Mateus Solano comenta reta final de Pega Pega: “Eu entendo tanto o sucesso, quanto as críticas negativas”

Publicado em 21/11/2017

A novela Pega Pega está chegando em sua reta final após 6 meses dividindo opinião dos telespectadores. A trama escrita por Claudia Souto é um sucesso em números, chegando às vezes a marcar maior audiência que O Outro Lado do Paraíso, nova novela das 21h. O ator Mateus Solano, que interpreta o mocinho da história, Eric, conversou com nossa reportagem e falou sobre seu personagem, o gosto que tem por assistir à novela e se surpreender, e sobre as críticas negativas. Confira:

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Sobre seu personagem em Pega Pega, é verdade essa história de que o Eric vai preso de novo?

Terceira vez. Como diz o delegado: ‘Já pode pedir música no Fantástico’. É isso!

E como é essa história? O pessoal acha que ele é envolvido porque tem muita gente suspeita, né?

Tem muita gente suspeita, e eu fico feliz que o público continue suspeitando, inclusive do Eric. Acho bacana esse mistério com esse passado que o público não viu. A novela começou e esse passado já tinha acontecido há muitos anos.

Você escuta palpites sobre a morte da Mirella (Marina Rigueira)?

Palpites não. Eu ouço mais as pessoas me pedindo aqueles dólares Está muito complicada a situação, então todo mundo fala: ‘Se tiver um dinheiro para mim, a gente está aceitando’. É isso que eu ouço.

Tem uma cena em que o Athaíde (Reginaldo Faria) fala que a Bebeth (Valentina Herszage) não devia ter nascido. Será que ele tem alguma coisa a ver com isso? Será que ele é o pai da Bebeth? Por que ele falaria isso?

Será que ele é o pai da Bebeth? Me conta pelo amor de Deus. Não faço a menor ideia, não sei mesmo. Porque o Eric também não sabe. A direção tem essa preocupação de só contar para os atores os segredos, anteriores da novela, que o público não sabe, mas que os personagens têm ciência. Então, tem segredos de outros personagens que eu também não sei, mas os atores sabem. Mas como esse é um segredo que o Eric não sabe, eu, Mateus, também não sei.

O Marcos Caruso, intérprete do personagem Pedrinho, fez um super elogio para você. Como você fala dele? Qual a sua declaração?

O Marcos Caruso ensina a gente a ser jovem. Porque ele já é jovem há muito mais tempo, eu costumo dizer isso. Eu vejo pelos meus colegas de trabalho. Tem gente que é mais nova que ele e que não tem metade da vivacidade que ele tem. E não é só da vivacidade da saúde física, mas é de uma coisa que é uma tremenda simpatia, um tremendo amor pelo o que faz, pelos seus colegas e eu acho que isso se passa até no trabalho dele para o público. Tanto é que ele vai emendando personagens de sucesso.

E como é essa história do mocinho ser preso pela terceira vez na mesma novela? Sei que você já brincou que pode até pedir música no ‘Fantástico’, mas como é isso para você enquanto ator e para o Eric (personagem) novamente injustiçado?

Um homem tão poderoso, tão rico, que compra e vende empresas, certamente ele tem lama até o pescoço, como muitos de nós aqui nessa sala temos, sem querer. Porque nosso mundo é feito de corrupção e aqui no Brasil então, nessa cleptocracia onde ganha mais quem rouba mais. A única coisa que eu sinto falta é dele ter alguma culpa no cartório. O Eric, realmente, é ilibado até então. E eu luto como ator para trazer esse mistério, essa pulga atrás da orelha do telespectador. Mas a princípio ele é inocente e está sendo injustiçado pela terceira vez. Engraçado está sendo contracenar com a Vanessa Giácomo e o Marcos Veras, porque já é a terceira vez que eles me prendem e eles já me olham com cara de pena, pedindo desculpas. Mas para a trama, vai ser muito bom, porque essa prisão vai trazer novas organizações nessa novela, uma cumplicidade diferente dele com a mulher, um jogo de duas caras que ele vai começar a fazer para tentar descobrir a verdade sobre esse passado que ele, realmente, não sabe, e nem eu Mateus. Novas peripécias para uma trama gigantesca que é uma trama de novela.

