Maurício Destri comenta cenas de lutas em Orgulho e Paixão: “Tomei anti-inflamatório por sete dias”

Publicado em 20/07/2018

No decorrer de Orgulho e Paixão, Camilo Bittencourt (Maurício Destri) viu sua vida mudar completamente. Desde que assumiu seu amor por Jane (Pâmela Tomé), o rapaz vem enfrentando uma relação conturbada com a mãe Julieta (Camila Duarte), que por não aceitar o romance chega a armar um casamento inválido entre os pombinhos.

A situação do príncipe do Café piora quando a crise financeira bate em sua porta após perder o emprego. Sem saber como sustentar a esposa, Camilo passa a lutar em um estabelecimento clandestino em São Paulo, saindo gravemente feridos dos combates. Com exclusividade para o Observatório da Televisão, Maurício Destri detalhou como foi a preparação para as cenas cheias de ação. “Tinha momentos que me sentia dentro do ringue e acertei alguns socos na cara”, confessou.

O ator também falou um pouco sobre como está sendo contracenar com Gabriela Duarte, atriz veterana da Globo que coleciona dezenas de trabalhos de sucesso no currículo. Diferentemente do seu personagem, Maurício também foi bem sincero ao afirmar que, no momento, a vida amorosa não é prioridade: “Até parece ser egoísta, mas eu realmente me blindei a me apaixonar ou viver um grande amor”. Confira:

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Mauricio Destri fala de identificação com o seu personagem e que no início trama houve uma estranhesa

Como foi a repercussão das lutas do Camilo?

É um momento legal. Que dá um desafio maior para gente, quanto ator. Poder sair de um personagem que era tão doce para um cara que começa a dar porrada por dor, por uma tristeza, por embate com a mãe e por essa vontade de ficar com a Jane (Pâmela Tomé). As pessoas têm comentado, principalmente as que estão próximas de mim, minha família. Eu tive pouco tempo de estar em lugares para perceber a reação do público em relação a isso, mas tenho visto que as pessoas estão se identificando e vendo a novela. Passei por uma situação bacana agora recente.

Estava comendo no Ataulfo de Paiva, no Leblon, e uma mulher sentou no meu lado e me abraçou. Fiquei meio que: ‘caramba, o que está acontecendo?’. Ela disse que só queria um abraço e ficou tempo comigo. Em seguida, pediu um beijo e disse que estava muito surpresa com o trabalho e como esse personagem sofria e estava apanhando muito. Então rolou essa identificação, esse carinho. Fiquei feliz! No começo achei estranho, mas foi um gesto carinhoso.

Preparação para as lutas do personagem

Como você se preparou para fazer esse lutador? 

Pois é. No começo, eu queria que esse personagem fosse um cara que chutava lata nos sofrimentos, e as tintas espirravam na parede. Logo em seguida o Marcos já falado que ele iria virar um lutador, então não poderia ficar nessa loucura, de achar que esse cara era um pintor. Eu comecei a fazer algumas aulas de boxe, independente, pouca coisa, ainda não tendo a certeza se ia acontecer isso.

“Muita técnica”, revela o ator sobre cenas de luta

Quando começou, que fiquei sabendo que chegaram os capítulos, eu me preparei durante 10 dias. Fique num intensivão com um professor particular na minha casa e a equipe da produção da novela também contratou um cara especialista nessas ações. Comecei a lutar, a fazer academia. Eu ainda estava com o corpo magro, do último personagem, que era uma coisa que não me incomodava – eu até prefiro ele mais magro do que mais fortinho. E aí me preparei, fiz esse intensivão e depois fui só mantendo.

O trabalho ali é muito técnico. A marcação das cenas é muito técnica. Tem uma coreografia para que aquilo aconteça. Depois começaram a botar lutadores profissionais. Então virou uma aventura mesmo. Tinha momentos que me sentia dentro do ringue e acertei alguns socos na cara. Como eram lutadores, tinha alguns caras que pediam, pois já estavam acostumados a levar socos. Essas últimas cenas que vão ao ar agora, acho que foram as mais reais. Dentro dessa técnica, são as que mais se aproximam dessa realidade.

Ferimentos

Você se machucou durante as gravações das lutas?

