“Não quero ser o segundo Shaolin”, diz Lucas Veloso, filho do humorista que estará na nova versão de Os Trapalhões

Publicado em 17/07/2017

Lucas Veloso poderá ser visto novamente na TV a partir desta segunda (17), dando vida a Didico, na nova versão de Os Trapalhões, no Canal Viva. O ator que esteve na novela Velho Chico em 2016, conversou com nossa reportagem sobre o desafio de interpretar um personagem ao lado de seu ídolo, Renato Aragão.

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Como foi a troca com o Renato Aragão?

Todo comediante sabe a importância de Os Trapalhões no humor. Acho que tanto os Trapalhões, como Chico Anysio representaram muito para o humor brasileiro. Infelizmente não tive oportunidade de conhecer o Chico, mas demorei a digerir que eu iria conhecer o Renato Aragão e o Dedé Santana. Fiquei muito nervoso, tomei muito chá de camomila para me acalmar e segurar as pontas. Eu esperava uma pessoa muito menos acessível do que ele é e me surpreendi com o quanto ele é generoso. Ele nos chama para bater o texto, conta histórias, e nos ensina, e é mais pé no chão que muita gente que não tem 10% da experiência dele. É um paizão, e o Dedé também é um amor. Me senti em casa, e a receptividade deles nos ajudou a aprender e diminuir a pressão do projeto.

Como foi fazer esse tipo de comédia?

Aprendemos dois tipos de comédia: O Dedé levanta e o Renato ataca. A figura mais importante dos Trapalhões é o Dedé porque se ele levantar uma piada ruim, a gente vai fazer uma piada ruim. O Bruninho Gissoni até criou uma imagem pra gente, que é como se o Dedé saísse pra passear com 3 cachorros que são Didi, Zacarias e Mussum, e ficasse controlando a coleira de cada um.

Como surgiu o convite para o projeto?

Ouvi um burburinho sobre Os Trapalhões no ano passado quando eu ainda estava na novela Velho Chico, aí disseram “Você vai fazer Os Trapalhões”, e eu disse “Ah vá” e não dei muita atenção. Depois de um tempo, o Luciano Rabelo me ligou fazendo o convite, e claro, após  ter 3 enfartos, eu aceitei o convite e vim para o Rio de Janeiro para ensaiar. Depois de muita luta e muito ensaio, fomos caminhando, e depois de 4 meses de gravação, estamos aqui.

Você tinha receio de não superar as expectativas dos diretores?

Eu tinha preocupação nem tanto com o pessoal que fez o convite mesmo com o respeito enorme que tenho por todos, mas meu objetivo principal era agradar o Sr. Renato, porque ele tem 40 anos nessa brincadeira de ser trapalhão, e se ele não gostasse do trabalho é porque realmente não estava dentro do universo dos trapalhões, mas como ele gostou eu ganhei meu troféu como dizem. E agora vem a melhor parte do bolo que é a audiência, que é o publico matar a saudade, e dar risada.

Você tem medo das críticas negativas e comparações que podem surgir?

Tenho que estar preparado para as criticas negativas porque quando vai para a internet tem crítica negativa, e vai ter com certeza. Engraçado, todo mundo que faz uma conta em rede social vira juiz, mas isso é normal. O tipo de público que quero atingir é o pessoal que quer rir, pessoas de bem com a vida, que estão dispostas a melhorar o seu humor, porque acredito que para rir, você tem que primeiro querer rir, depois você espera a piada.

Você acha que está trilhando um caminho para chegar num lugar como o do seu pai?

Seguir o caminho dele não tem como, eu não quero ser o segundo Shaolin, eu quero ser o primeiro Lucas Veloso. Eu nunca vou ser tão bom quanto ele, e se ele tentasse ser como outra pessoa, ele também nunca seria tão bom quanto foi. Fico feliz por realizar um trabalho com o mesmo propósito que ele, que era fazer rir e promover a alegria. As pessoas que vão ao meu show dizem que dá pra matar a saudade dele através de mim, por causa da voz e dos trejeitos, a diferença é que ele era a versão Pitchulinha e eu sou a versão de 2 litros, porque sou mais alto. O Didico também é assim, as pessoas vão matar a saudade do Didi dos anos 80 mas não é ele, até porque ninguém vai fazer o Didi como o Renato Aragão. No programa existe um gostinho de nostalgia mas com o brilho da novidade.

Você acha que dá para ser um trapalhão e carregar consigo essa ingenuidade na vida?

Dá sim. As pessoas têm medo disso, de serem ridicularizadas, medo de serem fracas. Isso que é bonito, a rosa verdadeira é mais bonita que a falsa porque ela só dura 7 dias e morre. Quando a gente se dispõe a trabalhar no humor é justamente para assumir que o ser humano é feio, ser humano erra, ser humano acorda com bafo, ser humano não sabe das coisas, e visita o Google pra saber algo. As pessoas quando riem da gente fazem isso esperando que a gente fale o que elas tem vontade e não tem coragem. As pessoas deveriam ter menos medo disso, ser um pouquinho mais comediante, não pra fazer gracinha e ser o espertinho da turma, mas deixar a mascara do ego de lado e ser mais como elas gostariam de ser. Essa foi uma das lições que aprendi com o Renato.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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