Kelzy Ecard fala sobre a relação entre Nice e Agenor em Segundo Sol: “Ela tem um grande temor dele”

Publicado em 25/08/2018

Em Segundo Sol, Kelzy Ecard dá vida à batalhadora e sofrida Nice. Vítima das agressões verbais do marido, Agenor, interpretado por Roberto Bonfim, a personagem ganhou torcida dos fãs da trama para dar a volta por cima e dar um basta no relacionamento abusivo.

Kelzy, que tem uma experiência de 25 anos no teatro, conversou com o Observatório da Televisão e falou sobre o quão feliz está sendo fazer sua primeira novela.

Segundo a atriz, a enorme repercussão trazida pela trama se transforma em carinho do público, que muitas vezes a procura contando histórias semelhantes às da personagem. Confira o bate papo completo:

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A Nice está fazendo o maior sucesso. O que você tem escutado?

“Estou realmente surpreendida. Eu sabia que televisão tinha um alcance muito grande, maior do que o teatro, em que estou há 25 anos, mas o retorno que as histórias dessa família estão tendo, me surpreendeu. Recebo diariamente mensagens de pessoas dando força para a Nice, pedindo para ela se separar do Agenor, e até mesmo contando casos reais de relacionamentos abusivos. É muito comovente”.

Há algum tempo no seu Instagram você até agradeceu por alguém ter feito o desenho de uma cena.

“É um artista plástico, acho que ele já tinha feito outra vez um desenho de uma cena, mas ele fez essa de uma cena super emblemática, que é quando a personagem diz que sim, que vai trabalhar no restaurante da Cacau (Fabiula Nascimento). Para Nice esse momento prenuncia uma virada dela na novela, e o rapaz pegou esse momento e fez um desenho lindo”.

Kelzy Ecard fala sobre a mudança de Nice em Segundo Sol

O Brasil está torcendo para a Nice virar o jogo, e deixar de ser tão submissa ao marido…

“Ele está cada vez tornando-se mais agressivo com ela. Do que posso adiantar, está perto dela acabar com essa relação. Me comove como as pessoas torcem para que ela mude, e que a atitude dela possa inspirar outras pessoas. Tenho recebido muitas mensagens falando sobre a importância de ela dar a volta do por cima, e poder ajudar o tanto de Nices que existem por aí ainda”.

A Cacau está sendo responsável por dar essa oportunidade à Nice…

“É uma questão do companheirismo feminino mesmo. De outra maneira, a Cacau também viveu um relacionamento abusivo. São estruturas diferentes, mas ela é uma mulher independente, que correu atrás do seu destino desde muito cedo. Ela se sente responsável por dar uma ajuda a essa mulher, o que é muito bonito”.

E o que vai acontecer com a Nice?

“Eu realmente não sei ainda. Estamos gravando um pouco à frente do que está no ar. Pelo que escuto falar, ela vai conquistar cada vez mais seu espaço, mas sobre a relação com o Agenor, eu realmente não sei. Tudo o que ela quer é que esse relacionamento se transforme. Ela ama esse homem. Ela não estaria com ele se ele não representasse algo para ela, nem que seja uma memória boa”.

Teve uma cena em que o Agenor chamou a Nice de gorda e velha. Você já sabe se sua personagem vai ter alguma mudança no visual?

“Ainda não me apresentaram nada, mas se tiver vou querer babyliss todo dia, sombra e cílio postiço (risos). A torcida da internet é para a Nice arrumar um novo amor. Se o Agenor não correr atrás, sei não…”

Relação da personagem com Agenor

Você acredita que uma pessoa como o Agenor pode se transformar?

“É difícil generalizar. Existem pessoas que não se transformam, mas outras sim. Meus pais por exemplo, têm 82 anos. Olho para eles e penso que os pais que tenho agora, não são os mesmos que tive quando criança. Vi muita transformação neles por nossa causa, e pela demanda da vida. Mudaram para melhor, mas acho que ninguém é capaz de gerar uma transformação no outro assim porque quer. A própria pessoa querendo, consegue mudar sua trajetória”.

