“Vai ser útil para que a mulher passe a prestar mais atenção em si mesma”, diz Natália Leite, do Superpoderosas

Publicado em 06/04/2018

Nova aposta da Band, o SuperPoderosas estreia na próxima segunda, 09/04, 09h50, prometendo ser mais que um programa feminino, a atração comandada por Natália Leite tem como objetivo ser um aliado das mulheres que lutam diariamente para darem conta da casa, dos filhos, casamento e das cobranças no trabalho tendo como aliadas elas mesmas.

Ana Paula Padrão adianta detalhes de Superpoderosas, novo programa da Band

Desde os anos 60 as mulheres vêm ganhando cada vez mais espaço na mídia e no mercado corporativo. O seriado Malu Mulher, da Globo, estrelado por Regina Duarte, é um grande exemplo dessa mulher que enfrenta as imposições da sociedade em busca da sua independência. Mas para tanto precisou lidar não só com o preconceito dos homens, mas também das mulheres.

Stepan Nercessian assume comando de novo programa da Band

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Natália diz acreditar que uma grande transformação nas relações interpessoais entre homens e mulheres, e principalmente entre elas, pode contribuir para um mundo menos desigual: “É belíssimo quando uma mulher se dá conta de que ajudar a outra é bom pra todas. As mulheres são as principais responsáveis pela educação dos nossos futuros líderes”.

Inspirado no Escola de Você, plataforma online e gratuita idealizada por Natália e a jornalista Ana Paula Padrão, o matinal quer mostrar que a competição feminina é coisa dos anos 90. O programa terá como base histórias de mulheres inspiradoras que podem contribuir para que a vida de outras tantas possam também desabrochar.

No palco do programa o público poderá conferir dicas de comportamento, negócios, estilo contando com um time de “aliadas”, como as colunistas da atração são tratadas. Estão previstas também a participação de personalidades que são destaques na TV, entre elas, a atriz Carolina Ferraz.

Durante o bate-papo, a jornalista e apresentadora conta um pouco de sua história, a sua relação com a colega e amiga Ana Paula Padrão e o que o público pode esperar do programa: “Ele vai ser útil para que ela [a mulher] passe a prestar mais atenção em si mesma. O SuperPoderosas vai ajudar cada uma a se reconhecer nas forças que já tem”. 

Quem é a Natália Leite?

Nasci em Brasília, filha de pais nordestinos. Pai médico, intelectual, poliglota, referência intelectual e modelo que me fez ser uma leitora voraz, curiosa por conhecimento. Mãe professora, formada em letras, fez Mestrado, Doutorado, sempre trabalhou muito. Ela me incentivou a seguir a caminho acadêmico, fazer Mestrado. Sou apaixonada por livros, idiomas e viagens. Amo filosofia, psicologia e a poesia de Cora Coralina. Sou Mestre em Ciência da Informação, além de jornalista, escritora e empreendedora.

Por que escolheu ser jornalista? 

Sempre gostei de comunicação. Na infância, brincava de fazer filmes, de ser repórter. Nunca houve dúvida em relação ao ramo da comunicação. Simplificar as coisas, entender e explicar para as pessoas sempre foi natural em mim. Adorava quando os parentes iam visitar Brasília e eu podia ser guia turística. Isso me dava a oportunidade de apresentar a cidade, compartilhar o que sabia. Na hora do vestibular, pensei em publicidade ou relações públicas, mas a possibilidade de ter um impacto social positivo me parecia maior no jornalismo.

Pautas de comportamento sempre estiveram entre as suas preferidas? 

Comecei a carreira em Brasília cobrindo política, depois judiciário. Lá as pautas de comportamento eram raras. Em São Paulo tive mais oportunidades de fazer grandes reportagens, de mergulhar nas pautas de comportamento. Certamente é onde consigo dar o meu melhor.

