“A trama não está glorificando ninguém”, afirma Fabiana Escobar, a Bibi da vida real

Publicado em 07/09/2017

A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Muitos apontam que a TV tem o poder de manipular a vida dos telespectadores. A novela, produto cultural mais consumido no Brasil, pode ser apontada como o elo de toda essa manipulação.

Gloria Perez consegue prender o telespectador por conta de suas histórias. Desta vez é Bibi (Juliana Paes), de A Força do Querer, que se tornou alvo de elogios e críticas dos telespectadores de plantão. Apologia ao crime ou o retrato da realidade?

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Fabiana Escobar. Carioca, 36 anos, a personagem da vida real é formada em Serviço Social pela UFRJ e tem dois filhos. Em 2005 foi parar nas manchetes policiais por conta de sua paixão da adolescência. O resto da história, ou boa parte dela, a novela está mostrando com fidelidade.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, a escritora, e dona de sua própria história, planeja lançar um longa sobre esse amor – que por anos teve o seu ápice com filhos e alegrias – mas que virou pó por conta do tráfico.

“A trama não está glorificando ninguém. As pessoas ficam criticando e não param para escutar os diálogos. As coisas acontecem aqui e a novela retrata o que acontece. Não é uma novela de ficção cientifica”, analisa.

“Eu sou aquele ser que ama o tempo todo. Isso eu não mudei, não. Eu gosto de estar amando, eu gosto de ser amada… Eu sou assim, sou feita de amor. Fazer o quê? (risos).”

Alguma semelhança com a história contada por Perez como nessa chamada do folhetim?

Confira: 

As pessoas te reconhecem nas ruas?

Sim, as pessoas já me reconhecem na rua. Elas ficam tímidas, falam que leram o livro ou que vão comprar o livro, que estão vendo a novela…

O que elas falam da sua vida e agora com tudo o que a novela mostra?

Elas querem saber o que é real ou criação da Gloria Perez, querem saber o que eu faço da vida hoje também.

Se sente exposta?

Eu não me sinto exposta de forma negativa. Eu escrevi um livro, tenho mais que obrigação de atender as pessoas. Exposta estou desde 2005 quando saiu a notícia de forma negativa. Hoje eu não saio nos jornais de forma negativa.

Olhando como espectadora, como analisa o comportamento de Bibi?

Eu acho perfeita. A carga emocional que ela coloca na novela é bem isso. As pessoas acham que ela está exagerando, mas é bem isso.  Eu sou intensa. Ela está perfeita. Ela é bem intensa nas coisas.

O que o amor pode fazer com uma mulher?

Eu sou aquele ser que ama o tempo todo. Isso eu não mudei, não. Eu gosto de estar amando, eu gosto de ser amada… Eu sou assim, sou feita de amor. Fazer o quê? (risos).Você leva tão a sério que acaba extrapolando, mas tem que se vigiar o tempo todo. Eu aprendi a me controlar. Eu olhava muito para as perdas dele, as tragédias da vida dele, mas eu não olhava para as minhas, eu estava indo paro o buraco, mas estava morrendo de pena dele. Eu sentia pena dele e não olhava pra mim.

Como foi o seu contato com a Gloria e a Juliana?

Eu conheci a Gloria em 2011.  Ela conheceu o meu blog, compartilhou, depois lancei o meu livro e ela disse que faria uma minissérie e acabou entrando pra novela. Com a Juliana eu conversei por Skype, ela viu as entrevistas que a Gloria gravou comigo, depois nos encontramos em uma gravação do Fantástico. É um contato bem tranquilo.

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Os bilhetes das amantes, entre outras cenas são reais?  O que o público pode esperar dos últimos capítulos da trama?

Eu nunca peguei bilhete, nunca peguei ele com mulher… Eram sempre boatos que chegavam aos meus ouvidos. Eu ia investigando, colocava todo mundo na parede até descobrir, mas realmente não pegava…

Como eram os bailes que você frequentava?

