Fernanda Rodrigues fala de sua personagem Fabiana, de O Outro Lado do Paraíso: “Espero que ela se dê mal, ela é uma cobra”

Publicado em 23/03/2018

Reconhecida por diversos papéis coadjuvantes em novelas da Globo, Fernanda Rodrigues apareceu no ar na televisão com grande destaque em 2017 e 2018. A atriz faz uma das vilãs de O Outro Lado do Paraíso, atual novela das 21h, da emissora carioca. A personagem apareceu em uma participação especial, desapareceu porém, voltou se unindo a outro vilão, Renato (Rafael Cardoso), e deve continuar até o fim.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, ela contou sobre como aconteceu sua entrada na novela de Walcyr Carrasco e como se surpreendeu com a repercussão de sua personagem Fabiana. Ela se arrisca a dizer o que deseja para a personagem.

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Além disso, Rodrigues fala de como é voltar para suas raízes, às gravações de novelas na Globo. E como pretende conciliar o seu retorno às novelas com o programa Fazendo a Festa, no GNT. Confira.

Você conversou comigo na coletiva e disse que não sabia muita coisa, pois não tinha gravado ainda. Você fez uma participação como a Fabiana e agora voltou para a novela. Conta para a gente como está sendo.

Quando fui convidada para fazer a personagem, ficou acertado que ela era uma participação de 10 capítulos. Para isso adiantei a sétima temporada do Fazendo a Festa, fiz uma organização com o GNT para eu poder gravar esses capítulos e continuar fazendo o programa. Era apenas uma participação porque ela tinha uma função na história, que era mostrar o lugar em que a Clara (Bianca Bin) iria pegar os quadros, ficar rica e seguir a vida dela. Na minha cabeça, não tinha esse retorno, mas foi um sucesso, as pessoas adoraram, e fui convidada a voltar. É muito bacana quando você faz uma coisa sem expectativa de continuar e aquilo dá tão certo que as pessoas pedem para você continuar. Fiquei super feliz e emocionadíssima quando o Walcyr me ligou. Achei o máximo esse sucesso a ponto de o autor querer te colocar de novo.

A Fabiana é uma nojenta, não é?

Acho que foi esse o motivo de ser um sucesso tão grande sabia? A pessoas me viram num registro tão diferente do que estão acostumadas a me ver, que isso ao invés de causar estranhamento, causou nas pessoas uma alegria de me ver fazendo algo diferente. Creio que isso tenha sido determinante para o sucesso da personagem. O ator vive disso, dos desafios da profissão, e estou muito feliz de poder fazer a Fabiana novamente.

Fabiana e Renato, dois vilões se encontrando. Conta para a gente como vai ser essa história.

Está sendo muito legal. O Rafael (Cardoso) e eu queríamos que esse casal tivesse uma liga, uma química muito grande e as pessoas acreditarem que eles são de fato um casal, mesmo sendo vilões. Trabalhamos e ensaiamos muito isso. O Rafael foi muito generoso porque afinal, o resto do elenco está em clima de reta final da novela, e eu entrei agora com todo o gás como se a trama tivesse começado ontem. Não posso falar muita coisa, mas acredito que esse casal tem tesão no poder, são pessoas muito interessadas no dinheiro, e isso motiva um pouco a paixão que eles sentem, e faz com que tenham química. É aquela coisa de quando o mal se atrai e aqui ele se atraiu, e esses dois viram que juntos, o poder deles duplica, ou seja, é uma dupla difícil de lidar. Coitadinha da Clara (risos).

A Fabiana está falida, então entrou num momento de se levantar…

Uma pessoa como ela nunca fica completamente falida.

O que você deseja para a Fabiana?

Ah, como atriz ou como telespectadora? Como atriz desejo muitas cenas boas como as que já estão acontecendo, para que eu possa brincar e experimentar coisas novas, criar e jogar, afinal a interpretação é isso, é o jogo. Temos feito muitas cenas assim, e tem sido muito divertido. Como telespectadora, espero que ela se dê mal porque ela realmente é uma cobra. Ela não presta, internou a avó, o que já foi uma grande maldade, e vai fazer um monte de coisa para atazanar a vida da Clara, então, para mim ela não merece um final feliz, mas se tiver, vai ser legal também.