Você já conviveu com muitos Agenores?

“Já sim. Não é uma história familiar porque meu pai sempre foi um homem muito doce. Mas sou do interior do estado, e eu vi muito. Quando adolescente eu morava em frente a uma casa, de um casal com cinco filhas mulheres, e ele não as deixava sair de jeito nenhum. Eu vi inúmeros casos assim”.

Você acha que hoje em dia, o que faz uma mulher se sujeitar a isso?

“Eu acho que tem uma questão de abuso, que pode ser financeira, mas pode ser emocional. As histórias são muito diferentes, mas uma pessoa que cresce acreditando que ela não tem muita valia, e com o amor próprio comprometido, pode sim se sujeitar a isso”.

Vaidade

Você é muito bonita. Como é para você se despir da vaidade?

“Minha especialidade é ficar feia em cena (risos). Na peça, eu pareço ter 20 anos a mais que eu tenho. Definitivamente não é uma questão que preocupa. Por exemplo, estou muito acima do peso, então o primeiro dia que vi minha imagem no vídeo pensei: ‘Jesus! Minha mãe vai acabar comigo’, mas minha vaidade está no meu trabalho. Já vi cenas em que vou sem retocar, e toda descabelada, mas acho isso bom porque é mais real. Se as pessoas acreditarem no que estou fazendo, me sinto linda”.

Você precisou engordar para a personagem?

“Não! Já estava no shape do papel (risos). Mas aqui vai uma confidência, meu médico me obrigou a emagrecer por uma questão de saúde. Ontem comecei um processo de caminhada. Ninguém vai ver nessa novela ainda porque os resultados são lentos”.

Você também é da cozinha que nem a Nice?

“Eu adoro cozinhar. Não sei fazer pratos. Tenho 2 ou 3 que repito, mas adoro a cozinha do dia a dia. Penso em inventar coisas diferentes”.

É impressionante, porque vendo no vídeo, você se parece fisicamente com a Nanda Costa e com a Letícia Colin que interpretam suas filhas…

“Você falando assim, nem vou dormir (risos). Acho que a gente tem uma similaridade sim, mas não existe aquela coisa de casais de namorados ou filhos adotivos que ficam muito tempo juntos a acabam se parecendo? É questão de afinidade, e fico muito envaidecida com isso por sinal”.

Cenas fortes entre Nice e Agenor

As palavras do Agenor são muito duras. Você já gravou cenas pesadas inclusive. Como você lida com isso?

“Acho que isso vem do ofício mesmo. Têm cenas e cenas. Existem aquelas que você demora mais porque embora não seja pessoal, acaba sendo porque é a minha personagem e estou emprestando meu corpo e minha voz para ela. Tem dias que são muito duros, mas temos um ambiente muito bacana e muito amoroso. Sou uma sortuda por fazer minha primeira novela com essa personagem, e nessa família, falando coisas tão importantes. Na hora que estamos ensaiando, estou lidando com aquela energia da cena, mas ao acabar nos abraçamos, nos cuidamos. Se eu levar as palavras do Agenor para mim, aí acabou, não venho nem gravar no dia seguinte”.

E nas ruas? O que as mulheres costumam te falar?

“Outro dia eu estava andando na rua, e veio uma moça de braços abertos dizendo: ‘deixa eu te dar um abraço, você vai nos vingar’, então recebo muito carinho. Não sei o que vai ser de Nice”.

Você acha que o Agenor pode agredi-la de fato?

“Não sei, o máximo que rolou de agressão física foi ele jogar uma quentinha em cima dela, o que não deixa de ser agressão. Ela tem um grande temor dele. Eu tenho as minhas fantasias, pelas quais eu acredito que isso acontece, mas não vou contar para ninguém, são coisas que eu criei”.

Na sua opinião, você crê que uma palavra mal dita por ferir mais que uma espada?

“Dependendo da circunstância sim. A palavra pode agredir muito. Qualquer um pode dizer uma coisa, que o outro guarde aquilo como mágoa pela vida inteira.  Eu peço desculpas quando acho que falei algo que possa ter ofendido alguém”.

