“Já perdi trabalhos por causa da aparência”, revela Pedro Carvalho

Publicado em 15/12/2017

Em O Outro Lado do Paraíso, Pedro Carvalho é Amaro, o comprador de jóias que chegou em Pedra Santa e logo se encantou por Estela (Juliana Caldas). O ator português que desembarcou no Brasil em 2015, está em seu segundo trabalho no país, e diz estar realizando um sonho ao atuar na Globo, maior emissora do país. O Observatório da Televisão bateu um papo com o galã, que contou um pouco sobre a personalidade de Amaro. Confira:

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Como está sendo interpretar esse homem misterioso, que o é o Amaro?

O personagem é muito bom, faz parte de um triângulo. O Amaro tem muita cena com o Gael (Sérgio Guizé) e com a Sophia (Marieta Severo), porque veio para fazer comércio, ele é um comprador de esmeraldas, veio de Portugal e trabalha para várias joalherias. Aí ele chega e encontra a Estela (Juliana Caldas), vem muito romântico, galanteador, e ela vê nele um príncipe da Disney. O Walcyr e o Mauro estão desenvolvendo uma coisa muito legal no personagem, que é a coisa bem do romântico português, como cantar fado para ela, recitar poesias, levá-la para dançar música romântica, oferecer joias. Ele trata ela como uma mulher mesmo, que é uma diferença do personagem do Anderson. O Juvenal trata ela mais como amiga e o Amaro trata ela como mulher de verdade, independente se ela tem nanismo. A Juliana Caldas está fazendo uma personagem na novela que aborda uma coisa muito interessante, o amor não escolhe idade, sexo, estatura, cor, e, eu, Pedro Carvalho, acredito nisso. O preconceito no meu vocabulário não existe. É uma história bonita, vocês vão gostar e se divertir muito, vai ser um triângulo muito marcante. Na internet, quando nós três postamos fotos juntos, percebi que as pessoas torcem muito, eu fico muito feliz. O Anderson e a Juliana são atores maravilhosos e eu estou tendo um prazer imenso de trabalhar com eles. Com a Marieta Severo, o Sérgio Guizé, enfim, é um privilégio.

Você já tinha contato no dia a dia com o tema nanismo, antes da novela?

Sim, claro! Em Portugal tem atores com nanismo. Infelizmente, às vezes, existe muito a barreira arquitetônica. Eu tenho um primo, três anos mais velho que eu, que é deficiente mental e desde criança eu fui educado com isso e qualquer coisa eu falo, eu vou em uma loja e falo se precisa de uma rampa ou se a rampa está muito inclinada. Além disso, eu me formei como ator em Portugal e na Espanha, mas também me formei em arquitetura, eu sou arquiteto, então, eu sou muito chato com essas coisas, são coisas que precisam ser pensadas. Eu não me calo, acho que com educação, e com respeito a gente consegue falar tudo. Por exemplo, lá em Portugal, todos os terminais de banco, a maior parte dos menus têm braile para os cegos. O mundo é de todo mundo.

Você vê uma preocupação nas pessoas em mudar quando aplica essas advertências?

Eu já vi de tudo. Eu já vi a preocupação em mudar e já vi não querer saber. Isso aí, já não depende de mim, e eu falo que isso não é um gesto de caridade, é um dever de todos nós como cidadãos, cívico. Enfim, eu fui educado assim, e eu sou assim.

É o seu segundo trabalho na TV não é?

Eu fiz a Escrava Mãe (RecordTV). Em Portugal eu gravo novelas há um tempo, cresci na TV, já são umas treze novelas. Em 2015, eu vim para gravar a ‘Escrava Mãe’, fiz o mocinho da história. Depois voltei para gravar uma novela, que, inclusive, tinha vários atores brasileiros como Zezé Motta, porque a gente está tendo muitos atores brasileiros nas novelas de lá. Eu terminei a novela em junho, e me convidaram para essa aqui, espero ficar agora uma temporada aqui.

Você já trabalhou na Espanha?

Eu nunca trabalhei profissionalmente na Espanha, mas eu estudei lá. Inclusive, eu fui convidado para fazer um seriado pelo Javier Bardem, antes da novela, mas as datas não bateram.

Você já tem uma experiência na TV brasileira, mas a novela O Outro Lado do Paraíso, está batendo quase 40 pontos de audiência. Você está preparado para o assédio?