Você passou a trabalhar com a Ana Paula Padrão na Record. Já acompanhava a carreira dela antes? Tem algo na Ana que te inspira?

Sim, a Ana Paula sempre foi uma referência importante para jornalistas nascidas em Brasília. Quando a conheci na Record, ela já tinha um trabalho importante com foco em mulheres.  Jornalista e engajada na causa feminina: eram duas razões para admirar e querer aprender com ela. Foi o que fiz. Me inspira a generosidade dela em ensinar quem quer aprender, em fazer com excelência tudo que escolhe, a capacidade de se colocar com clareza.  Ana Paula é amiga, é mentora, é referência em tantos aspectos!

Como e por que passou a se dedicar ao universo feminino? 

Minha avó foi uma retirante da seca no sertão cearense. Foi o que conseguiu ser nas circunstâncias que viveu. Era uma mulher sofrida. Comecei a estudar o assunto na tentativa de entender a ela e a mim mesma, minhas raízes. Me encantei pelo assunto. Eu nem imaginava o quanto nós, mulheres, somos moldadas culturalmente pra atender às expectativas dos outros. Estudar filosofia, psicologia, feminismo, tudo isso me acendeu um profundo desejo de traduzir essas discussões. Poucas pessoas têm tempo de ler 600 páginas para compreender de onde vem o medo de desagradar, o “mandato” de estar sempre disponível. Mas e se a gente transformasse esse livro num vídeo de dois minutos? Será que ajudaria as mulheres tão atarefadas do nosso tempo? Essas perguntas me levaram a começar as conversas com a Ana Paula Padrão sobre como nós poderíamos, juntas, contribuir com a construção da autoestima e de autonomia feminina.

Como funciona o Escola de Você, plataforma que você desenvolveu ao lado da Ana?

A Escola de Você é o nosso modo de responder à pergunta: como podemos ser úteis às mulheres que não têm tempo ou não tiveram a oportunidade de aprender algumas coisas que nos tivemos a chance de ver? É uma escola, na internet, gratuita, com cursos de autoconhecimento, empreendedorismo, comunicação. São conteúdos complementares a educação formal que, infelizmente, não se ensina nas salas de aula.

O mundo mudou e muito nos últimos anos: a pílula anticoncepcional, o divórcio, a entrada da mulher no mercado de trabalho, na universidade, maternidade x carreira, a mulher na política, redes socais… Quem é essa “nova mulher”? 

É uma mulher que quer se livrar dos rótulos impostos ao feminino. Que quer liberdade, que entendeu que juntas vamos mais longe, que ocupa todos os espaços na sociedade. Uma mulher que assumiu muitos novos papéis, sem abrir mais dos anteriores e agora busca o equilíbrio.

Como surgiu o nome do programa, Superpoderosas, a “tatuagem” usada para divulgar o programa e toda a arte envolvida? 

O nome é o modo mais simples de definir essa brasileira que faz muito com pouco, que cuida da família, trabalha, se preocupa com sua comunidade, vai à luta. Essas guerreiras da vida real são superpoderosas. O mérito da arte, da campanha com o S é todo da equipe de arte da Band. Nossa única contribuição foi dizer que adoraríamos ter a pegada da Rosie na campanha. Aí o time veio com essa ideia que a gente amou, inspirada no cartaz do pós-guerra.

Por que aliadas?  Como foram escolhidas as aliadas do programa?

Aliadas porque estamos aqui para servir. Nosso propósito é ser útil, prestar serviço, dar consultoria no que a SuperPoderosa que nos assiste quiser. Aliadas da mulher que nos acompanha nas questões dela. Nossas aliadas são as especialistas que constroem a Escola de Você com a gente, que são referências nas suas áreas e todo dia trabalham fazendo em seus negócios, o que vão entregar às SuperPoderosas que participarem do programa.

Como será a participação do público que está em casa? 

