“Sem perceber, foi a Bibi quem colocou o Rubinho no tráfico”, diz Juliana Paes sobre personagens de A Força do Querer

Publicado em 06/07/2017

Juliana Paes está vivendo um momento especial na carreira. Sua personagem Bibi, na novela A Força do Querer é sucesso absoluto. Casada com Rubinho (Emílio Dantas), a moça devido à grande paixão está entrando cada vez mais fundo no mundo do crime. A atriz conversou com nossa reportagem para falar sobre os rumos da personagem.

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Como está sendo a repercussão da novela?

Estou muito feliz com a repercussão. Estou gostando de acompanhar e perceber que fazia muito tempo que algo não acontecia, que é me chamarem pelo nome da personagem. Depois de muito tempo fazendo novela, as pessoas acabam te conhecendo pelo seu nome, e ultimamente as pessoas tem me chamado de Bibi. Isso é significativo, perceber que a personagem é tão importante e que a trama pegou.

As pessoas te dão conselhos na rua?

“Sai dessa, não envereda por aí, larga esse Rubinho”, é o que eu mais escuto (risos). Mas a abordagem varia de um lugar para o outro. Quando vou a lugares onde as pessoas conhecem a realidade da favela apenas pela TV, geralmente dizem “larga esse homem, ele vai te levar para o mau caminho”. Já quando vou a outros lugares, por exemplo, a comunidade onde gravamos, em que as pessoas convivem com essa realidade mais de perto, o discurso muda. “Eu sei o que você está passando”, “também tenho marido preso”, elas dizem. Esses feedbacks tão diferentes para mim significam a riqueza dessa personagem capaz de emular sentimentos tão diferentes nas pessoas.

A Bibi já é uma criminosa. Como está sendo o processo de transformação da personagem?

Ela ainda não sabe que é criminosa, mas já é. A Gloria Perez nessa novela veio desenhando o arco de transformação dos personagens de maneira muito pertinente, então eu venho me preparando a cada cena para a transformação. Ter lido o livro me ajuda muito, mas a preparação é feita cena a cena, e como sinto ímpetos e angustias diferentes, isso vai moldando o caráter dessa mulher que ama demais, compulsiva.

Quando a Bibi aparece em cena, você está realmente transformada e não vemos nada da Juliana ali…

Eu não me reconheço em cena também. Fico um pouco impactada, e tem coisas que a gente faz que são de propósito, porque estudamos em casa, mas tem outras como alguns olhares que simplesmente acontecem e são surpresa pra mim ao me ver na tela. Acho que tem a ver com minha maturidade profissional, pois a cada personagem me sinto mais segura para tentar arriscar mais um pouco, jogar pitadinhas, olhares, loucura que eu não tinha jogado em nenhuma personagem antes. Vejo a novela com a galera do Twitter, e eles me dão altos feedbacks e eu uso muito, alguns até printo os comentários. Tem um aqui “Gente, eu tô triste e ansioso pela Bibi”. Existe a tristeza pela vida da bandida mas ansiedade pra saber o que vai acontecer. Isso é importante pra mim!

A Fabiana Escobar, a Bibi da vida real, deu uma entrevista recentemente onde ela disse que consegue enxergar as próprias atitudes do passado através de você. Você buscou se parecer com ela?

Tenho visto as matérias dela. A Gloria me manda sempre, e assisti a todos os vídeos da Fabiana repetidas vezes, não na tentativa de fazer com que a minha personagem fosse parecida, porque isso nunca me foi pedido, mas eu queria encontrar a temperatura dela. Ela é uma mulher esquentada, agitada, expansiva e tem um tom um pouco mais alto, algo que usei na Bibi. Uma coisa que no começo acertei com a Gloria, porque as pessoas acabam tendo uma visão simplista sobre a personagem, e podiam questionar dela ser uma estudante de direito e não usar os termos do direito, mas fui pelo caminho que aquilo o que você estuda nem sempre tem a ver com a sua verve, com seu diapasão, e mesmo tendo consciência do que está estudando, da faculdade pra fora você continua tendo seu jeito, como você foi criado, e isso não muda porque você está frequentando uma faculdade de direito ou de medicina. E isso eu mirei nela.

