Alice Wegmann fala sobre sua personagem vilã em Órfãos da Terra: “Ela é muito fria”

Publicado em 12/03/2019

Com estreia marcada para o próximo dia 2 de abril, a novela Órfãos da Terra, tem grandes nomes no elenco. Entre eles está a atriz Alice Wegmann, que recentemente foi protagonista da super série Onde Nascem Os Fortes, sendo bastante elogiada pela imprensa e pelo público. Na nova novela das seis, Alice viverá a vilã Dalila e em conversa com o Observatório da Televisão, a atriz falou sobre sua personagem e como aconteceu o convite para estar no folhetim. Confira:

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A Dalila vai aprontar com a vida de muita gente, certo?

“Primeiro de tudo é um desafio bem grande, eu tive dois meses de preparação. Foi muto legal, tive bastante descobertas desse universo. Ela é uma pessoa muito diferente de mim, em muitos sentidos e eu estou despertando coisas que eu nunca tinha descoberto. A Dalila herda características do pai dela, o Aziz (Herson Capri). Ela é muito fria, muito calculista, muito manipuladora e é uma vilã de mão cheia. A maior parte desse mau caráter dela, vem muito da educação que ela teve desse pai. Ela é a primeira filha dele e acho que teve uma certa expectativa dele ter um filho homem que ele não teve.

Ela assumiu um papel de poder entre as outras mulheres da casa, que é quase como se ela fosse a primeira filha mesmo, a filha favorita dele e isso tem uma responsabilidade. Ela usufrui disso da pior maneira possível, manipulando as outras pessoas naquela casa, as outras mulheres do Aziz. Até ele mesmo ela manipula através de um jogo de sedução, de tentar conseguir de alguma forma o que ela quer, mas ela é bem esperta. Ela é muito apaixonada pelo Jamil, desde que ela era pequena. Ela tem esse objetivo de se casar com ele e é mais uma coisa que ela tem na cabeça e vai adiante até o fim.”

Afeto

O Jamil é um dos únicos afetos que ela tem?

“Eu acho que ela tem um grande afeto pelos pais também, não acho que ela seja uma pessoa seca sem relação. Ela tem uma humanidade ali em algum lugar. Mas o Jamil é a grande paixão da vida dela, que acompanhou ela durante alguns anos e é com quem ela quer se casar.”

A tatuagem que você fez é sua ou da personagem?

“É da personagem. Essa tatuagem é de rena, a gente coloca e tira todo dia, significa vida. A gente colocou a tatuagem na última prova de roupa, queríamos um visual bem descolado, bem moderno para a Dalila e a gente se inspirou em várias blogueiras muçulmanas. E aí nas últimas provas de roupa, sentimos que estava faltando ainda alguma coisinha. Os looks estavam muito poderosos, mas a gente sentiu que ainda poderia ter mais alguma coisa, algum toque de modernidade, uma coisa de uma garota que pensasse um pouco a frente e aí pensamos nessa tatuagem.”

Vilania

Sua personagem é a vilã que vai atrás do amor da vida dela, faz de tudo para ter esse grande amor. Mas ela vai chegar a ter atitudes infantis?

“Não, em nenhum momento. Muito pelo ao contrário, ela não vai ser a menina má. Ela vai se uma pessoa muito mal caráter e que é ruim. Ela é uma pessoa muito difícil, mas ao mesmo tempo é humana. Você entende a dor dela, vê o sofrimento dela. Ela vai passar por situações difíceis e o público vai se sensibilizar com essas questões. É uma pessoa muito múltipla, eu acho que todas as pessoas do mundo são, ninguém é só uma coisa. Então, ela não é só má. Mas não cai no infantil, ela é uma menina madura, sabe o que ela quer. Quer conquistar isso, mas não é infantil.”

Essas vilanias dela é por conta do amor?

“Em nome do amor, em nome do poder, do autoritarismo, da religião e da cultura dela, de como ela aprendeu a viver. Eu acho que é em nome de muita coisa, é a forma como ela foi educada, como ela cresceu. Não é só o amor que ela sente pelo Jamil.”

Ela vive em Londres?

“Ela estuda em Londres, mas mora no Líbano. Vai pra Londres para estudar, volta e fica indo e voltando.”

Humor

Entra alguma coisa de humor nessa sua vilã?

“Entra sutilmente. Não chega a ser comédia, mas em algum lugar tem uma tragédia e ao mesmo tempo… Não diria que é uma comédia, mas às vezes tem umas situações que você dá uma risadinha.”

Sobre a cultura árabe, como você fez para se aproximar dessa cultura e suas referências?