Eu não me preocupei muito em fazer tudo perfeitamente, em acertar todos os socos como lutador faz. Fui mais na técnica e na dança, no balé dessa luta, do que propriamente a técnica mesmo. E era naquela época também, que era diferente do boxe de hoje. Hoje é muito mais técnico, muito mais interessante. Machuquei as mãos, tomei anti-inflamatório durante sete dias. Como essas lutas eram sem luvas, machucava ainda mais. A luva hoje protege bastante. Mas foi uma aventura, foi muito legal. Eu achei que ia seguir nisso. Também é uma surpresa para mim, eu achei que o personagem ia virar um lutador profissional. Mas é legal também porque sai disso e vai viver uma outra história. Não fica na zona confortável.

Mauricio se entregou em um intensivão de aulas de luta e academia para não precisar de dublê

Teve algum momento de dublê na luta?

Não. Eles nem pensaram em dublê. Também, botar um dublê para fazer isso…acabou, né? Não vou fazer a novela mais, né? O mais legal, vou pedir para o cara fazer a novela para mim (risos)?

Agora ele volta para a fábrica. Como rola isso?

Ele foi procurar um emprego mais decente. E ainda assim, nessa briga com a mãe, ele vai por conta própria e consegue esse emprego na fábrica. Confesso que não sei onde vai dar, porque a fábrica pega fogo e enfim… não posso adiantar muito isso.

E ele perdoa a mãe após saber que ela armou um casamento falso entre ele e Jane?

Ele perdoa. Não tem como não perdoar a mãe. No fundo a gente acaba sempre perdoando por mais difícil que seja. Já perdoei quantas vezes minha mãe também, na vida real, como não vou perdoar na ficção. A trama é essa, esse gato e rato. A narrativa dele é essa: a relação com a mãe, tem outros personagens também. Mas a principal história desse cara é a relação com essa mãe. Então ele perdoa ela, apesar dos altos e baixos. Cada hora vai acontecendo alguma coisa nova que ele tem que tirar satisfação com ela, fica puto, volta e acaba se reconciliando.

Evolução de Camilo

Depois de tantas reviravoltas o Camilo deixou de ser um garotinho. Ele aprendeu a viver?

Ele começou a andar com as próprias pernas. Começou a ter sua própria decisão e fez das próprias palavras a vida dele. Ele ganhou força. Antes, ele era mandado, inseguro também, porque dependia da mãe e estava sempre debaixo da saia dela. E do nada esse cara vai para a vida, vai para São Paulo e começa a lutar. Independente de ser uma coisa que não seja tão sadio – o cara está apanhando para ganhar dinheiro -, mas está lá. Tem uma mistura de dor também.

“É muito interessante a forma como Marcos [autor] cria isso.”, diz ele sobre as porradas que ele tomava. “era um pouco a dor dessa distância da mãe, dessa falta de amor, dessa falta de toque.”

Como você lida com essas dores do personagem? O seu corpo não identifica o Camilo e o Destri.

As primeiras cenas que eu gravei no estúdio pós-luta eu ainda não tinha noção de onde estavam as dores no meu corpo. Então era uma coisa dali eu ir percebendo onde estavam essas dores, na forma de sentar. No começo para mim, fiquei meio sem saber direito como realizar aquilo porque eu não sabia onde eram as dores desse cara. Quando nas cenas seguintes eu fui lutar, comecei a ver que as dores eram nas mãos, que eram no ombro. Tinha uma coisa da respiração, mas não era tanto.

Tinha momentos que eu nem conseguia falar direito. No decorrer das lutas fui percebendo onde estavam essas dores. E era muito interessante porque eu mudei a visão desse cara, a forma dele de anda ali naquele cenário, a forma de sentar. Quando eu ia encostar, eu sentia as dores. Fiquei meio vendido em algumas situações, tipo: ‘caramba, onde são as dores desse cara?’. Depois tome mais consciência.

Parceria com Gabriela Duarte

Como está sendo sua parceria com a Gabriela Duarte?

Já tinha conhecido a Gabi em A Lei do Amor (2016). A Gabriela é uma grande mulher, ela é linda. Minha mãe também é muito linda. Elas têm uma coisa do olho. Quando eu olho para ela, lembro da minha mãe. Então rolou uma identificação de imediato, e ela é jovem para fazer uma mãe. Tem uma coisa meio complexo de Édipo. Fui gravar uma cena com ela um dia que eu me tremia inteiro, minhas pernas estavam tremendo.

