“Não preciso cheirar cocaína para interpretar uma dependente química”, diz Ana Flávia Cavalcanti sobre sua personagem em Sob Pressão

Publicado em 03/04/2019

Ter a oportunidade de interpretar papéis fortes na TV é para poucos. Ana Flávia Cavalcanti sabe bem como é dar vida a mulheres fortes. Na série médica Sob Pressão (estreia marcada para 02/05) ela faz uma dependente química. Para tanto ela pesquisou o assunto, mas ressaltou que não precisou cheirar cocaína para entender os dramas da personagem.

Em seu terceiro trabalho na Globo, Além do Tempo e Malhação, a atriz ressalta que a literatura, o teatro e a os jornais lhe ajudam a compreender as histórias que interpreta na televisão. Sob Pressão chega à terceira temporada elogiada por público e crítica mostrando o descaso que a saúde enfrenta no Brasil.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Ana Flávia revela detalhes do processo de construção de sua personagem, Diana. A paulista deixou sua família em busca de um sonho: ser modelo e atriz no Rio de Janeiro. O sonho acaba se transformando em pesadelo quando conhece as drogas e de forma inesperada perde a irmã.

Dando veracidade às cenas

“Vi muitos vídeos. Não sou do tipo de atriz que acha que temos que viver tudo o que a personagem vive, como cheirar cocaína, por exemplo. Muito pelo contrário, acho que o trabalho do ator é esse de fingir tão bem que parece que é real. Não sei se fingi que usava drogas tão bem assim, mas quero dizer que nem todas as experiências quero ir até o fim no meu corpo, acho que posso experimentar na superfície desse sentimento – que foi o caso da cocaína. Mergulhei no que entendi sendo como a dor da Diana, sem exatamente provar drogas”. 

Overdose

“Na série sofro duas overdoses e queria entender como era isso, como eram os gestos e como a pessoa fica quando cheira muito. Porque mais do que só fazer o trejeito de quem cheira cocaína, overdose é um estado muito diferente e alterado, em que algumas pessoas acabam morrendo. Então vi muitos vídeos na internet, foi horrível. Muitos vídeos de adolescente, adulto, em festa, em casa, e quase sempre é diferente uma overdose da outra, as pessoas reagem de uma maneira diferente. Em geral as pessoas ficam aceleradas e muito, muito tensas”.

Descaso com a saúde

“Outro descaso da sociedade está relacionado aos dependentes químicos – que é o caso de Diana. É um problema de saúde pública, é um problema de todo mundo. Se temos uma epidemia de usuários de droga, muita gente que consome droga, crack e muito álcool, isso acaba refletindo em todas as relações. Essas pessoas acabam tendo problemas com o bem estar próprio, e também na relação com a família e na sociedade. Essa dependência abre para outros problemas”.

Trabalho corporal

“O material audiovisual me ajudou a pegar esse corpo, essas mimese, de que corpo é esse, como ele se movimenta, pra entender o ritmo do coração, e a bad trip mesmo, a tristeza da vida dela, das desilusões, que é muito o que faz que uma pessoa se drogue, se vicie, se destrua tanto. Tem muito a ver com as decepções e desilusões e a maneira como cada pessoa lida com isso”. 

Experiência marcante

“Nunca tinha feito uma personagem como ela. Me aprofundei nessa tentativa de experimentar essa dor. Foi um trabalho que tenho certeza que vai significar muito na construção da minha carreira.”

“Temos que humanizar as personagens sempre, então fico tentando fazer isso, eu e os atores que conheço e gosto. A gente não julga a personagem, a gente abarca, pois todos têm muitos lados e somos muita coisa. Tentei abarcar a Diana com as dúvidas e dores dela, sem dizer esses julgamentos mais superficiais que fazemos da vida do outro”.

“A Diana é uma mulher mais frágil, sofrida, carente, que se deixa levar pelo desapontamento geral da vida, e a droga chega nesse momento pra tapar um buraco [o sonho de sair do interior de SP, vir pro RJ, ser modelo e atriz, a dificuldade financeira e familiar e o falecimento da irmã de forma abrupta]”.  

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