Como estão seus filhos?

Estão ótimos. A Luiza está com 8 anos e o Bento com 2 anos, e estou me dividindo em mil para estar na vida deles, porque tento ser muito presente para os meus filhos e estou me desdobrando, fazendo aqui, a próxima temporada do Fazendo a Festa, escrevendo meu livro, fora a peça do Tô Grávida e está dando tudo certo.

Você começou como atriz e se tornou comunicadora. Você acha que sendo mãe, esse programa chegou no momento certo para você?

Com certeza! O fato de eu gostar desse universo de festas infantis é uma realidade que vivo. A vida social dos meus filhos é muito ativa. As crianças hoje em dia têm muitas festas de aniversário, então eu realmente frequento, e acredito que esse programa tenha sido um presente. Muita gente acha que é um projeto meu e que fui eu quem levei para o GNT, mas na verdade eu fiz teste para poder apresentar. Me lembro que no dia do teste falei “Esse é programa é meu, é a minha cara”. Muito do sucesso dele é pelo fato de eu me envolver, porque realmente me envolvo nas histórias, me divirto com os pedidos e me emociono. Fazendo a Festa é uma alegria imensa, e quero que ele tenha uma vida muito longa, e apesar de estarmos na sétima temporada, sinto que ele tem muito fôlego. Quero ficar velhinha e apresentando esse programa.

Você aprende muitas coisas no programa não é mesmo?

Eu não era uma pessoa muito habilidosa com coisas manuais de festas, e de casa, até porque não tinha muito tempo e com o programa fui aprendendo muita coisa, não só de decoração, mas de doces, de tudo o que o programa envolve. Hoje em dia eu tenho a ousadia de me meter um pouco nas festas dos meus filhos. E o programa resgata muito essa coisa do Faça Você Mesmo, da festinha menor feita em casa, da avó enrolando o brigadeiro, e essas por exemplo são umas das memórias mais legais que tenho das minhas festinhas de criança, em que eu via minha mãe colocando granulado, minha avó costurando a asa da borboleta para uma roupinha que eu iria vestir… Apesar de eu apresentar um programa de festas super legais, meus filhos gostam de festas super simples, como banhos de mangueira, e essas coisas. Na última festa da minha filha, eu dei a ideia de fazer uma super festa, e ela “Ah não, vamos chamar todo mundo e pular na piscina”.

A sua filha sempre que aparece no programa é uma atração. Você acha que ela vai seguir essa carreira?

A Luiza é uma estrela né? Todo mundo me fala isso. Ela adora visitar o programa, e adora. Pergunta às vezes “Posso fazer a sua luz”? A diretora pede para ela falar algo e ela fala, é algo natural dela. O episódio que ela apresentou foi o mais visto do Now, ou seja, já posso me aposentar gente (risos). No início eu não a impedia de ir às gravações, mas não ficava botando pilha também e fui percebendo que ela ama. Participamos do Tamanho Família essa semana, minha família contra a família do Thiago Fragoso, e a Luzia declamou um monólogo tipo “Hoje vou contar a história da Fernanda Rodrigues”. Eu chorei tanto que parecia que eu tinha sido espancada, o Brasil vai ver que eu choro feio (risos). Eu consegui segurar até agora, mas não está mais tendo jeito.

Você começou cedo numa época diferente da dela…

Eu comecei cedo, mas tinha nenhum artista na minha família, então, era um instinto e fui aprendendo na prática. Ela me vê fazendo, vê o pai dirigindo então parece que ela já nasceu pronta. Ela entende o tempo, a marcação, a luz, coisa que eu não tinha noção e fui aprendendo, e ela parece que já sabe.

Existe alguma preocupação por ela seguir essa carreira?

Não existe uma preocupação porque eu sou atriz, e quando eu quis em algum momento alguém me levou e não posso impedi-la, mas sei que é uma carreira instável, que é difícil permanecer e quero que ela tenha esse entendimento. Eu tinha 10 anos quando fiz Vamp, minha primeira novela e já entendia que era aquilo o que eu queria e o Raony (Carneiro – marido) conversamos com ela para mostrar que é uma profissão complicada, precisa estudar, levar a sério, não tem esse glamour. Quando ela fez o programa perguntei se ela queria mesmo, expliquei que daria trabalho, era cansativo, ela ficaria horas esperando, e se uma hora ela decidir que é isso o que ela quer, como já estamos vendo acontecer, quero que ela tenha entendimento de tudo o que precisa para ser uma boa profissional. Às vezes ela diz que quer ser bailarina clássica, e eu digo “Tudo certo, então vamos fazer balé”.