O programa vai ser co-criado. Quem está em casa manda seu vídeo, comentário, pergunta e faz via internet o programa que vai ao ar na manhã seguinte. Além das redes sociais, uma plataforma própria está preparada para ser canal para esta criação em conjunto. Cada pessoa diz o que quer e nossa equipe aqui corre pra achar o caminho, responder.  Não é mais a produção definindo o que vai ao ar.  É a produção perguntando: o que você precisa agora? Como a gente pode ser útil de verdade na sua jornada?

Qual é a base/pilar central da atração?

A gente criou um formato em TV que espelha o que fazemos há quatro anos na internet. Nossos pilares no SuperPoderosas são os mesmos que já testamos e comprovamos a eficiência  na Escola de Você: autoconhecimento, autoestima e empreendedorismo.

O programa dura em média 1h10 na TV e ainda terá uma extensão para as redes sociais, mas quantas horas de reunião, quantas pessoas envolvidas na produção?  

21 pessoas, quatro delas mais focadas nas redes sociais e internet. Todas elas produzindo para a TV, mas com olhar naquilo que pode ir para o digital.

Pelas chamadas e notícias que estão sendo divulgadas, o programa não terá o mesmo formato dos tradicionais femininos das tardes e manhãs da TV brasileira. Há até quem o compare com um TV Mulher repaginado/atualizado. O que seria esse “novo formato feminino da TV”?

SuperPoderosas é complementar ao que já temos no ar para o público feminino. Queremos ser úteis às mulheres que estão em busca de espaço no mercado de trabalho, que cuidam de suas famílias, que querem transformar o bairro onde vivem, que precisam equilibrar muitas funções, que querem compartilhar o que já aprenderam, querem saber mais, querem crescer.  Claro que nós não temos todas as repostas, mas podemos sim ajudar cada uma a encontrar as próprias respostas. É um espaço de formação. Segue o modelo que tem transformado as vidas de milhares de mulheres desde 2014, a Escola de Você. Nossa metodologia é fruto de pesquisa, tem aprovação internacional como inovação pedagógica e negócio de impacto social. Esta é a alma do SuperPoderosas.

Em algum país há algo parecido? 

Não encontrei referência.

No cinema e na TV tivemos recentemente mulheres em destaque (Gravidade, Mulher-Maravilha, Atômica e A Força do Querer contam com mulheres com grande destaque por conta de suas histórias). Como a TV e a mídia como um todo podem contribuir para empoderamento da mulher? 

Todos nós somos formados pelo que consumimos. O que a gente escolhe ver, ler e ouvir – seja na internet, na TV ou nas rodas de conversas entre amigos – vai nos moldando.  É assim que a gente aprende quais são os padrões de beleza e comportamento, por exemplo. Fico muito feliz com os avanços na forma como as mulheres têm sido apresentadas. Quanto mais diversidade de modelos, mais fácil para as meninas se reconhecerem. Quando uma menina enxerga referências femininas fortes, baixas, altas, gordas, magras, ela entende que tá tudo bem ser quem ela é. Que tudo é possível. Tomara que tenhamos cada vez mais programas, filmes, séries de todos os jeitos, todos os tipos.

A jornada de trabalho que se estabelece dentro de casa também é pesada: lavar, passar, cozinhar e cuidar dos filhos e casamento. Como essas mulheres, que dedicam grande parte do seu tempo à família, poderão se ver nas situações apresentadas no Superpoderosas? 