O poder da palavra

No showbiz mesmo a gente tem a história da Eliana. Quando criança, ela era filha do zelador, e ouviu um morador dizendo para a filha que não queria que a menina brincasse com a filha do zelador. Ela guardou isso para sempre.

“Com toda certeza. Às vezes uma vida é conduzida em função de uma coisa que você escuta. Como atriz, a cada dia que passa, a palavra para mim tem mais importância. Em cena, a gente ouve coisas, e eu reajo àquilo que estou recebendo”.

Você falou da palavra, da mudança. Vivemos um momento difícil de mulheres assassinadas. Como é para você dar voz às mulheres?

“Acabou sendo uma conjunção. Infelizmente relações abusivas acontecem desde que o mundo é mundo. Os dados que temos de feminicídio, agressões a transexuais, homossexuais, população LGBT são tão brutais, que dar voz a essas minorias é um dos motivos pelos quais eu sou uma artista. Eu não tenho essa vaidade da celebrização, é uma missão, minha função no mundo. Dei uma sorte danada, podia estar fazendo uma personagem esnobe, que também seria importante. A peça que faço Tom na Fazenda, fala sobre homofobia e tenho tido a sorte de poder dar voz.

O volume de afeto de coisa boa que estou recebendo é uma loucura, todo dia é um monte de gente me agradecendo, e eu respondo a todo mundo. Outro dia até uma moça me perguntou: ‘Você é uma fanpage?’, e eu disse: ‘Não, sou eu mesma’. Até agora, estou conseguindo administrar. Eu gosto de responder, porque as pessoas vão lá, contam história da sua vida, confiam a mim uma coisa particular, e como não vou responder? Não consigo”.

Defensores do Agenor

Você acha que existe esse mito ainda de que a mulher precisa ter um homem? Que quando não tem, é vista como ‘mal amada’?

“Graças a Deus, a mulherada não está mais nessa. Acho que elas estão conquistando seu espaço de independência e amor próprio. Acho que isso acontece nos casos em que a pessoa tem uma baixa autoestima”.

Você já recebeu mensagem nas redes de alguém que defende o Agenor?

“Não, nunca aconteceu. A única coisa que aconteceu foi que na semana que foi ao ar a cena da Rosa, indo até o restaurante e humilhando o Agenor após ele tê-la expulsado de casa. Dois homens mandaram mensagens dizendo: ‘Fala para aquela sua filha tratar melhor o pai’ Juro por Deus, custei a entender, até questionei e um deles respondeu que o pai fez certo em expulsá-la de casa por ser prostituta. “Pai pode fazer o que quiser para colocar o filho na linha”, ele disse. Mas a maioria não, inclusive na internet já me mandaram um tutorial de como matar o Agenor. Já me deram várias ideias. ‘Joga água quente no ouvido’, ‘Dá uma panelada nele’ (risos). Desculpe, estou rindo, é uma coisa horrorosa, mas as pessoas são demais”.

Você batalhou muito, mas vai ter muita gente dizendo que você teve sorte, não é?

“Mas eu me sinto sortuda. Tem muita gente que começou a fazer teatro comigo, que parou. Muita gente batalhando ainda. Estamos com um problema muito sério no país em relação às artes, principalmente à cultura no Rio, é uma falência total. A gente só consegue montar peça se fizer vaquinha virtual, e tem muita gente boa por aí parada, então realmente me sinto sortuda. Faço teatro há anos, e ininterruptamente, claro que tem retorno do meu trabalho, mas tem muita sorte também”.

História

Você disse que é do interior do Rio. Você chegou à capital para fazer teatro?

“Não. Eu fui pulando de galho em galho. Meus pais pediram transferência de trabalho porque na cidade em que morávamos não tinha escola de segundo grau. Nós somos quatro irmãos, e cada um quis área diferente. Quando chegou na época do vestibular, por gostar muito de desenhar e ser excelente em matemática, fiz vestibular para arquitetura aos 16 anos, me formei com 21, trabalhei quatro anos, até que chutei o pau da barraca e fui fazer teatro”.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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