Você falou de glamour, e a gente vê nas suas redes sociais que você é uma pessoa de verdade, que se preocupa com os outros…

Eu percebi que no meio, aí a parte humana cada vez mais a profissão foi mudando, e entrou uma coisa de muito glamour vai indo embora. Vejo até em pessoas da minha idade deixando de se importar com os outros, então, como é da minha personalidade, eu penso em como poderia tocar as pessoas de alguma coisa. Claro que a gente usa para divulgar a peça, o programa, a novela, mas precisa ter alguma utilidade maior senão não faz sentido. Quando a Luíza resolveu cortar o cabelo e doar, eu não postei para aparecer e sim para mostrar às pessoas que elas podiam fazer o mesmo. A Fundação Laço Rosa me ligou dizendo que eles nunca tiveram tanta doação de cabelo. Precisamos usar as redes sociais a nosso favor, mas a favor do outro também.

Você inclusive postou um vídeo preocupada com a quantidade de chuvas…

Eu nunca gostei de chuvas fortes, sempre fico preocupada. Eu penso, tenho uma casa, mas as pessoas que tem uma casa com uma estrutura menor? No dia seguinte desse vídeo da chuva, a Luiza chegou em casa contando que a inspetora da escola dela perdeu tudo. Fizemos um mutirão lá em casa, e levamos várias coisas, e quero passar isso para os meus filhos, e fico feliz por estar criando pessoas legais, por que o ser humano deu ruim, né? Mata-se por muito pouco, briga-se por muito pouco, até na internet, as pessoas vão na sua página para brigar e criticar. Tento da maneira que dá, passar mensagens positivas.

Você se encontrou na maternidade, escrevia um blog, e agora vai lançar um livro, não é?

Vou. Quando eu ganhei a Luiza, me deram a ideia de escrever um livro para falar sobre o assunto e achei meio pretensioso, resolvi fazer um blog porque aí entra quem quer, é mais fácil, e não era para dizer para os outros o que fazer ou não, era só para contar minha experiência. Muitas mães entraram e trocaram experiências comigo nesses 4 anos de blog, e agora me senti mais pronta como mãe, e com mais maturidade para escrever um livro. A intenção do livro é dividir minhas experiências, e não dar lição, porque maternidade é única, é uma viagem que cada mãe faz a sua. O que eu puder ajudar os outros, ficarei feliz porque estou fazendo tudo com muito amor. Sou uma mãe diferente do Bento do que fui da Luíza, não tenho a mesma idade, o mesmo corpo. A primeira gravidez é muito insegura, e a segunda, eu já tirei tudo de letra. Falei a vida inteira que eu queria ser mãe, e tenho vários recortes de revista em que eu falava isso, fui até na terapeuta para me desvencilhar disso, porque eu só falava sobre isso, a Fernanda atriz, amiga, esposa acabou foi apagada pela Fernanda mãe, mas passou.

Você acha que a Fabiana chegou no momento exato para você?

Eu acho que veio no momento certo, mas eu não tinha tido essa oportunidade antes. Atriz sempre fui, mas faltava essa oportunidade. Em Negócio da China, eu era uma vilã que lutava contra a Bruna Marquezine, fiz registros diferentes da minha personalidade, mas nunca ninguém tinha apostado em mim para essa grande discrepância. Acho importante falar que no Brasil existe muito preconceito em relação aos atores, do tipo, a bonita sempre faz a bonita, a que tem cara de rica sempre faz a rica, tem sempre a gostosa. Eu já cheguei a pedir para fazer a gostosa, me olharam meio torto, mas eu disse “Eu fico gostosa”, afinal sou atriz. Em O Profeta, que eu interpretei a Gisele, era um papel de comédia e as pessoas diziam: “Ela não é comediante”, e eu falava: “Mas eu sou atriz, me deixa que eu vou fazer bem”, e foi o máximo. Ser atriz é se desafiar, e a boa oportunidade de fazer a vilã veio agora. Tem a ver com a maturidade de me sentir mais confortável em relação à idade, bagagem, de vida, mas tem também uma chance que me deram.