Vou te dar um exemplo. Muitas mulheres que se dedicam prioritariamente ao trabalho em casa, também fazem bolos para fora para complementar a renda, ou costuram. Ela é uma empreendedora!  Mas não se reconhece como tal. Você pergunta sobre os negócios ela e ela te diz, “imagina… Negócios? Só faço uma coisinha pra ajudar na renda”. Talvez ela tenha um trabalho social, na igreja do bairro, e não se enxergue como uma pessoa que está transformando sua comunidade. SuperPoderosas vai ajudar cada uma a se reconhecer nas forças que já tem.  Na grandeza de quem já é e, por diferentes razões, nem se dá crédito. Isso é construir autoestima. Essa mulher que cuida de casa pode enxergar em um exemplo mostrado no programa novas possibilidades de atitudes que podem melhorar seus relacionamentos, de cuidado com saúde que podem fazê-la se sentir melhor. O estímulo é para que cada uma olhe para si e, a partir do ponto aonde está, avance. Não pela régua do outro. Não pelo padrão do outro. Mas pelo dela mesma. E se ela nem souber o que quer pra si ou onde quer chegar? O programa vai ser útil para que ela passe a prestar mais atenção em si mesma.

“Competição entre mulheres é algo tão dos anos 90”. Essa afirmação foi dita por você em um dos vídeos do programa nas redes sociais. Vejo que há um caminho longo para mostrar que as mulheres podem sim ser aliadas e não inimigas para toda a sociedade. Explique mais essa sua afirmação e se possível dê exemplos de situações que te chateiam e que carregam esse contexto, talvez competição por roupas, julgamento entre mulheres, entre outros. 

Concordo com você. Há um caminho longo. Ao mesmo tempo, nunca estivemos tão alinhadas sobre a direção a seguir. É belíssimo o que acontece quando uma mulher se dá conta que  ajudar a outra é bom pra todas, a começar por ela mesma. É libertador se dar conta de que você não precisa rodar o script velho de lugar, de criticar.  Você pode escolher apontar as qualidades que vê na outra, as possibilidades de parceria, de ganha, ganha. Defeitos todas temos. Se a gente foca neles, cai no mecanismo que diz dizer com a expressão anos 90. Não é automático deixar de julgar. É uma escolha consciente. Inicialmente pode ser um esforço não falar mal da colega do visual que você considera estranho, não levar adiante a informação que reduz a outra.  Mas como tudo, com a prática, vira hábito.

O que os homens e a sociedade ganham quando o mercado, as relações familiares, entre outros setores, possuem mulheres engajadas e  valorizadas? 

A gente só pode entregar aquilo que tem. Uma mulher exausta, frustrada, não tem como entregar entusiasmo, alegria e vigor a ninguém. Se ela cresce e se sente bem consigo mesma, tem condição de ser exemplo vivo para quem a cerca. As mulheres são as principais responsáveis pela educação dos nossos futuros líderes. Quanto mais realizadas elas estiverem, melhores exemplos serão.

Onde os homens podem se encaixar nas pautas do programa? 

Nossa prioridade é contar histórias de mulheres. O humano aprende pelo exemplo e precisamos enxergar as referências de mulheres próximas a nossa realidade que encontraram propósito, que nos inspirem. Agora, vivemos em sociedade e queremos um mundo equilibrado. Claro que a perspectiva masculina estará presente sempre que fizer sentido. A história é da família? Claro que a visão do homem também terá destaque. Uma mulher está transformando uma comunidade com um trabalho social e há homens envolvidos? Queremos ouvi-los!

Está ansiosa para a estreia do programa? Como lida com as criticas? 

Sim! Muito. Não vejo a hora de decolar. Formamos um time engajado, consciente do propósito que nos conecta. Queremos que cada SuperPoderosa que nos assiste se apaixone pela própria vida, tenha ferramentas para evoluir e saiba que não está sozinha, que há uma rede com a qual ela pode e deve contar. A rede de alunas e Embaixadoras da Escola de Você que agora também estão de braços abertos para receber as SuperPoderosas. Como lido com as críticas? Sofro quando são maldosas. Aprendo quando são bem intencionadas. As criticas fazem parte da vida e me esforço para tirar proveito quando é possível.

Qual é o super poder da Natália Leite? 

Puxa! Todas nós temos tantos Super Poderes. Tenho o Super Poder da alegria e do otimismo também.

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