Fábio Assunção define personalidade de Ramiro de Onde Nascem os Fortes: “O Cabra é ruim”

Publicado em 21/02/2018

Depois de viver o cientista Ricardo na série A Fórmula, Fábio Assunção voltará à TV em Onde Nascem os Fortes, nova supersérie da Globo que tem estreia prevista para abril. Na história escrita por George Moura, ele será Ramiro, um juiz corrupto que abusa do poder concedido a ele na pequena cidade de Sertão.  O Observatório da Televisão bateu um papo com o ator que classificou seu personagem como uma espécie de vilão, e mostrou a diferença entre Ramiro, e Renato, seu personagem em Celebridade, reprise exibida atualmente no Vale a Pena Ver de Novo. Confira:

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Fala para a gente sobre o visual desse seu novo personagem… 

Em Onde Nascem Os Fortes, eu faço um juiz do Sertão, e a ideia para o visual é que ele fosse mais rústico, um pouco inspirado nos coronéis antigos. Ele se veste todo em linho, parece uma figura um pouco fora do tom da série, e essa barba remete a essa forma de poder, já que ele é o juiz da cidade.”

E você está gostando dessa barba?

“Estou gostando, já acostumei. Acho que quando acabar a série, vou manter essa barba (risos).”

Como é o Ramiro, seu personagem na supersérie?

“Ramiro vive numa cidade muito pequena chamada Sertão. Ele é o único juiz da cidade, sem escrúpulos, que abusa do poder, manipula provas, movido por interesses particulares, e não tem um superior. É corrompido pelo poder, o que acho interessante de se retratar nesta época que vivemos. Ele exerce sua função da forma que ele quer.”

E a parte amorosa dele. Como vai ser?

“Eu acho que por essas características, ele tem muita dificuldade no amor. Ele faz coleção de aves, e acho que os únicos seres a quem ele demonstra afeto são essas aves, que ele cria num viveiro dentro de casa. No início da história, ele se envolve com a Cássia (Patrícia Pillar), mas evidentemente um cara como esse não consegue ser verdadeiro nessa relação, então, ele não é aquele cara romântico que tem um amor bem resolvido. Ele é complexo e cheio de problemas.”

Como está sendo fazer essa supersérie, que é formato novo?

“Eu já fiz novela de 200 capítulos, série de 8, de 20, e de 40 capítulos. O formato para mim não interfere tanto, porque nossa matéria prima é a mesma. Para mim, não tem relevância o fato de serem 52 episódios, porque não muda o jeito como me envolvo com o trabalho e com o personagem.”

Nos informaram que o formato de gravação é diferente, porque às vezes vocês gravam um capítulo do final da trama, para depois gravar capítulos do início, né?

“Mas sempre foi assim. Quero dizer, nunca gravamos na ordem cronológica porque gravamos por cenário. Tem uma coisa diferenciada sim, mas não pelo fato de serem 52 episódios. Começamos as gravações pelo sertão, e fizemos até o capítulo 30. Depois viemos para o estúdio fazer tudo, voltaremos para o sertão para fazer tudo do 30 em diante. Acho que tendo uma leitura do todo, não traz grande dificuldade.”

Como foi a viagem para a Paraíba para o início das gravações?

“Maravilhosa. Eu gosto muito do sertão, tem um silêncio e uma atmosfera única no Brasil.”

Como você classifica o Ramiro? É um vilão?

“Estamos tentando nessa série não ser maniqueísta. Todos os personagens desse lugar têm sua margem de erro, e alguns acertos. O ‘cabra’ é ruim, bem ruim. É difícil achar alguma qualidade nele. Ele tem uma relação com o filho dele, o Ramirinho (Jesuíta Barbosa), que é uma coisa meio apavorante. O Ramirinho tem sua sexualidade, faz shows à noite, acho que vocês já sabem disso, e ele quer que o filho seja um empresário, mas o filho está em outra vibe, e a forma como ele reage a isso é muito ruim.”

Como é você dar vida a esse homem que briga com o filho e costuma ser tão amargo?

“É um personagem. Esse amor que ele tem pelas aves é interessante porque embora ele converse com elas, o nome delas são os nomes das pessoas que ele já matou, e ele só tem esse afeto por elas, porque elas estão sob o controle dele. É um tipo de persona que precisa ter tudo sob controle, o que se encaixa no perfil de ser juiz, então creio que amor de fato não existe e tenho trabalhado isso nele, a falta de amor, a questão seca, a frieza, e não valorizar os outros seres. No fundo nosso trabalho é brincar com os personagens e não é nenhum sofrimento para mim, mas sei que estou retratando uma figura na qual não acredito.”

