Fafá de Belém entra em A Força do Querer e revela detalhes sobre sua personagem: “A vida não consegue atropelá-la”

Publicado em 20/07/2017

Após encarnar diferentes músicos no quadro Show dos Famosos, Fafá de Belém está pronta para entrar na novela A Força do Querer, como Almerinda, a mãe do protagonista Zeca (Marco Pigossi). Em entrevista ao Observatório da Televisão, ela contou várias curiosidades sobre a personagem.

Leia também: Principais programas da Record amargam a terceira colocação na média mensal no PNT; veja levantamento

Como surgiu a oportunidade para participar de A Força do Querer?

Tudo começou lá atrás quando a Gloria Perez estava desenvolvendo a sinopse da novela, e me ligou para saber detalhes sobre Belém. A Amazônia parece uma coisa só mas temos hábitos diferentes, no Amazonas, Pará e Acre. Tiramos as dúvidas dela, e trocamos muitas informações, mandei vídeos e o dicionário do Raimundo Mauro Sobral, onde tem muitos termos usados no Pará. As pessoas começaram a me ligar perguntando se eu iria participar da novela, e eu respondia que não. Quando a Gloria me ligou novamente, falei com ela:  “Está tudo tão louco que alguém sabe que estou falando com você e estão inventando que eu tenho um personagem na novela”, e ela respondeu “Mas você tem, na hora certa você vai saber.”

E como de fato você ficou sabendo?

No domingo que eu iria fazer o Luiz Gonzaga no Show dos Famosos, saiu no Jornal O Globo, que eu iria fazer a novela, e seria mãe do Zeca (Marco Pigossi), e eu adoro esse núcleo.

Você gosta da novela?

Muito. A Gloria trouxe de volta o folhetim, e trouxe essa coisa de pegar o humano e contar histórias com temas difíceis com grande grau de humanidade e afetividade. Em que outra novela por exemplo as pessoas estariam preocupadas com o destino da Bibi (Juliana Paes) sendo que a opção de seguir aquela vida foi dela? Pra mim é uma honra e uma responsabilidade muito grande mas graças a Deus meu papel é de uma paraense (risos). Ela é uma cantora e ontem gravamos cenas muito bonitas.

Ainda em relação ao convite, você não sabia que seria mãe do Zeca?

Não sabia de nada. Eu só descobri quando peguei o texto. Essa história é engraçada, estávamos ensaiando para fazer uma apresentação todo mundo junto no Show dos Famosos do Domingão do Faustão, e aí a Rosane, da produção de elenco me ligou querendo conversar comigo. Marquei de encontrar com ela, ela me explicou tudo, na mesma hora conheci alguns atores, fomos tirar minhas medidas e logo em seguida me entregaram um calhamaço de folhas e disseram “Tá aqui, você entra no ar dia 25”. Eu tava parecendo um pato novo na lagoa. Como eu estava indo para Portugal, precisei mexer em toda a minha agenda, e a preparadora de elenco foi maravilhosa em me dar o apoio. Sou atriz de formação mas fiquei em pânico ao ler os roteiros, fui pro hotel e dormi tanto que ninguém conseguia me acordar (risos). O choque da força do querer (risos).

Como foi se adaptar às gravações?

Comecei a ler os textos e fazer marcação, depois cheguei direto fazendo externa.  Uma coisa interessante do trabalho de ator, é o conjunto, em que um passa a bola pro outro. É o que a gente aprende quando faz teatro, que nada funciona isoladamente, e tenho do meu lado pessoas fabulosas. Meus parceiros de cena são Zezé Polessa e Tonico Pereira, inclusive fiquei em pânico ontem com a quantidade de texto que temos que bater, e eu me tremendo toda diante dele. Não o conhecia pessoalmente, mas tenho uma admiração tremenda. Foi maravilhoso, o Pigossi é uma coisa. Que homem lindo, e que delicadeza. É um ator muito jovem, com uma conexão muito forte com o teatro, com um refinamento. Estou adorando, já cheguei direto no Balada Jeiza (risos).


Como você está construindo a personagem?

Quando cheguei aqui há alguns dias atrás para fazer a prova de figurino eu tinha na cabeça uma mulher forte, com muita personalidade, que larga o filho com o marido para fazer algo e voltar, que saiu do interior do Pará e foi para o mundo e se manteve no mundo com dignidade e atitude. Pensei em muitas mulheres da minha terra. As amazonas, mulheres guerreiras eram donas daquilo lá e temos esse tal do empoderamento feminino, que não aguento mais ouvir essa palavra, é o saber quem você é. Desde lá eu vi uma Almerinda meio hippie, meio cigana, de cabelos soltos, independente que constrói a vida dela e com auto estima suficiente para superar várias coisas até reencontrar o filho.