Mas a sensação de fazer a cena, de viver aquela situação, é muito interessante. Depois eu até corri, dei um abraço nela e falei: ‘Gabi, que doideira, cara’. A gente vai para um lugar muito misterioso quando fazemos as cenas. Parece que a cena estava acontecendo mesmo. No físico, no corpo, mesmo.

“Estou muito feliz”, revela o ator sobre seu atual trabalho

Orgulho e Paixão já está chegando no capítulo número 100. Como está o Maurício Destri? Está cansado, exausto?

É um trabalho com diretores diferentes, que eu achei que nunca ia trabalhar, e estou aqui. É bacana poder circular nessas produções, de não trabalhar sempre com o mesmo diretor. E entender esses novos lugares e jeitos de fazer, isso me deixa muito contente. Estou muito grato por mais uma vez a vida me dá a chance de fazer algo completamente diferente. A televisão tem o excesso que, às vezes, é puxado.

Estou no capítulo 100, tenho e vou ter forças para terminar, mas estou me sentindo meio cansado, perdendo um pouco de energia. O mais interessante é: o que fazer agora para que eu tenha energia até o final? Têm semanas que você está muito bem e têm semanas que não está tão bem. Têm dias que dá para fazer 15 cenas incríveis e outro dia que só grava sete cenas, eu saio completamente frustrado.

Você acredita nesse amor à primeira vista que une o Camilo e a Jane?

Acho que os relacionamentos hoje estão tão líquidos, tão descartáveis, que hoje acho meio difícil você olhar e se apaixonar. Acho que é uma coisa construtiva, um trabalho diário. Você vai se apaixonando aos poucos. Acho que esse jeito de se apaixonar era uma moda antiga, que acho que hoje não cabe mais. Não consigo olhar para uma pessoa e falar: ‘caramba, estou completamente apaixonado’. Preciso ouvir um pouco o que ela tem a dizer, as coisas que ela acredita, a família dela, o que ela pensa, o que ela quer fazer da vida. A partir daí eu começo a construir alguma coisa.

“Estou blindado ao amor”, revela o ator

Assim como o Camilo, você mudaria o rumo da sua vida por um amor?

Hoje não. Eu confesso que não. Estou tão focado no meu trabalho, na minha experiência pessoal. Até parece ser egoísta, mas eu realmente me blindei a me apaixonar ou viver um grande amor. Não mudaria por amor, eu mudaria pelo meu trabalho. Me transformaria em outra coisa pelo meu trabalho.

A gente canaliza e foca em determinadas coisas em algum momento da vida que, querendo ou não, o universo não traz isso para você. Possa ser que uma hora eu encontre a pessoa e fale: ‘caramba! Vou viver isso com ela’. Mas hoje estou canalizado para outras coisas, outros tipos de relacionamento, principalmente meu trabalho, que não me vejo mudando por amor.

Aprendizado com cenas de luta

Voltando para as cenas de lutas. O que você aprendeu com o boxe?

Uma coisa legal do boxe que tirei foi o foco. Você tem que estar olhando toda hora para o olho do cara. E é muito esporte que você está toda hora ou batendo, dando soco, ou se esquivando para não levar um soco. É muito engraçado porque depois que passei a lutar boxe até minha forma de entendimento das cenas ficou mais claras. Me ajudou a decorar o texto, ficou mais fácil. Outra coisa que fiquei pensando também é que o boxeador tem que gostar de apanhar. Para mim, no boxe, as quedas são as mais difíceis, são as que mais machucam. Gravamos na primeira vez sete cenas, com três lutas, e eu saí da gravação completamente exausto.

“Tomei durante sete dias de anti-inflamatório”, revelou Mauricio sobre cenas fortes de ação

E como foi o trabalho de assistência da produção para essas cenas?

Mas foi muito incrível porque a produção estava ligada que ia ser um dia exaustivo. E eles estavam me dando muito carinho. Estava todo mundo muito atento, em cima, querendo me ajudar, separaram comida e falaram: ‘cara, vai ser difícil hoje, e tal’. Depois veio uma nova gravação com mais cenas, eram nove cenas com quatro de lutas. Eu falei: ‘gente, não tem como. Não dá. Vamos tirar pelo menos duas, três cenas desse roteiro’. O Fred [diretor artístico] super ouviu e acabou tirando. Aí ficou mais fácil de gravar, não exigiu tanto. Mas são cicatrizes que ficam, ainda dói um pouco. Tomei durante sete dias anti-inflamatório porque não tem como engessar.