E você, como telespectador, tem alguma suspeita? Quem poderia ser?

Sempre tem os quatro principais que são: Vítor (Marcelo Serrado), Sabine (Irene Ravache), Athaíde (Reginaldo Faria) e Maria Pia (Mariana Santos). Eu como telespectador, não sei, acho que a autora poderia surpreender e chegar uma quinta pessoa que a gente nunca viu. Eu queria dar o meu voto, mas eu tenho medo de isso já estar na cabeça da Claudia. Eu acho que quem fez isso tudo foi a Maria Pires de Saboya. É uma personagem que na trama inteira, ela não aparece. Ela é sempre citada, mas não aparece. Mas eu como telespectador, a grande verdade é que eu gosto de me surpreender com a novela.

Você acha que, por exemplo, o acidente era para o Eric e a Mirella entrou de gaiata?

Tudo indica isso. A única informação que eu sei é que naquela briga e isso a gente ainda não viu, a Sabine estava presente. A Sabine estava na casa naquele dia. Então, eu não sei se ela tem a ver, se ela percebeu que eles iam brigar e, por isso, tirou o Eric dessa. Mas, tudo leva a crer que era para o Eric ter morrido nesse acidente, todo mundo junto.

Você falou que essa prisão vai ter uma grande virada do personagem. Parece que os bens dele vão ficar confiscados. E nessa dos bens, ele fala que vai ver quem são realmente amigos dele. Na sua vida, o Mateus Solano descobriu os verdadeiros amigos depois que se tornou famoso?

Mas por outro lado, quando você fica famoso acaba, sem querer querendo, se afastando também, porque sair na rua é sempre um evento. Então, acaba que as pessoas têm que começar a te procurar, pelo menos aconteceu isso comigo, mas não lembro de ter perdido nenhum amigo. O que eu noto é que ficando famoso, as pessoas ficam com mais dedos para me dirigir quando não concordam com uma opinião minha, então eu tenho que abrir isso de novo. Parece que é ‘deixa ele fazer do jeito que quer’. Pelo amor de Deus, eu sou um servidor. Eu como ser humano, como ator, eu sou um servidor. Estou servindo ao público, ao diretor, ao teatro que passa por mim e vai embora. Eu acho que esse que é o barato de estar vivo, não mandar, mas servir.

Na coletiva de imprensa, você deu uma declaração comentando que o preparador falou com você sobre a ‘síndrome da portaria 3’. Como foi isso?

Vamos lembrar para que não sabe o que é a ‘síndrome da portaria 3’. Quando você chega no Projac, você conhece todo mundo ou, quem não conhece, quer conhecer. Então, quando você chega na portaria 3, já bota aquele sorriso estampado no rosto e vai cumprimentando todo mundo. Na época, o preparador tinha falado para eu não ser tão simpático, bom moço o tempo todo, porque isso vai desumanizando a gente, a gente não é bom moço o tempo todo, e os personagens ficam como tal. Ainda mais o meu que é bom moço, tinha que ter o mistério, alguma coisa que puxasse para o outro lado também. Foi muito bom para o personagem, mas serve para mim e para todos nós também. Não é essa simpatia mentirosa que interessa ninguém. Mentiras sinceras não me interessam. Cada vez mais, eu consigo usar a ‘síndrome’ na hora certa, digamos assim, porque tem horas que a gente precisa abrir um belo sorriso quando a gente não quer, ser simpático com aquela pessoa por vários motivos. O perigo é a gente colocar essa máscara e viver assim. Chegar em casa exausto e não sabe nem o porquê.

Você também falou sobre a relação diferente que o Eric vai ter com Luiza, personagem da Camila Queiroz, que começa com a falsa separação que ele vai sugerir para ela, né?

