Marjorie Estiano diz que não saberia agir como sua personagem em Sob Pressão

Publicado em 05/07/2017

No dia 25 de julho, o público poderá matar a saudade de Marjorie Estiano, que será uma das estrelas da série Sob Pressão, nova aposta da Globo no horário nobre. Na história, a atriz interpretará Carolina, uma jovem cirurgiã vascular que trabalha em um hospital da rede pública numa comunidade carente do Rio de Janeiro. Nesta entrevista, ela falou sobre a personagem e sobre a dificuldade real dos médicos que precisam salvar vidas mesmo com recursos escassos. Confira:

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O que te chamou a atenção neste trabalho?

É muito mobilizador a gente poder fazer parte de um projeto que visa contar histórias tão reais. A expectativa é sempre de poder mobilizar, atingir, transformar, e fico honrada em poder fazer parte com esta intenção, na esperança de que possa gerar alguma mudança na nossa saúde pública.

A série mostra na dramaturgia o que acontece quando os recursos não chegam não é mesmo?

Isso a gente sabe diariamente pelos jornais. A falta de recursos, a falta de estrutura, isso já é sabido. O que a série tenta é aprofundar nisso, e mostrar a que pacientes e médicos estão sujeitos no dia a dia.

Você fez laboratório para viver a Dra. Carolina. Chegou a ver algo que te chocou?

Acompanhamos a emergência de um hospital durante determinado período, tudo o que acontece é inesperado, mas situações como as que vivemos na série não aconteceram. Para mim durante o laboratório ficou mais claro o entendimento do ofício, além é claro, da vulnerabilidade do paciente que depende do serviço público de saúde.

A série fala da questão da morte, e dos médicos em busca de salvar seus pacientes. Você viu algo desse tipo?

Nunca fui colocada tão próxima dessa situação de morte, independente da gravidade dos assuntos.

Sua personagem é religiosa?

Não é religiosa, porque ela não tem uma religião, mas ela é crédula, e acredita que exista algo além da matéria, algo que acredito também. A alma pode criar tanto as doenças quanto a cura.

Sua visão sobre os médicos mudou?

Acho que quando sai da teoria e vai para a prática, ocupa outro lugar, outra consistência. Ver aquilo no dia a dia é mais mobilizador e te afeta mais do que simplesmente ler a respeito. O propósito da série é trazer para o entretenimento, questões da vida dos médicos, questões políticas, sociais,  e éticas. Foi uma maneira sábia da direção e dos roteiristas de trazer essa questão que a gente está levantando e temos expectativa de retorno no entretenimento sem ser militante. Os episódios espelham qualidades e defeitos.

Quando a personagem escolhe um paciente para atender devido à gravidade, ela está deixando de atender outro que também precisa dela. Como é trabalhar isso¿ Como são as cenas cirúrgicas?

É muito delicado. É a escolha de quem opta por essa profissão que é tão gloriosa e difícil. Os médicos se responsabilizam muito por aquelas vidas que dependem deles naquele momento. Eu nunca tive problemas com sangue, mas no começo do laboratório foi bem impactante ver um corpo aberto, porque você tem uma relação de zelo e cuidado com seu corpo, e quando aquilo é aberto e você vê tudo funcionando, desde os órgãos até os músculos… Apesar de impactante, com a frequência aquilo vai virando um ofício. No final das contas a gente é uma máquina onde cada peça precisa funcionar no seu lugar.


Como isso é feito nas gravações?

São próteses, usamos os instrumentos que se usam no hospital, e temos assessoria de médicos o tempo inteiro para não cometermos nenhum equívoco. São cenas difíceis porque são muito técnicas, e precisam ser interrompidas muitas vezes. Coloca luva, coloca prótese, tira luva, coloca sangue, põe a luva de novo. Então são muitas etapas mais difíceis que uma cena de diálogo.

Você acha que o amor tem o poder de curar?

Sem dúvida. Acho que inclusive a matéria prima dos médicos é o amor. Eles se mobilizam para ir diariamente para os hospitais, e suprir uma demanda imensa. É o amor que dá a eles essa força. É a base disso tudo.

No meio de todo o drama com o hospital, existe também o amor da personagem pelo seu colega de trabalho, que nasce no meio do caos.

Estamos mergulhados nisso. A gente se relaciona com as pessoas com as quais a gente mais frequenta. As vezes não é necessariamente um flerte ou um amor, mas uma aproximação, uma afinidade, mas os episódios ficam mais em cima dos pacientes, escolhas que devem ser feitas do que propriamente do amor, que ocupa menos de 20% da trama.

As séries de hospital costumam fazer muito sucesso e durar vários anos. Você espera ter a oportunidade de fazer várias temporadas?

Eu estou muito feliz e fico emocionada de poder fazer parte desse discurso. Esse time é maravilhoso. Se tiver outras temporadas, eu vou amar fazer.

Você lidaria com uma profissão como essa com tanta pressão?

Não. De nenhuma forma. Eu não sei agir sob pressão, iria sentar e chorar. Eu não saberia não deixar a adrenalina interferir na precisão, e nas escolhas rápidas que precisam ser feitas. Sob pressão eu fico completamente espalhada, não sei onde estou e nem quem sou. O médico precisa ter esse perfil e eu não tenho.

Sua personagem em Justiça ficou tetraplégica e realizou eutanásia. Você seria a favor desse procedimento?

Eu acho este um assunto muito polêmico, mas o direito sobre a sua vida tem que ser seu apenas. Não pode ser algo banalizado. Minha personagem agiu de forma precipitada porque tinha certeza que ela não viveria daquela forma, mas poderia ser só uma etapa.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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