Parece que a Fabiana não vai conseguir sair bem desse processo, não é?

Será que ela vai morrer a tesouradas? (risos) Na rua já estão me falando “Olha a tesourada, hein?!”.

Vemos que você não gosta muito de aparecer, não fica fazendo capa de revista, vivendo no glamour nem nada disso. Você acha que a maturidade te mudou muito?

Teve um momento da vida que me senti remando contra a maré, por ver todo mundo nesse caminho da capa da revista, mas eu voltava para casa e pensava “Essa sou eu”, então, está tudo certo. Quando me tornei mãe, dei uma parada, e tive um tempo, fui viver minhas coisas, curtir minha família, e encaro esse como meu trabalho, no qual levo muito a sério, mas a minha vida é mais que isso. Acho que a maturidade ajuda muito, por exemplo, quando fui chamada para voltar para O Outro Lado do Paraíso, eu pensei “Poxa, que legal que reconheceram meu trabalho”, e acho que é o resultado de um trabalho de muita dedicação e muita remação contra a maré.

Com isso você conseguiu descobrir seus verdadeiros amigos?

Chega um momento da vida que a gente já entendeu o que funciona e o que não funciona mais, aprendemos a não ficar batendo cabeça por aí. Em todos esses anos de profissão, eu conheci e filtrei os amigos de verdade que eu fiz. Eu acho que isso tudo me traz uma maturidade para estar bem, e isso acaba refletindo em tudo inclusive no meu trabalho.

São quantos anos de carreira Fernanda?

Vamp eu fiz em 1991, então tem 27 anos. Mas eu estava com 10 anos, e antes eu já tinha feito algumas coisas como clipes. Eu sei que essa é a minha 18ª novela.

Nessa trajetória, teve algum momento de crise?

Não sei se chegou a ser crise, mas tiveram momentos mais difíceis, que chegaram muitas pessoas da minha geração, e fiquei um pouco perdida. Tentava escapar da internet e dessa coisa de glamour, comecei a pensar que eu poderia ter me rendido um pouco mais, mas depois surgiu o programa que me ajudou muito, e peça que fiz se tornou um sucesso, e foi essa bagagem que me ajudou a voltar alguns anos depois já fora da minha zona de conforto, porque era uma zona de conforto para mim, estar ali fazendo novela todo ano uma atrás da outra.

Esse casal, Fabiana e Renato vai durar?

Sim. Fabinato amor, agora vai que vai (risos).

O que você espera do final?

Admiro muito o Walcyr e o acho surpreendente. Acho ele gênio pela maneira como ele faz as viradas, mas não faço a menor ideia do que ele vai fazer, mas Fabinato vai junto até o final, até porque se encontraram no poder, e eles são muito discrepantes do Clarick (risos).

Você disse que se encontrou como apresentadora, e agora voltou às suas raízes. Como vai fazer? Vai tentar fazer as duas coisas?

Vou tentar seguir fazendo os dois. E realmente estou voltando às raízes. Quando cheguei aqui na Globo, no meu primeiro dia de gravação, parecia que estava voltando para minha casa, Go Home, parecia o E.T. (risos). Eu pensei “Olha, isso aqui, sei fazer”. Gosto de fazer o que faço, me sinto em casa e amo, e me encontrei apresentando. Se eu conseguir conciliar as duas coisas vai ser lindo. A estrutura que tenho no GNT me permite isso, e enquanto puder, vou fazer.

Como é o carinho das pessoas nas ruas?

As pessoas me viram crescer e têm uma intimidade comigo, uma relação de família. Chegam para mim e dizem “Oh, como você está? Como está sua filha?”. Acho muito legal porque realmente elas viram várias fases da minha vida. É um crescimento que gera uma comoção entre as pessoas, mas com a Fabiana a raivinha está ali. Já estou começando a sentir um sentimento de rejeição a ela. Quero dizer que não sou eu gente, sou legal. Falam “Como que pode eu te amar tanto no GNT e te odiar na Globo?” (risos). Isso é muito legal, a empatia está na torcida das pessoas de me verem crescer profissionalmente. É uma alegria imensa.

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano. 

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