Isso! É muito legal, porque isso traz uma segunda camada. Ele tem as três pessoas que sabem que são o Sérgio (Sérgio Menezes), o Lourenço (Rômulo Arantes) e a Luiza, e o resto das pessoas não sabem dessa combinação. Ele vai ter que mentir para a própria filha, para Deus e o mundo, tentando fazer o joguinho do inimigo para ver se ele aparece. Isso é muito interessante para mim como ator, porque enquanto bonzinho, ele está bonzinho. Mas quando começa a ser humano, ou seja, conflito, que tem a parte ruim e a parte boa, tem mais coisas para trabalhar do que um só sentimento. Aí eu gosto de brincar.

Isso vai ser dolorido para o Eric, porque a filha Bebeth, vai ficar triste, né?

Muito dolorido. Mas, ele está pensando que a Bebeth, e ele mesmo, está correndo risco de vida, porque a pessoa que fez o atentado há anos atrás, está dando dicas de que estar entorno e não está feliz. Então, para proteger quem ele ama, ele mente, só poupa a Luíza. E eu acho super legal essa parceria dos dois, eles viram investigadores como já foram no caso da Helena (Nanda Costa). Esse Bonnie e Clyde, não sei como seriam as referências para um casal que trabalha junto, é investigativo e tal.

E você já passou por uma situação dessa? De ter que mentir para alguém que você ama para salva-la?

Provavelmente, né? A gente passa por isso. Não saberia te dizer agora.

No Twitter, tem muita gente torcendo para um provável romance do Eric com a Sandra Helena (Nanda Costa). Como é essa repercussão para você?

A Sandra Helena é o brasileiro. Alegre, divertido, fala o que quer e dá na telha. Quer ser rico a todo custo, de repente fica rico e percebe que era muito mais feliz do outro jeito. Eu acho que é o personagem que mais cria identificação com o brasileiro e ainda tem o humor. Eu acho muito interessante essa aproximação dela com o Eric e acho que o que acontece entre os dois é uma coisa muito rara na novela, que é uma relação que o público não entende. Eu acho isso lindo. E a minha impressão como ator quando eu faço as cenas, é de que eles se olham e falam: ‘poxa, se vivêssemos em um outro mundo quem sabe?’. É isso!

Então há realmente esse encantamento?

Não sei. Vocês é quem me dizem como telespectadores (risos). Se fosse um outro mundo, em algum outro lugar, se eles fossem outras pessoas. Eles ficam no “se”, em um La La Land de pensar. Porque no La La Land (se referindo ao filme homônimo) eles são da mesma posição social, os dois curtem dança, os dois têm muita coisa em comum.

A novela já está correndo para a reta final, então eu queria que você fizesse um balanço sobre a trama. Sobre o sucesso da novela, o êxito, porque têm muitos críticos que não gostam de Pega Pega, mas a novela mostra no ibope que está sendo um grande sucesso.

Tem um público que está gostando bastante da trama. Acho que não só da trama, mas da forma com que ela é apresentada. Desde o início, a gente ficou sabendo que a novela das sete é para se ouvir e não para se ver. As pessoas estão lavando louças, cuidando dos filhos e a novela está lá ligada. Então, tudo precisa ser dito, falado, explicado o tempo todo. O público só de ouvir entende tudo dessa trama que é complicada, que tem coisa do passado, e vai sentindo que está entendendo, gostando, querendo saber como é. Acho que a Claudia foi muito esperta nisso e é uma trama que ela tinha há mais de cinco anos na cabeça. Eu entendo que tenha pegado o público, entendo que não tenha pegado os críticos, eu entendo todo mundo. Eu entendo tanto o sucesso, quanto as críticas negativas.

Você acha que essa novela acaba sendo duas em uma? No começo a gente tinha o roubo do hotel que o público sabia quem era os ladrões. E agora, cada vez mais, a história desse misterioso acidente da Mirella vem à tona e começa a circular outra trama.