Seu filho mais velho fez filmes e está seguindo seu caminho… 

“O João é muito tranquilo, da paz, e tudo o que foi proposto para ele, ele aceitou. É um cara que admiro muito, até pela falta de ansiedade que ele demonstra. Quando programamos uma viagem, não é aquele menino que passa a semana inteira perguntando sobre. Fiquei muito surpreso pelo filme, porque revelou muito da personalidade dele. Quando o Belmonte (diretor) me convidou para fazer esse filme, meu personagem tinha um filho e o João nessa época tinha 9 anos, e o filho do filme tinha 11 anos, então nem cogitamos a possibilidade do João participar. Mas, só começamos a rodar o filme dois anos depois, e aí pintou essa ideia de ele fazer meu filho. Eu conversei com ele e perguntei se ele queria ter essa experiência, que para mim, era um presente, ter um filme com meu filho, um registro histórico cinematográfico, que  ficaria para a vida. Ele topou, fez, e tiveram mais dois convites para filmes. Ele outro dia falou para mim que quer fazer faculdade de cinema, mas nunca falei para ele: ‘Seja ator’. Deixo ele à vontade, e a mãe dele e eu damos várias opções para ele ir para o caminho que ele quiser seguir, assim como fazemos com minha filha que tem 6 anos.”

Você chegou onde sempre sonhou?

“Não. Tem um monte de coisa que quero fazer ainda. Eu estava morando há 10 anos em São Paulo, onde dirigi duas peças. Voltei para o Rio de Janeiro, para trabalhar em Totalmente Demais. Tenho uma produtora de teatro, me realizei muito dirigindo. Acho que dirigir é algo que ainda quero fazer.  Acho que a gente nunca chega a lugar nenhum, a gente está em movimento sempre, e não tenho um objetivo que se eu conquistar eu vou falar: ‘pronto, parei’. Vamos driblando as características do mercado, agora temos internet, outros formatos, e está todo mundo se questionando como se adequar a essa nova linguagem, como conversar com os jovens. Que peça eu vou levar aos palcos agora, sendo que consumimos coisas de forma muito mais rápida, e se adequar é o grande desafio. Estamos aprendendo a ser mais concisos, e brigando para manter o romantismo da palavra, da narrativa. Estou em movimento, aprendendo, e o que posso dizer é que sempre me realizei com meu trabalho.”

Você passou um tempo fazendo humor em Tapas & Beijos e mais recentemente em A Fórmula. Como é voltar para o drama?

“Pesado (risos). A época do ‘Tapas’, foi uma experiência indescritível. Foram 5 anos, trabalhando com aquela turma, e era divertidíssimo fazer. O meu DNA de ator tem mais a ver com esse tipo de pegada do drama. Sou mais psicológico que um cara engraçado, gosto de trabalhar os olhares, os tempos, subtextos, e o humor atropela tudo isso. O humor é a resposta rápida, agilidade. Aprendi muito em Tapas & Beijos, mas aqui em Onde Nascem os Fortes, estou muito na minha praia, onde gosto de estar e A Fórmula, foi uma comédia romântica deliciosa. Brincar com Emílio de Melo, Drica Moraes, Luisa Arraes, e com duas mulheres dirigindo ainda, o que deu todo um charme, foi incrível. As mulheres precisam assumir o poder logo, porque tudo fica mais charmoso quando elas comandam (risos).”

Como você lida com o passar do tempo? Muita gente ainda te considera um galã…

“Eu acho que esse rótulo de galã eu sentia quando era mais novo, mas o passar do tempo é ótimo, só ganho com ele, e me torno uma pessoa melhor. Muitas coisas eu deixei para trás com o tempo. Eu era impaciente, ansioso, extremamente preocupado com coisas, e hoje lido com a vida de forma mais prazerosa. Eu acho o tempo uma coisa prazerosa. Tenho 46 anos, e a única coisa que me preocupa é ter saúde para usufruir a vida com qualidade.”

‘Celebridade’ está sendo reprisada no Vale a Pena Ver de Novo. Você gosta de acompanhar?

“O Renato tinha um texto muito bom, falava coisas muito boas. Era um texto primoroso do Gilberto Braga, e eu assisto às vezes aqui na Globo durante o intervalo das gravações, mas é um horário complicado de se parar para ver televisão. É legal que esteja reprisando porque é um trabalho pelo qual tenho muito carinho. Foi um puta sucesso na época e foi um personagem que marcou muito minha carreira, até porque foi meu primeiro vilão. O Ramiro também é bem vilão, sem querer ser maniqueísta (risos).  Eu acho que o Renato Mendes era mais atrapalhado do que um cara exatamente ruim. Um cara meio babaca, mas um babaca que eu gosto.”

Como está o Brasil para você?

“Estamos num momento de falência de valores que não nos servem mais. Estamos num momento de constatar o fracasso que a sociedade construiu até hoje. Não acho que sejam só os políticos, mas as pessoas também. Acho que de qualquer falência, deverá vir um mundo novo e melhor. Tem muita gente trabalhando a favor disso. Mesmo só vendo notícias ruins, tem muitos coletivos, grupos e organizações discutindo questões importantes de raça, sexualidade, privilégios, desigualdade, então se só consumirmos notícias sensacionalistas, vamos acabar nos matando. Vemos que o Rio de Janeiro está em guerra, os dados são alarmantes, mas o que pode vir disso? O meu Brasil está doente, morrendo, e eu espero que ele ressuscite com uma cara nova porque a gente merece ter uma vida legal, andar na rua em paz e sermos felizes, porque não tem condições de vivermos assim.”

* Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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