Ela disse que a única coisa diferente é que a Bibi foi ao presídio de roupa vermelha decotada e lá não pode ir nem de vermelho por causa do comando vermelho, nem com decote.

Realmente não pode. Apesar de estarmos retratando uma história real, estamos fazendo uma obra de ficção, e graças a Deus temos nossas licenças poéticas para ficamos mais livres. Se formos atender a todas as demandas da vida real ficaremos muito cerceados. Essa coisa da roupa vermelha nós sabíamos mas pensamos “Ah vamos deixar, na nossa novela o comando pode ser de qualquer outra cor” (risos).

A Gloria Perez publicou uma foto da Bibi segurando uma arma. A Fabiana não pegava em armas…

Você que pensa (risos). Talvez ela nunca tenha usado com intenção de matar, mas ela já tirou fotos com arma na mão já, porque eu já vi. Essa foto, a gente estava gravando a fuga, e tava uma luz super bonita, e pedi ao Emílio (Dantas) que tirasse a foto. Mandei para a Gloria escrito “Estamos esquentando os tamborins” e a Gloria postou.  Não sei se é uma dica que ela deu.

Você acredita que a Bibi seria capaz de matar, para proteger o Rubinho talvez?

Eu acho que sim, não sei se gente vai chegar nesse ponto, no livro também não tem isso, mas acredito que ela seja capaz de tudo.

E se a Bibi morrer no final?

Vou achar lindo. Morrer em novela é sempre muito dramático. É a redenção completa e definitiva (risos). As pessoas dão tantas sugestões, outro dia alguém escreveu assim “Imagina se a Jeiza (Paolla Oliveira) vai parar no buraco quente, a Bibi salva a Jeiza e fala ‘pode mandar ela embora’”. Achei ótimo.

O Rubinho está dividindo opiniões. Algumas pessoas acham ele um bandido, outras que ele só entrou para o mundo do crime pela família. Qual a sua opinião?

Eu acho que o personagem Rubinho passou muita dificuldade na infância e passou a vida toda comparado pela Aurora (Elizângela), com o Caio (Rodrigo Lombardi), mesmo sem saber que o ex-namorado da Bibi é o Caio, advogado dele. Além da dificuldade da vida que todo mundo enfrenta, como ele, que foi abandonado, as pessoas com essas características têm uma gana, e uma necessidade de provar que conseguem vencer. E ele veio com essa mochila nas costas, que tem também o peso de que a vida da Bibi poderia ser melhor se ela tivesse ficado com o ex-namorado rico. Então diversas vezes ao falar do tráfico ele diz “Fiz porque queria te dar uma vida melhor”. Não sei se tô Bibizando mas acho que sim, e vemos isso no jornal todo dia, pais de famílias que entram nessa vida por desespero. Eu acho que bem ou mal, foi ela que colocou ele nessa situação quando foi falar com o chefe do tráfico. Ela sem perceber, tirou ele do lugar insignificante que ele ocupava dentro da estrutura hierárquica do tráfico e colocou ele perto dos cabeças. Aí quando ele foi pra cela dos bambambãs, e começou a ajudar dizendo que com os conhecimentos de química sabia como aumentar faturamento, acabou, ele cresceu. Creio que no primeiro momento a intenção dele era só tirar a família da lama que ela se encontrava, e ele é tão emocional quanto ela, pólvora e fogo.

Você falou “Bibizando”. Sabia que isso já pegou?

Bibizar é tipo fazer a louca né?  “Não dá Bibizada pro lado do boy não”.

Saiu numa revista que o Rubinho seria amante da Irene. Você viu isso?

