No dia em que a estreia da Tupi completa 67 anos, descubra como a telenovela chegou ao Brasil

Publicado em 18/09/2017

Os anos passam e o principal produto da televisão brasileira continua sendo a telenovela. Seja drama, comédia ou romance, o público brasileiro adora uma história bem contada no horário nobre. Uma das emissoras responsáveis pela implantação desse formato foi a extinta TV Tupi, de São Paulo, que completaria 67 anos nesta segunda-feira (18).

A primeira emissora de televisão da América do Sul levou ao ar produções como Mulheres de Areia, estrelada por Eva Wilma, Meu Pé de Laranja Lima, e Beto Rockfeller, que foi um enorme sucesso por apresentar eficientemente o cotidiano, personagens realistas na teledramaturgia, algo incomum para a época.

“Eu me recordo do Cassiano [Gabus Mendes], comentando comigo, que ele já estava exausto de ver o melodrama tão mexicano, tão argentino e tão cubano na televisão. Ele queria uma coisa diferente”, explicou o doutor em teledramaturgia brasileira e latino-americana, Mauro Alencar.

Veja: Há 67 anos, a TV brasileira nascia com a estreia da TV Tupi

Ele ressalta que antes de Beto Rockfeller, outra produção, em emissora diferente e sem o mesmo sucesso, já havia estabelecido as bases da telenovela com o formato brasileiro. Redenção sacramentou o gênero, segundo o especialista.

Plinio Marcos e Luis Gustavo em Beto Rockfeller
Plinio Marcos e Luis Gustavo em Beto Rockfeller Arquivo

“É a novela mais longa da TV até hoje, 596 capítulos, lançou Francisco Cuoco ao estrelato. Foi a primeira [que teve] cidade cenográfica, (…) era uma novela de rádio, do Raimundo Lopes, chamada Sublime Redenção, e ele transpôs isso para a TV Excelsior”, afirmou.

Ele explicou ainda que o projeto era de 100 capítulos, porém, com a audiência alta, a novela teve quase 600 capítulos e permaneceu por cerca de dois anos no ar. “Eu me recordo de ver o cenário, de ver o final da vilã, que era a professora Marisa, se afogando em um pântano”, ressaltou.

Antes do sucesso dessas telenovelas com cara de Brasil, o país viveu da importação de textos estrangeiros. Nos anos 50 e 60, Estados Unidos, México, Cuba e Argentina eram os maiores criadores de novelas para a televisão. Muitos dos textos eram adaptações de radionovelas. As emissoras no Brasil traduziam o texto para o português e não acrescentavam localismos.

Ainda no começo, muitas produções iam ao ar, duas ou três vezes por semana, ao vivo. A telenovela diária não era uma realidade, porém, o formato que o Brasil aprecia hoje nasceu fora do país, foi importado e, aos poucos, ganhou cada vez mais essência nacional. A primeira produção de segunda a sexta-feira, no entanto, foi de um texto hispânico.

“O Edson Leite era diretor artístico da Televisão Excelsior, era muito envolvido com Buenos Aires, com a Argentina. Numa dessas viagens, ele conheceu o formato da novela diária e o que isso atraia, não só o telespectador, mas também o anunciante”, explicou.

Mauro contou, ainda, que Leite importou o formato, o diretor e importou o texto de 0597, Dá Ocupado, sucesso na rádio argentina, do autor Alberto Migré. “Chegando a São Paulo, ele entregou o texto para outra grande radionovelista, Dulce Santucci. Ela transformou o texto em 25499 Ocupado, estrelada por Tarcísio Meira e Glória Menezes. Aí, começa a produção da novela diária”.

Com o sucesso da novela da Excelsior, a TVs Tupi, de São Paulo, se mexeu e lançou a versão nacional de O Direito de Nascer, um clássico da telenovela latino-americana. “É um sucesso avassalador”, definiu Alencar sobre essa produção.

O Direito de Nascer
O Direito de Nascer Reprodução

“Miami exportou a maneira de se fazer radionovela para Havana. Acontece que, em Havana, havia um genial radionovelista, que era míope, mas que enxergava longe, enxergava a alma humana. O Félix Caignet escreveu El Derecho de Nacer e isso se tornou um símbolo da ficção popular”, finalizou.

A telenovela pode ser apontada como o primeiro grande sucesso sem precedentes do país. Além da versão dos anos 60, – que teve festas de encerramento no Ginásio do Ibirapuera, no Maracanazinho e no Mineirão – a Tupi fez um remake nos anos 70 e, nos anos 2000, foi a vez do SBT realizar sua própria versão.

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