Sua mãe falou o quê disso?

Minha mãe está distante, então ela não vê muito. Nem conversei com ela

Conquistas

No nosso último encontro, você falou que deu uma casa para sua mãe. Como você enxerga essas conquistas?

Eu sinto que eu não cheguei lá ainda. Estou em uma eterna evolução. Não consigo ficar estagnado. Estou toda hora tentando sair das minhas zonas de conforto e tentando me surpreender a cada dia. A possibilidade de dar a casa para minha mãe foi uma passagem da minha vida, onde desapeguei de coisas minhas e falei que ia dar uma força para ela. Eu tenho essa relação com a minha mãe. Quando alguma coisa da minha vida acontece, está intercalada alguma coisa dela. Então parece que para eu resolver as minhas coisas, eu tenho que dar uma passada lá, passar uma tinta branca, deixar as coisas mais claras, suaves, e aí eu consigo resolver as minhas coisas.

Ela é sempre o estopim para uma coisa nova que está chegando na minha vida. É muito gratificante ajudar a pessoa que me colocou no mundo e me deu a vida. Tanto ela quanto meu pai. São duas pessoas extremamente importantes. Acho que eu teria que trabalhar uma vida inteira para conseguir dar o que ela deu para mim. Não me sinto responsável por isso, porque ela tem a vida dela, eu tenho a minha vida. Mas me sinto feliz e contente de poder ajudar minha família.

Mauricio Destri fala da relação de sua família com o seu trabalho

Como é o carinho da família em relação a esse sucesso todo?

Minha vó é analfabeta, mas ela escreve e fala coisas que eu não consigo falar. O português dela é muito interessante. Ela é kardecista e muito sensível. Ela fala que não consegue me ver no personagem, que sempre vê o neto dela Maurício. Muitas vezes quando ‘estou apanhando’, ela acha que sou eu. Ela fica mal, chora, sai de frente da televisão. E essas últimas cenas, a sequência que tem a releitura do Pietá, antes tinha uma cena com a Nathalia Dill (Elisabeta), que foi muito difícil gravá-la.

Não sei o que aconteceu naquele dia que deu um blecaute na minha cabeça. Pedi para regravar essa cena, pois ela era importante. Era o Camilo revisitando toda a história dele, falando da mãe, do toque. Ela botava ele para dormir, sempre ela curava os machucados dele. Mas a cena foi ao ar sem regravar. E ela (avó) que é tão ingênua falou: ‘era tão verdadeiro o que você estava falando que eu desacreditei (que era o Maurício). Parecia muito real’. E até eu me surpreendi.

Inseguranças

As inseguranças são naturais. Tem um tempo ali que precisa ser cumprido, as cenas não podem se esticar tanto. Existe um limite de pausa, de respirar. E como eu não estava conseguindo executar e tinha esse tempo, era natural essa minha insegurança. Na vida, às vezes, têm momentos que a gente trava, que não sai a palavra. Você repete, fala três vezes a mesma coisa. E a cena tem um pouco isso. Três momentos que repito três vezes a mesma palavra. O cérebro é meio traiçoeiro.

“A gente poderia ter construído uma outra história”, afirma o ator sobre a relação de mãe e filho na novela

O Camilo vai ficar sabendo do passado de Julieta?

Ele vai entender. Não posso adiantar muito isso. Ela dá uma entrevista para um jornal, e ali ela fala todas as verdades. Vai, de uma forma muito sutil, pedir perdão, e eles recomeçam. Poderia ter sido diferente. A gente poderia ter construído uma outra história, mas é isso que a gente tem para hoje e daqui para frente a gente segue juntos nessa, para recomeçar essa história.

A impressão é que a novela voou, né?

Para gente também. É uma novela fácil de assistir.

Você acompanha a repercussão da novela no Twitter?

Não. Parei um pouco disso. Eu tinha que voltar a fazer isso. Sei lá… às vezes é um lugar tão esquisito. Às vezes prefiro ligar na Netflix. A última coisa que assisti foi La Casa de Papel. Tenho lido Manoel de Barros também, que é um cara muito interessante, um teólogo, psicólogo, extremamente inteligente. Agora recente comecei a ler um livro dele, que ele pega os principais pensadores e cria uma ideia do que ele pensa e acha em relação aquilo.

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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