O quê? Não gente, não pode! Revista inventa muita coisa. Mato ela (risos)! Ela é tão ardilosa, que eu mato ela. Ele caiu nas redes de uma cobra (risos). Isso foi muito Bibi não é? Enquanto estou no Projac eu fico nessa vibe. A Bibi é compulsiva. Ela ama a paixão que ele demonstra. As mulheres que têm compulsão por homem, quando ouvem deles um “Sem você eu não sou nada”, é mais forte que ouvir um “eu te amo”. É o que alimenta essas mulheres compulsivas por amor que precisam ser necessárias, aquele tipo de mulher que o cara pensou num copo de água e ela já está pegando.

Você acha que a relação dela com o Caio acabou de vez?

Caio é um amor prometido, e a promessa do amor não vivido é mais forte do que o amor real, o amor sereno. A promessa do que não se viveu é muito forte. Eles se amaram muito, mas Bibi nunca teve dele um “Sem você eu não vivo”. Caio não é dado a essas explosões de passionalidade, e esse é o buraco que ela sentia na relação. Quando ela não se sente amparada por um amor nessa temperatura, ela acha que não existe amor.

O que você está gravando nesse momento na novela?

Ele fugiu, estamos num apartamento do Leblon e vivendo no desespero. Ela está presa, não numa penitenciária, mas presa, e estamos colocando nela pitadas de deslumbramento por aquela vida de luxo. Ainda não é um momento de alegria, é um momento tenso.

Como foi fazer gravação na comunidade?

Eu nunca tinha gravado em comunidade. Fui muito bem recebida, e teve uma frase que me marcou de uma garota que chegou pra mim e disse “Tu ta representando bem mesmo”, mas não era representando no sentido de atuar, e sim de representar as mulheres. Respondi “Que bom”. E eu fico feliz porque mesmo fazendo uma obra ficcional é importante que as pessoas se sintam representadas ali. Eu e toda a equipe fomos muito bem recebidos na comunidade, as pessoas ficam felizes de ver a realidade delas retratadas numa novela.

As pessoas falam que você e a Elizângela têm uma química muito boa, e que parecem mãe e filha de verdade.

Minha química com a Elizângela aconteceu desde a primeira cena que gravamos. Nós já tínhamos feito novela juntas antes, que foi O Clone, e ela fazia uma vizinha e a gente fez muitas cenas juntas. Quando chegamos pra gravar a primeira cena em A Força do Querer, sentamos pra conversar e eu falei com ela “Acho que temos que ser mãe e filha da vida real, sem esse negócio de ‘filhinha’, elas são amigas então vou falar com você como se fosse minha mãe mesmo, pode botar caco, eu não fico esperando deixa, pode falar em cima de mim, que assim a gente vai criar uma realidade”, e ela comprou na hora. Nossa empatia em cena foi imediata e embarcamos tanto que as primeiras cenas, gravamos muito rápido. Minha relação com minha mãe e irmã é assim.

E vocês são amigas fora do set de gravação?

A Elizângela é uma graça, sou apaixonada por ela. Às vezes as pessoas pensam que só temos amigos da nossa faixa etária, mas considero ela uma amigona, nossas conversas no camarim são tão ou mais interessantes que as cenas que fazemos juntas. Ela é uma mulher tão centrada, tão experiente. O álbum dela foi disco de platina em 1979, ano que nasci e ela me ensina muita coisa. Olhar nos olhos dela em cena é mergulhar no paraíso, porque é de muita verdade, muito amor e é recíproco.

Na cena que foi ao ar esta semana, onde a Bibi se prepara para fugir com o Rubinho, o olhar da Aurora pra ela pedindo que ela não fosse foi sensacional.

O olhar dela foi forte né? Como Bibi, eu pensei “se eu olhar para trás eu não vou, porque se eu olhar nos olhos dela de novo eu não vou”.

No figurino dela, tem um colarzinho com um pingente de um menino e uma menina. Será que a Bibi tem um irmão?

Não sei! Eu já reparei nesse pingente, mas eu acho que são a Bibi e o Dedé (risos). Eu já crio as histórias na minha cabeça.

