“Se ela lembrasse do rosto da mãe, não teria história”, explica Luisa Arraes sobre Manuela em Segundo Sol

Publicado em 07/06/2018

Na novela Segundo Sol, Manuela, interpretada por Luisa Arraes, é uma jovem problemática, e que foi criada por uma família rica após sua mãe biológica ser presa e envolvida numa teia de mentiras. A garota que cresceu odiando a mãe passará por uma nova fase na trama de João Emanuel Carneiro ao descobrir que seus parentes de criação estão envolvidos em corrupção.

Em conversa com a nossa reportagem durante um evento nos Estúdios Globo no Rio de Janeiro, a atriz falou sobre como enxerga a personagem, e contou como foi sua construção para viver a filha de Luzia (Giovanna Antonelli). Ela falou sobre a polêmica criada em torno da personagem não ter lembranças do rosto da mãe biológica. Confira o bate papo completo:

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Como tem sido participar da novela e a repercussão do público?

“É uma alegria muito grande participar da novela. Agora com a trama no ar, temos a resposta do público, o que é importante para saber o que cada um tem achado. Estou muito feliz que exista uma comoção em volta da história da Manu com a mãe. O público entende o buraco dos dois irmãos, mesmo eles sendo pesados em alguns lugares. Isso foi muito bem embasado, e todo mundo sente compaixão por eles. ”

Como é a Manuela para você?

“Ela é tanta coisa… Como ela viveu muita coisa, ela tem uma característica de quem não tem papas na língua, não tem muito a perder. Quem já perdeu muito acaba sendo disponível para fazer tudo o que acha certo ou errado. Ela não tem muitas amarras, o que a liberta. ”

O que muda na vida da Manuela com a família Athayde ficando na miséria?

“Isso é muito legal porque se espera que uma pessoa como ela vá reagir mal diante das notícias de corrupção envolvendo a família, mas ela acaba ficando ao lado da família. Ela está acostumada com pessoas falhas, ela entende mais o lado humano, está mais acostumada com pessoas com muitos lados. Ela não é do tipo que fala ‘ah meu mundo caiu’, ela segue em frente. ”

Ela está tendo convivência com a Ariella, e mesmo sendo uma jovem vivida, como você acredita que será a reação dela ao descobrir que o ídolo é na verdade sua mãe?

“Isso é uma loucura porque a Ariella se transformou na nova mãe dela, e saber que a pessoa que ela mais a ama é a mesma pessoa que ela mais odeia não tem como ser fácil. ”

Como você enxerga essa questão da Manuela não ter nenhuma lembrança do rosto da mãe? Como ela não acha a Ariella nem parecida com a mãe?

“Eu acredito que se ela achasse parecida não teria história. Se ela lembrasse do rosto da mãe, não teria história. Acho que ela tem essa memória muito longe, como um sonho. A gente sonha com as pessoas, e não lembramos do rosto delas. Ela gosta dessa mulher desde o primeiro dia que a encontrou, sente uma coisa estranha entre elas. ”

Você acredita nessa força da genética?

“Acredito muito mais na criação. Tenho muitos amigos adotados que são a cara e o jeito dos pais, mas sobre a Manuela, tem uma coisa da genética ali indubitavelmente. Ela nunca se identificou com a família que a criou, só com a Zefa (Claudia Di Moura), pessoa que ela tem mais proximidade dentro da casa talvez pela origem humilde, ou por ser sentir mais confortável perto dela. ”

Você fez uma personagem mais leve em A Fórmula, depois fez Grande Sertão no teatro com uma personagem densa. Como é para você fazer a Manuela?

“Eu gosto muito dos sentimentos grandes. A nossa pesquisa na peça Grande Sertões é que não existe lá um sentimento domesticado, é paixão, terror, morte, não é a conduta civilizatória com a qual estamos acostumados. A Manuela não é ‘domesticada’ também, e como ela não teve essa criação civilizatória, ela se sente na permissão de fazer o que quer. A coisa da droga por exemplo, é uma desobediência porque ela não tem senso de autopreservação. ”

Ela ama o Acácio? Porque parece que ela se envolver com o Narciso.

