“A gente só não pode silenciar”, diz Lázaro Ramos sobre a falta de atores negros em Segundo Sol

Publicado em 17/05/2018

Um dos atores mais bem-sucedidos de sua geração, Lázaro Ramos se despede em 2018 da elogiada série Mister Brau ao lado de Tais Araújo e grande elenco. A carreira do artista baiano vai além da TV onde também apresenta pelo Canal Brasil, Espelhos.

Lázaro tem mostrado cada vez mais a sua versatilidade e engajamento ao protagonizar e produzir peças de teatro, como o Topo da Montanha e O Jornal, além de se preparar para o lançamento de mais dois longas no segundo semestre.

Nos últimos tempos, e por conta do nascimento dos filhos, Ramos tem se dedicado ainda mais à literatura com o lançamento de livros. No próximo domingo, 20/05, 15h, na Livraria da Villa, em SP, o artista autografa Caderno Sem Rimas da Maria.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, o ator fala sobre sua carreira na TV, das suas inspirações como escritor e também sobre a polêmica que a atual trama das 21h, Segundo Sol, está envolvida. O folhetim se passa na Bahia, mas conta com poucos atores negros.

Você está na capa da edição especial da Revista Raça. Qual é o valor e a sensação de tudo isso? 

Quando eu estava começando a fazer teatro na Bahia eu sonhava em ser capa da Revista Raça. Isso faz parte da minha formação, onde eu me via, onde eu via sonhos possíveis. A gente trabalha tanto e precisa reconhecer quando estar num lugar que a gente sempre desejou.

Sua carreira como escritor vem ganhando mais destaque. Agora é um livro sobre a sua relação com a Maria…

Quarto livro infantil. Totalmente em cima da minha relação com a Maria. Eu não sabia que os livros que eu estava escrevendo eram para crianças. Eu não tinha um compromisso de ser um autor com uma encomenda para uma editora. Eu gosto muito de escrever e depois que tive filhos eles me estimularam.

Fiz o primeiro livro, Cadernos de Rimas do João. Pai inexperiente, então, resolvi explicar coisas do mundo pra ele através de rimas como coisas simples como saudade, amor, ou difíceis como morte. Como explicar morte para uma criança? Já o da Maria, pai de uma menina, me trouxe outros desafios. São palavras inventadas para sensações que a gente descobriu no nosso relacionamento.

Como é a sua relação com a literatura?

Eu sempre escrevi muito desde adolescência, mas não tinha coragem de mostrar. Eu tenho coisas guardadas desde os meus doze anos. Meu primeiro livro infantil eu escrevi para a criança que eu fui. Depois que eu tive filhos eu escrevo para os adultos que eu quero que meus filhos sejam. Sabe? Sabe quando você quer passar valores com humor, autoestima, lazer, diversão, afeto entre pais e filhos, saber que é possível brincar entre pais e filhos. Tudo com uma diversãozinha do meu jeito.

O que você está lendo atualmente?

O Sol na Cabeça, Giovani Martins.

O que o público pode esperar da última temporada de Mister Brau?

Sucesso. Última temporada. Muito especial por tudo que a gente está contanto. A gente conseguiu realizar algumas coisas que vinham sendo planejadas desde a primeira temporada. Tem um episódio que eu gosto muito que é todo cantando. Quem é fã da série vai se surpreender muito. Vai ficar na memória das pessoas.

Há algum tempo a Tais Araújo afirmou que pensou em dar uma pausa na carreira. Vocês são casados e possuem a mesma profissão. Trocam conselhos, um incentiva o outro? 

Muito incentivo. Isso é uma coisa bacana que a gente conquistou na relação. Sabe quando você não precisa dar opinião? Só precisa dar abraços? Essa é uma conquista que a gente já tem há alguns anos.

Segundo Sol vem sofrendo criticas por não ter em seu elenco atores negros, já que a trama se passa na Bahia. Como analisa tudo isso?

Vivemos um momento em que a sociedade está debatendo todos esses assuntos. São assuntos do nosso dia a dia. É bacana discutir essas coisas, rediscutir contratos, ver se tá bom e se não tá bom. A gente só não pode silenciar. Tem que falar, gente. Vamos discutir e ver como resolve e se fica bom para todo mundo.

Novos projetos para o cinema?

Estreia em novembro o filme dirigido pelo Murilo Benício, Beijo no Asfalto, do Nelson Rodrigues, sou o protagonista ao lado da Deborah Falabella. E, em breve, o filme do Jefferson D., Correndo Atrás. Uma comédia que é protagonizada pelo Ailton Graça.

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