“A gente teve dois meses de preparação, tivemos aula da língua árabe, de dança, aula de história do Líbano, da Síria. Acho que tudo isso serviu para aproximar muito a gente, mas para mim o principal foram as pessoas de lá que estão aqui nos ajudando. Nós conseguimos ouvir muitas histórias, muitos relatos de pessoas que vieram de lá. Acho que isso de certa forma trouxe uma proximidade pra gente. Não adianta querer contar uma história sem saber como as pessoas se sentem, como é viver ali.”

Tem alguma história que mexeu com você?

“Eu não sei se eu tenho uma especifica, mas a gente teve um professor que nos deu aula de língua árabe e de várias outras coisas durante esses dois meses. Ele é uma pessoa de lá e viveu algumas coisas durante a guerra. Ele tem uma história de vida muito forte, inclusive agora está afastado porque voltou para o hospital com câncer e infelizmente foi afastado. Mas é uma das pessoas que mais tocou a gente com a história dele. E também lemos um livro muito legal, se chama o Diário de Myriam, é como se fosse o Diário de Anne Frank, mas sobre a guerra na Síria.”

Convite

Você acabou de interpretar a Maria em Onde Nascem os Fortes. Como a Dalila chegou até você?

“Na verdade eu estava em outra novela, já tinha recebido um outro convite, mas por algumas questões recebi o convite para fazer essa e me interessou muito. O propósito dessa novela foi o que mais me aproximou daqui, não foi nem o fato de fazer uma vilã. Foi a história que as autoras e a direção quiseram contar, foi o que mais me sensibilizou e me fez ter vontade de estar junto. É muito humano, fala de relações humanas, emoções e sentimentos que estão aí. E acho que no Brasil vamos poder nos identificar de muitas formas com essa novela. Chegou esse convite e assim que o Gustavo me chamou para tomar um café e depois eu fui entender o quanto o Líbano é um país diverso, o quanto a cultura árabe é gigante e depois de um certo estudo, eu sabia que queria fazer.”

Você aprendeu a falar alguma coisa em árabe?

“Um pouco, porque é bem difícil. Mas aprendi o básico, obrigada, por favor e essas coisas. Nos primeiros capítulos a gente faz uma jogada entre a palavra árabe e em português para as pessoas irem se acostumando.”

Legado

Você é muito ativa nas redes sociais e fala muito com as mulheres. O que você falaria para a Alice de 12 anos, para ela sobreviver nesse mundo tão machista?

“Acho que sobretudo eu diria para ela não ter medo de quem é, a liberdade tem muito a ver com isso. Hoje em dia a liberdade, honestidade e a verdade acho que isso tem muito a ver com a nossa essência. Quando a gente se reconhece, se aceita, se entende, tudo fica mais fácil e não tem o porque querer ou tentar ser outra pessoa. Acho que a gente pode viver a nossa autenticidade sem medo.”

Hoje em dia alguns atores não querem se posicionar politicamente, mas você sempre foi muito aberta em relação a isso. Em algum momento isso já te prejudicou?

“Eu não digo que traz problemas, digo que pode ser que algumas pessoas se afastem por isso. Mas acho que tudo é uma escolha, na vida a gente precisa fazer escolhas e eu não tenho medo das minhas. Eu sempre fui muito firme nas minhas decisões, sempre muito determinada e isso começou a vir com um senso meio revolucionário. Mas eu comecei a pensar politica há pouco tempo, com isso vem o falar sobre politica e na verdade eu não acho que seja uma obrigação, mas a arte está intimamente ligada a isso, então naturalmente isso vem.

Eu, Alice não vejo mais a possibilidade de interpretar personagens sem me colocar politicamente. Eu não tenho mais medo de falar, particularmente eu me sinto um pouco perdida. Porque ainda estamos em um momento que não dá para afirmar com certeza de falar que aquela pessoa é o seu representante. Mas se a gente usa a nossa voz de alguma forma, a gente vai cutucando, provocando, para que um dia tudo possa chegar em algum lugar diferente desse atual.”

Carreira

Você fez uma protagonista recente, agora vai fazer uma antagonista. Eu percebo que não te vejo em capa de revista, não te vejo em balada… Você nunca deixou ninguém te colocar em um pedestal, né?

“Eu acho que são escolhas, sobretudo. Eu prezo muito pelo meu trabalho, existem lugares mais comerciais que a gente não pode menosprezar também. Mas tem um lugar que eu quero que as pessoas me reconheçam pelo estudo, pelo entendimento que eu tenho desse oficio. É por onde eu me esforço, mas eu tento compartilhar as coisas da forma que eu acho verdadeiro e possível. Eu não gosto de forçar nada, se eu for convidada para fazer a capa de alguma coisa que não convém, eu não vou fazer.”

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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