Eu não penso nisso. Eu sou mais tímido, mais reservado. Eu acho muito legal esse carinho das pessoas, quanto mais isso acontecer, melhor. Sou super grato, porque significa que as pessoas gostam do Pedro, gostam do personagem Amaro, interagem com ele. Eu acho que só depois do impacto, que irei perceber o que significa isso.

Você está na mesma novela que Fernanda Montenegro, uma das maiores damas da nossa teledramaturgia, e o seu personagem vai ter muito embate com a Marieta Severo. Como está sendo isso para você?

Só em falar eu me arrepio. Na primeira vez que eu fui gravar com a Marieta, fiquei de boca aberta, eu falei que o trabalho dela é magistral. Infelizmente, eu não tive nenhuma cena com a Fernanda Montenegro, mas tenho esperança de gravar pelo menos uma cena, porque são referências para um ator. Eu sou muito abençoado, muito grato, porque é uma novela do Walcyr Carrasco, que eu já conhecia o trabalho em Portugal, Êta Mundo Bom, Verdades Secretas e Amor à Vida, que foram sucessos lá (Portugal), e o trabalho do Mauro também é incrível. O elenco, Lima Duarte para mim é uma benção. Eu tento aprender com eles e crescer como ator todos os dias, porque é um privilégio.

Qual trabalho da Fernanda Montenegro mais marcou você? 

A Fernanda Montenegro é uma referência tanto do teatro como da TV. As preparações, nem precisar dizer, só o olhar dela é uma coisa absurdamente maravilhosa. Eu pareço um bobo falando isso, mas imagina um ator jovem e que contracena com uma pessoa assim, é um privilégio. Vou ficar muito nervoso se tiver de gravar uma cena com ela, mas vou aproveitar o momento como se não houvesse amanhã.

Você falou que o seu personagem é muito príncipe da Disney, mas você se vê como esse príncipe?

Não vejo, eu tenho uma característica única em comum com o Amaro: eu sou muito romântico. Faz parte da minha personalidade quando estou apaixonado. Eu sei que as pessoas falam que eu sou bonito, que eu tenho uma boa imagem, mas não vejo. O Amaro tem uma autoestima muito elevada. Eu tenho uma autoestima, mas não é essa coisa de chegar chegando, como vocês falam aqui. O Amaro chega beijando na mão e o Pedro é uma mais: “oi, tudo bem?; Olá, prazer”. Eu fui educado assim em uma família unida, tenho uma autoestima normal, como todo mundo e quando me deram esse personagem ,que se acha lá em cima, eu quis ver como trabalharia isso. Eu consegui encontrar na preparação uma sutileza que eu acho que funciona.

Beleza não segura carreira. Você já sofreu algum tipo de preconceito, perdeu algum papel por ser muito bonito?

Já perdi trabalhos porque me falaram que precisavam de um cara que não tivesse essa aparência, um nariz fino. Já perdi sim, em teatro, em TV. Em Portugal, eu gravo novelas há muitos anos e existe sempre aquele estigma de me atribuírem sempre ao mocinho, às vezes eu quero fazer um cara mais sujo e para mim, isso é um desafio. Felizmente, os diretores de lá me conhecem há algum tempo e me dão esses desafios, e até costumam falar lá em Portugal, que eu sou um pouco do que o Bruno Gagliasso faz aqui, eu faço lá. Eu sou muito camaleão. Eu já fiz um preconceituoso que se apaixonava por uma transexual, um homem que estava se transformando em uma mulher, e ele só descobria no final, tentava se suicidar. Eu já fiz um serial killer, um drogado, um mocinho, um vilão, comédia, no estilo patinho feio. E, é vantajoso em Portugal, porque o pessoal já conhece o trabalho e arrisca, e eu gosto disso, gosto de não só fazer o cara bonito. Esse personagem, o Amaro, é muito legal, porque ele não é só um cara bonito, ele tem alguma coisa por trás, uma coisa muito interessante de fazer.

Você já tem a sua aposta sobre quem é o misterioso sócio do bordel?

De acordo com a escrita do Walcyr Carrasco, eu acho que é a pessoa mais improvável. Pode ser aquela pessoa que você fica assim: “nunca na minha vida eu achei que pudesse ser”. Por exemplo, a personagem da Eliane Giardini é tão preconceituosa, que já me passou pela cabeça que poderia ser ela. Mas não sei, até o Amaro pode ser.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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