Ela ama o Acácio (Dan Ferreira). Ela não tem regras claras, ela quer se vingar da irmã e se vinga através do Narciso, mas não se envolve com ele não. ”

As pessoas criticaram muito o seu corte de cabelo. Nas redes sociais falaram para demitirem o cabeleireiro que fez isso com você. O que você acha?

“Acho muito engraçado que as pessoas se preocupem tanto com isso. Eu amo esse cabelo, acho lindo. Para interpretar uma menina toda diferente e descompensada como a Manuela, as pessoas queriam que eu tivesse usando um Chanel? Acho esse cabelo lindo, mas não é um corte careta, e geralmente as pessoas que criticam querem algo mais careta. ”

Você já incorporou as gírias baianas ao seu vocabulário?

“As gírias são um barato porque aqui é pesquisa de campo. A nossa figurinista é super baiana, e sempre pergunto para ela, que me dá vários toques. Não são só gírias com as quais estamos acostumados porque a Bahia tem gírias muito próprias, como ‘barril dobrado’, que adoro. ”

Há um tempo não a víamos tanto na televisão, e parece que você está fazendo mais TV atualmente não é?

“Eu gosto muito de circular, então não acho que aumentou minha frequência na TV, nem diminuiu graças a Deus. O Grande Sertão ocupou meu ano inteiro. Não teria podido fazer a peça se estivesse fazendo algo na TV. É um jogo. Eu só tinha feito uma novela (Babilônia), e eu achava que era um papel gigante, mas era pequeno comparado a este. Agora é outra coisa (risos). ”

O que as pessoas te dizem sobre a Manuela nas ruas?

“Não tenho tempo de sair na rua, só estudo, venho para cá [Estúdios Globo] e nado. ”

Como foi a composição para viver a Manuela?

“Nossa vivencia e ensaio é muito do que a gente já passou e já viveu. Cada ator tem seu método e muda de acordo com cada trabalho. Eu não busco por exemplo um realismo. A Manuela se droga, mas a droga bate em cada pessoa de um jeito, então a doideira dela não foi pesquisada, a doideira dela vai ser como eu inventar. ”

A relação dela com a Rochelle também é muito complicada não é. Você acredita que a Rochelle é uma grande influência para a Manuela agir como age?

“Com certeza! Elas brigam como gato e rato. Uma hora uma ganha, outra hora a outra ganha. Tem amor entre elas, vemos pouco, mas em alguma hora elas se amaram, não nasceram brigando. ”

Você está sendo muito elogiada, como você lida com isso?

“Importante é não acreditar. Eu fico muito feliz com isso, porque o que eu busco no trabalho é uma coisa muito séria. O lugar da televisão é diferente do teatro muito mais no sentido da imagem do que no conteúdo. Mas no teatro aprendi a coisa do sacerdócio, de ser carnal, da matéria, isso é [a atuação] para mim. O negócio é mais sério, então se as pessoas gostam, é uma alegria enorme. ”

O que você acha do figurino da Manu?

Eu amo. Se vocês forem perceber, a Manuela tem apenas três blusas, dois shorts e duas calças. Eu também vivo com pouco justamente para ter essa liberdade artística, mas tenho mais roupas que ela (risos). A Manuela é subterrânea, o figurino é onde ela se sente mais confortável.

Você tem algum cuidado especial com o corpo?

“Tenho nadado. Para mim é importante a coisa do exercício com a meditação, costumava fazer ioga, mas agora eu nado. Sair daqui, ir nadar e ficar 1 hora em silencio é fundamental. ”

Em que você se identifica com a Manuela?

“Sempre acho essa pergunta dificílima. Alguma coisa devo ter parecida com ela, mas é análise. Talvez a valentia e essa coisa de tentar ter a própria identidade. ”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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