Qual a qualidade que você mais admira na Bibi e o que você não gosta?

Admiro a coragem, ela é raçuda. Características negativas, eu acho que a passionalidade em excesso, e isso a prejudica, a ponto dela ficar cega. Ela sabe que o marido errou mas dimensiona para menos. Mesmo que o depoimento da policial tenha sido decisivo diante das provas fracas que eles tinham, ela personificou na Jeiza toda a infelicidade que ela está vivendo.

Você acha que ela é capaz de fazer algo contra a Jeiza?

Eu acho.  Acho mesmo, porque uma pessoa que é capaz de colocar fogo em um lugar, uma pessoa que é capaz de subir no morro pra conversar com uma pessoa que poderia tê-la matado, é capaz de fazer qualquer coisa. A semente do rancor, da raiva, do ressentimento já está plantada.

Você está mais magra…

É falta de comer, gente! Eu fico muito sem apetite aqui. São cenas com teor forte, eu fico angustiada e choro muito. Eu estou comendo menos mesmo. Desde que a novela começou devo ter emagrecido uns 3 quilos, teve até uma cena que eu estava de costas e falei “Gente, esse corpo é meu?” Achei retinho, sem curvas. A gente perde até massa muscular.

Como é chegar em casa depois de gravar toda essa tensão e dar um abraço nos filhos?

Que filhos? Eu tenho filhos? Essa semana estou de férias de todo mundo, porque enquanto estou aqui, o Dudu, o Pedro e Antonio estão no Beach Park, e só ficam me mandando fotos. Olha a carta que meu filho, Pedro escreveu, “Mamãe, estamos com saudades, se cuida.” Eu morro. Pedro é mais sentimental, Antonio é daquele tipo que vem dar um abraço e esmaga a gente, tudo dele é com força. Cada um tem um jeito diferente, mas o Pedro tem um jeito mais sereno. Tenho tido pouco tempo com eles, fico batalhando aqui pra conseguir uma folga no sábado ou no domingo pra ficar com eles.

Você tem gravado bastante ultimamente?

Eu tenho gravado muito. A Gloria montou um esquema muito legal para apresentar os pilares da história dela. Brincamos aqui que ela faz o palquinho girar, dessa vez o meu palquinho está na frente, mas antes Jeiza e Ritinha (Isis Valverde) tiveram maior número de cenas. Eu já quero o próximo palquinho pra eu descansar, porque o meu tem favela, delegacia, casa de Bibi, que é uma locação no bairro da Tijuca, e ela ir para vários lugares é o que me desgasta mais. Já teve vez de eu gravar 36 cenas por dia.

Qual o balanço que você faz da carreira?

Eu me sinto vitoriosa na minha trajetória. Sempre fui muito obstinada, e batalhadora, e aqui dentro sempre me mostrei disponível, e sempre vestindo muito a camisa da minha equipe. Eu não sou uma pessoa de muxoxo. Taca no dente e vamos pra guerra, ariana. Uma coisa que aprendi logo no começo, eu faço cenas pra quem sentou hoje no sofá e começou a acompanhar a novela. Cada cena pra mim é importante. Tenho esse compromisso com aproveitamento, e isso foi me ajudando ao longo da minha trajetória, as pessoas sempre me viram aqui como uma atriz muito comprometida, e foram me dando bons personagens.

Você é uma atriz que também canta. Se arriscaria a participar de programas como Popstar ou mesmo do quadro Show dos Famosos?

Ao vivo? Não. Eu gosto de cantar e dançar, já fiz musicais, mas eu faria um projeto com tempo. Isso que fizeram no Show dos Famosos, eu quero beijar o pé do Ícaro (Silva), e de todo mundo ali porque é incrível. Eu já fiz Dança no Gelo, e tenho cicatriz até hoje (risos), deixa quieto. É muito nervosismo, já tenho cabelo branco demais pra passar por isso. Acho essas iniciativas muito legais dos famosos colocando a cara pra bater e se pôr à prova.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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