Eu sinto isso, mas não é privilégio dessa novela. Isso acontece e tem que acontecer muito em novela por muito tempo. O Manoel Carlos na época também, conseguia com muita humanidade arrastar uma novela com a mesma trama. Mas cada vez mais, e depois de Avenida Brasil, o ritmo da novela tem que ser alucinante porque o ritmo da vida das pessoas é alucinante, e para manter o foco precisa acompanhar isso. É impressionante a diferença do tamanho dos textos que eu tinha numa novela do Manoel Carlos, com o tamanho dos textos dessa novela, é tudo picotado. Com o Manoel Carlos quando tinha uma cena na cozinha, de repente, você estava falando no cheiro de alho que fica debaixo da unha e vai para essa coisa mais humana, da vida e do cotidiano de cada um. Essa é uma trama policial, uma trama que a gente precisa saber quem é o mocinho, o bandido e tal. É outra história e tem outro ritmo, porque está em 2017.

O Eric é apaixonado pela Luíza, mas teve aquele olhar diferente com a Sandra…

Mas não, gente. Não é mais. A gente se encanta, se olha, passa por coisas. Tem uma série de coisas. A gente acorda, escova os dentes, vai para a escola. Acabou a escola, a gente vai para a faculdade, arranja uma pessoa, casa, tem filhos e morre. Isso é uma história que a gente se conta e que nasceu ouvindo. Mas é que a gente é muito diferente. A gente sente desejo, boa parte das vezes a gente bate de frente com as normas que vieram antes da gente, porque nossa humanidade é muito maior do que esse script que querem que a gente cumpra.

Mas se a gente está com uma pessoa e pensar nessa série de possibilidades para a outra, não dá ciúme?

No início de um relacionamento com certeza, mas depois que você alcança uma maturidade, não. Porque a maturidade numa relação mistura com a maturidade da pessoa. Depois que eu tive filho, eu virei um cara muito mais maduro, porque eu aprendo diariamente com os meus filhos. Eu acho que em uma relação madura você reconhece isso e não vem ciúme não. Mas no início com certeza, porque no início junto com o amor, vem a posse.

Como vai ser seu natal? Como você comemora?

Eu sou judeu, não tenho Natal. Mas eu não vou tirar a árvore dos meus filhos de jeito nenhum. Aliás, como também os meus pais não tiravam de mim, porque eu sou judeu por parte de mãe. Então, na hora do natal, eu fugia para a família do meu pai e ia ganhar presente que eu não sou bobo. Vamos ficar provavelmente por aqui (gravando a reta final da trama) porque a gente vai ter dia 24, 25, 31 e 01, então não vale a pena viajar.

E quais são seus sonhos para 2018?

Do jeito que as coisas estão, gente. Que os grandes empresários, que as pessoas como o Eric, sejam como o Eric (risos). Que os grandes empresários, as pessoas que estão com essas dívidas bilionárias afundando o país se espelhem no personagem do Eric, que apoia a cultura, que é preso injustamente, que faz justiça, enfim… Acho muito difícil, inclusive, eu acho que eles nem devem assistir à novela das sete. Devem estar lá contando os milhões da cueca. Mas, que essas pessoas tomem um pouquinho de vergonha na cara, lembrem que elas têm mãe, lembrem que também já foram crianças e que tem um monte de criança na fila do hospital por culpa delas. Não só delas, né? Porque estamos todos enfiados, eu acho que todos nós devemos ficar mais conscientes no ano que vem. Aproveitar 2018 e estudar política. Não o que o deputado faz, mas quem roubou, está tudo na internet. Quem roubou está na internet. A gente precisa renovar o que está aí, isso para mim é ponto de partida.

Quem é o Mateus Solano?

Eu (risos)! Quem é o Mateus Solano? Sou eu. É que nem o Caetano Veloso. Não dá para me resumir em uma resposta, não dá mesmo.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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