Caco Ciocler fala sobre o relacionamento de Edgar com o irmão em Segundo Sol e a experiência de ser avô aos 46 anos

Publicado em 16/05/2018

Em sua volta ao horário nobre da Globo, Caco Ciocler, interpretará Edgar, um arquiteto renomado, personagem que fez o ator perder cerca de 5kg. Em Segundo Sol, Caco terá a experiência de dar vida a um personagem baiano e sua história no folhetim de João Emanuel Carneiro promete ser bastante polêmica, a começar pelo fato de que Edgar se envolverá em um caso de racismo.

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A história do seu personagem parece ser bem interessante. Como é que foi para você descobrir essa história?

“Eu acho uma história muito importante de ser contada, porque ela envolve uma série de questões que a gente está vivendo hoje. São dois caras que cresceram juntos na mesma casa, como se fossem irmãos, mas na hora de dormir um ia para o quarto da empregada, o outro ia para casa grande, um é negro, o outro é branco, são várias questões assim. O João Emanuel genialmente colocou esses dois personagens que cresceram na mesma casa, que se consideram irmãos sem saber que são irmãos de verdade, mas que tem uma relação de irmãos e que chega uma mulher, desperta uma disputa de irmãos, mas que é uma disputa que envolve uma série de outras coisas que eles podem não saber conscientemente, mas são anos de coisas mal resolvidas que estão ali sendo discutidas e brigadas na porrada, então eu acho muito bonita essa história e eu e Fabrício (Boliveira), o João, o Dennis (Carvalho) estamos tentando dar um jeito de não deixar a coisa tão chapada, de não ser o herói negro que sofreu a vida inteira e volta agora para se vingar, do branco, babaca e malvado.”

Por que os dois são bem parecidos, né?

“Claro, eu também sou vítima de uma criação oligárquica que eu não tenho consciência dos privilégios, como acontece com muita gente no brasil que não tem nem noção dos privilégios que tem. Então é uma relação muito colorida, com muitas idas e vindas, com muitas reviravoltas, quem manda em quem na história inteira, é uma disputa muito rica.”

Você chegou a gravar na Bahia?

“Não, só na cidade cenográfica.”

Mas já conhece a Bahia?

“Já. Eu adoro a Bahia.”

Seu personagem tem um sotaque ou não?

“Então, quando eu fui convidado para a novela eu falei: ‘Gente, mas olha a minha cor, eu não posso ser um baiano’. E aí eles falaram que justamente a oligarquia baiana, claro que não toda, mas a grande maioria é branca, tem muito pouco sotaque, a gente tem alguns exemplos de empresários e outras pessoas importantes que vieram da Bahia que quase não têm sotaque, então é quase como se fosse uma ilha dentro da Bahia, então o sotaque foi uma grande preocupação. Na fase nova ele não tem tanto sotaque, porque ele provavelmente nem estudou na Bahia, ele deve ter ido estudar em outro lugar, no exterior, sei lá. Mas na segunda fase ele vai ficar mais próximo do pai, mais próximo eu digo que a gente vai ficando mais parecido com os nossos pais, aí eu coloquei um sotaquezinho, o do meu pai já é leve e eu coloquei um pouquinho mais leve.”

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Você falou que a gente fica mais parecido com os pais, você notou isso com você também? Porque realmente a gente vai pegando as manias…

“Sim, principalmente as que a gente não gosta.”

E quais manias você já pegou dos seus pais?

“Às vezes eu me vejo falando com meu filho e eu falo: ‘Gente isso é meu pai, não sou eu’. E eu lembro que odiava quando meu pai fazia isso.”

Mas hoje você entende porque ele faz isso?

“Não, não entendo. Isso é uma coisa que a gente vai pegando e vai ficando igual, impressionante.”

Mas o seu filho, já pegou algum trejeito seu?

“Já. Não sei te explicar, são maneiras de rir, palavras, tipo de coisa que se preocupa. É engraçado.”

Quando você começou a ser ator, você fazia engenharia. Como surgiu esse interesse tão diferente do que você fazia?

“Eu já fazia teatro amador durante muitos anos, mas eu vim de uma família tradicional, né? E ser ator não era uma coisa fácil, nem internamente e aí com 17 anos, eu pensei: ‘O que eu vou fazer?’. Eu já amava o teatro, aí eu não sabia o que fazer e queria ser físico nuclear, aí meu pai falou: ‘Físico nuclear? Vamos conversar com o dono do cursinho para ver o que ele acha disso’. E aí ele falou que engenharia nuclear não tinha muito campo no Brasil e perguntou porque eu não fazia engenharia química e aí eu topei. A gente tem que escolher com muita pouca idade, né? 17 anos, o que a gente sabe da vida?”

Mas você chegou a se formar?

“Eu fiz quatro anos. Faltava um ano e as dependências dos outros quatro.”

E como que seus pais reagiram?

“Muito mal.”

Eles tentaram te fazer continuar no curso?

“Não deu tempo. Eu não contei muita coisa para eles, no meio da engenharia, eu já entrei na escola de teatro da USP, em 1995, eu fiz uma peça profissional e ganhei vários prêmios, três meses depois, a minha namorada estava grávida do meu filho e uma semana depois eu recebi um convite para fazer uma novela. Eu cheguei para eles e falei que estava saindo de casa porque iria ser pai e que havia recebido um convite para fazer uma novela, não deu tempo.”

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E hoje qual seria sua reação se o seu filho decidisse largar alguma coisa?

“Ele resolveu largar. Inclusive ele vai ser pai agora, eu vou ser avô. Tudo igual.”

E você reagiu como seu pai ou foi mais tranquilo por já ter passado por isso?

“O impulso foi reagir que nem eles, e aí eu falei: ‘Opa”, não posso fazer isso, então eu reagi diferente’. Enfim.”

Como é a relação de vocês hoje?

“Maravilhosa! Eu o amo, ontem, eu estava deitado na cama, ele bateu na porta e disse que queria me abraçar.”

Você está muito ansioso para o neto chegar?

“Agora estou, nessa reta final, deve ser logo. Vai ser uma menina e vai se chamar Elis.”

Vai ser reforçada a preocupação, ainda mais com menina, né?

“Então, eu não tenho essa experiência, meu filho é homem, não sei nem como pegar uma menina.”

Você já deu alguns conselhos de paternidade para ele?

“Não. A gente aprende a ser pai, sendo pai. Eu fui pai muito novo também e não adianta, ele vai ser um puta pai eu tenho certeza.”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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