Eram bem assim como na novela. Tudo muito exagerado. Momento falso de alegria que as pessoas pensam que estão todos felizes… Pessoas bem perfumadas, os bailes são animados, bebidas caras, dinheiro… Mas isso é um momento e um momento muito curto para o tamanho do problema que é. Os bailes eram bem animados, eu sempre gostei de baile funk, eu sou funkeira. Eu nunca usei drogas ou transei com alguém por ser um baile funk. Cada um é cada um. A pessoa não vai mudar porque está num baile funk. Os bailes geralmente são legais. Eu gosto.

Em uma das cenas, Bibi cai e quase é pega pelo cachorro de Jeiza. Algo semelhante aconteceu com você?

Essa é uma criação da Gloria. Nunca aconteceu, não.

Você deseja um final feliz pra Bibi?

Final feliz é muito relativo. Ninguém é feliz. Até quando você está no caminho certo você não é feliz o tempo todo, tem aquela queda… Pra ela eu quero que fique uma lição mesmo. Um final feliz é algo muito difícil acontecer… Final feliz eu acho muito clichê… As pessoas precisam ter essa noção, do estrago que é, que a maioria não consegue… Espero que fique na cara que isso não compensa, que não é legal…

A trama está glorificando a Bibi e, principalmente, o crime como muitos apontam?

A trama não está glorificando ninguém. A trama está mostrando o que acontece. A novela não veio antes dos fatos. Essas coisas acontecem no dia a dia. Não é um glamour como as pessoas pensam. As pessoas ficam criticando e não param para escutar os diálogos… Logo no início ela chorava e as pessoas falavam que ela só chorava, chamavam ela de burra, mas ela estava mostrando as perdas da vida dela e ninguém estava prestando atenção nisso. Não está glorificando ou enaltecendo ninguém, não. Está mostrando como as coisas realmente acontecem.

Quando você “despertou” e viu que a sua vida não poderia mais ficar naquela situação?

Eu só acordei para o risco e a destruição que estava na minha vida quando eu rompi o elo afetivo com ele. Eu rompi de vez. Total.

Como protegeu seus filhos, pais e familiares?

A minha família sempre ficava na mira. Em todos os ângulos: polícia, críticas, bandidos, inimigos. Tudo.  Como eles não tinham envolvimento nenhum, essa era a proteção deles. Meus filhos moravam com a gente, mas algumas coisas eu evitava fazer com eles como levar à escola, festas na rua, deixava eles ocupados em casa com atividades da escola, etc. Eu não tinha como proteger meus filhos 100%. Proteção 100% não tinha como dar. Impossível.

Acredita que uma novela pode incentivar as pessoas a cometerem crimes?

A novela não vem antes da vida real, gente. As coisas acontecem aqui e a novela retrata o que acontece. O autor e escritor vai se inspirando na vida real. Essa é uma novela que retrata o dia a dia, o que acontece no Brasil todo, não é só aqui no Rio de Janeiro, não. Não é uma novela de ficção cientifica.

Pensa em seguir na carreira artística?

Estou escrevendo outros roteiros para o cinema, estou com outro livro. Tenho o projeto de um filme sobre o livro Perigosa. Minha parte artística é com a literatura. E o que eu puder somar com a parte social e literária eu vou fazer.

Tem alguma religião?

Eu acredito em Deus, nos santos, nos orixás, nas energias, no que a gente manda para o outro e a gente pode receber também.

O que o público pode esperar do seu livro?

Muita emoção. Muitas pessoas falam que choraram, riram, ficaram ansiosas pra terminar de ler, devoraram o livro… As pessoas sentem muita verdade nas histórias.  Ele é impactante.

O que pretende com o seu livro?

Quando eu escrevi o blog era para me defender da exposição negativa, pois eu era muito atacada. A resposta veio de imediato de pessoas que se identificaram com aquilo, mas que não tinham forças para recomeçar, encerrar esse vínculo de vez.

O MC/Rapper NYL da Zona Sul escreveu uma música sobre a Bibi Perigosa. Como foi a sua reação ao saber da letra e o que achou do conteúdo? 

Eu fiquei muito feliz, a letra não faz nenhuma apologia ao crime. A letra fala da forma como eu consegui sair disso, de recomeçar de forma digna.

Fabiana e NYL da Zona Sul firmam parceria na música (Divulgação)

Confira um trecho da música:

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