanto filha abandonada, e eu recebi calado e no final a gente falou ‘pronto’. Dali a gente fechou uma aliança de pai e filha e nos entendemos nesse lugar. Bruna e eu nos identificamos muito nas questões políticas. A cena da sorveteria que não foi ao ar ainda também me marcou muito. Eles fizeram um acordo de paz muito bonito e simbólico.

A paternidade dentro e fora da novela

Você está batendo muito nessa questão da paternidade na novela, mas isso tem chegado para você na vida real, essa vontade?

Sempre quis ser pai. Hoje eu acho que só eu estou admitindo mais isso até com os problemas. Todo mundo diz ‘não é mole não’. Uma comparação péssima que eu vou fazer é que eu estou com filhotinho, e sempre criei cachorro do lado de fora por sempre morar em casa, e é a primeira vez que eu tenho uma relação com animal dentro de casa e que depende 24 horas de mim, então para sair uma função precisa ter uma bolsa, levar o brinquedo, levar a fralda, e penso ‘imagina um filho’. Mas tem coisas interessante, outro dia eu cheguei, abri a porta, e ele saiu correndo direto para a Yasmin, e nem ligou para mim. É primeira vez que eu tenho um cachorro que não vê como dono principal. Ela explicou que era porque ela dava ração para ele todos os dias, passei dar a ração então. Mas tenho visto um pouco, pouquinho do que é ter um ser depentendo da gente e dá amor o tempo inteiro, e sente falta quando está longe.

Como está sendo a aceitação do público em relação ao casal Ramon e Paloma? Muitas pessoas na internet não gostam do Ramon por ele ter abandonado a Paloma na juventude.

Existe uma revolta e ela é pertinente, porque o que tem de gente faz filho, e acha que a responsabilidade é da mulher, não está noi gibi. Inicialmente eu ficava na defensiva tentando defender o personagem , mas cara, não, a gente precisa tocar na ferida mesmo, o assunto é esse. Existem homens assim tóxicos, que acham que só por serem provedores já é o suficiente. Tem muita gente que torce por eles também.

Preconceito com casal interracial

Há muitos anos existiu uma novela em que o casal protagonista era Marcos Paulo e Zezé Motta, e aconteceu um grande preconceito na época de o público não querer aquele casal. Vejo em Bom Sucesso que isso não é uma questão mais. Você acha que tem algo tocando nisso?

Até agora não vi, mas procuro não me alimentar dessas coisas. O racismo no Brasil é um problema do branco, não do negro. Eles é que precisam resolver, eu preciso me policiar para não sofrer essa opressão. O que tenho visto é uma galera falando pela relação [entre Paloma e Ramon] e não pelo fato de ser branco ou preto, mas óbvio que essa construção se dá porque a nossa sociedade foi criada assim. Estou lendo um livro que fala sobre isso. A gente enquanto sociedade precisa se re-alfabelizar porque a nossa gramática foi feita de forma colonial, patriarcal, e racista, então a gente negro se entende  mais no lugar de objeto do que no lugar de sujeito. Eu acho que a gente está apresentando um personagem que é um sujeito, que não se coloca como objeto, como oprimido. Ele tem uma vida, uma profissão, uma demanda que ele precisa cumprir, se dá no papel de provedor mas quer o carinho, o afeto, cuida das crianças, faz comida, lava louça e se dá como sujeito. Marcos e Ramon são seres humanos, ambos têm defeitos e qualidades.

Rivalidade com Alberto

O persongaem já derrubou o Alberto da cadeira de rodas, mas vai salvar a vida dele dando outa curva, não é?

A gente tem que pensar que derrubar Antonio Fagundes de uma cadeira de rodas não é fácil. Uma pessoa mandou para a gente um tweet que dizia ‘derrubar o Fagundes é complicado, nem se o Ramon descobrir a cura da AIDS, as pessoas vão perdoá-lo’ (risos). Mas tem muita coisa para viver. O bom é que as coisas acontecem sem protelar.

Será que ele teve alguém que mexeu muito com ele nos Estados Unidos e que pode voltar a qualquer momento?

Boa pergunta. Eu acho que 16 anos é tempo suficiente para ter outras questões mas eu acho que o Ramon ele voltou com objetivo de recuperar a família dele que ele sabia que tinha perdido a Paloma decidiu ter outra pessoa, outra vida, outro amor e outros filhos. Ele achou que dar o dinheiro para a filha seria o suficiente, acho que talvez ele tenha alguém sim, mas a maior história  é o que ele tem mostrado, e se a Paloma decidir ficar com o Marcos, ele vai estar do lado dela. Quando a aparecer outra pessoa….

Sessão Terapia

Você é um dos protagonistas da nova temporada de Sessão de Terapia. Como você está vendo esse seu momento como protagonista de dois projetos?

Sessão de terapia é um é um produto à parte porque é gente falando de gente. Você coloca duas pessoas, uma de frente para outra se desnudando, falando de suas complexidades. É bem profundo e urgente. Meu persongem, o Nando é um cara que vem para falar de racismo e machismo. Ele apresenta essas duas opressões ao mesmo tempo. É um homem negro falando para um homem branco todas as mazelas que ele vive, então é puxado e ao mesmo tempo é bem urgente. A gente fala de uma relação homem-mulher, onde ele se acha superior por ser bem sucedido profissionalmente. A partir do momento em que ele deixa de ser o centro da família, as coisas começam a mudar internamente, começa a não se achar suficiente, e para piorar, ele fica impotente na cama, o que para o homem é o fim do fim. Isso faz parte de uma construção patriarcal que a gente aprendeu lá atrás, que construiu homens, mulheres doentes, e deixando filhos doentes. Falar sobre isso é bem forte.


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