A Almerinda é uma mulher que para buscar uma carreira deixou o filho com o pai. Você se sentiu assim em algum momento, acreditando que poderia ser mais presente para a sua filha?

Não. Criei Mariana sozinha e minhas opções eram, ou levar para fazer shows comigo, o que é péssimo, porque criança tem que ter rotina, ou criar com muito rigor, então criei com muito rigor. Aos 9 anos de idade ela ficou 1 mês de castigo porque falou “sacanagem”. E ela disse “Mas você fala”, e eu disse “Eu sou uma mulher, você é uma criança, uma menina, vai ficar 1 mês sem ver New Kids On The Block” (risos). Criei a Mariana com memorando, deixava escrito tudo o que ela podia fazer e a hora que ela podia fazer, e temos uma afinidade muito grande, crescemos juntas. No caso da Almerinda, essa mulher vai em busca do sonho dela, e volta, e um machista horroroso, que ela achava que ia ser o amor da vida dela, tanto que ela confia o filho deles a ele, desaparece com a criança. E ela fica tentando entender a vida toda o que aconteceu.

Como ela é? Ela é uma mulher densa? Se parece com você?

Acho que Gloria não faria esse papel pra mim se não fossemos parecidas. Ela é intensa, afetiva, grandiosa, tem gestos largos. A vida não consegue atropelá-la. E consegui construir a personagem pela leitura do roteiro. O que o pessoal tinha em mente era uma coisa meio Elke, com muitas cores. É uma mulher brasileira, que poderia ser de vários lugares, que teve que tomar a vida no cabresto sem perder a alegria. Essa é a novela que entendo que melhor olhou para meu povo, minha gente. A Zezé está fazendo impecavelmente essa mulher que é fuxiqueira, mas tem sonhos, é colorida e com uma auto-estima lá em cima. A Ritinha tem toda a sensualidade e uma inocência absoluta, é uma pedra bruta que incomoda, mas é aquilo ali, então ela não tem apego a nada, a vida dela é o rio e se gosta muito. Me vejo muito bem representada como cidadã paraense.

Você já gravou com a Isis Valverde?

Ainda não gravei com ela. Encontrei com ela no principio e fui dar um beijo nela porque a acho um espetáculo. Ela pegou muito aquela coisa da menina mas com muita sensualidade. Imagine um lugar quente e úmido, as roupas são sempre finas e o desenrolar disso é o boto (risos). São mulheres que se juntam e vão dançar, e tem essa ligação com as cores. Ontem quando entrei no cenário fiquei tão emocionada porque encontrei na casa do Abel, a casa da minha avó. Inacreditável! Minha avó morava no interior, perto de Belém e eu vi na sacada da casa do Abel, a casa da minha avó. O trabalho no cimento, os vasos, o vitrô verde, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, é uma criação muito afetiva. Uma novela que abraçou a minha gente.

A Zezé Polessa falou que se emocionou muito porque quando ela gravou lá, estava chovendo e ela via mulheres com os pés cheios de lama, mas as unhas sempre pintadas de vermelho, e estou vendo suas unhas também pintadas de vermelho.

(Risos) Tem a flor colorida no cabelo também. É uma energia muito poderosa. A gente entra numa sorveteria que tem 100 tipos de sorvete, entre eles, só dois de chocolate. Uma gastronomia muito rica, e fico feliz porque o Pará é um estado muito interessante e peculiar. Essa coisa brejeira, debochada, de rir de si própria, colocar apelidos nos outros, isso é muito o Pará. O cara que não tem olho é o caolho. Uma das grandes peixarias de Belém chama Peixaria do Careca porque o dono é careca. É um estado livre.

Você é muito parecida com a Gloria em relação à gratidão. O Fausto Silva falou no programa dele que você é uma grande amiga e esteve presente em um programa dele que mais nenhum convidado foi. 

Não tava combinado você me fazer chorar hoje (risos). Eu acho que a vida da gente é um caminhar, e temos que entender que para caminhar alguém te abriu a porta ou pegou sua mão. Eu ganhei vários filhos no Show dos Famosos, aí outro dia dei uma carona ao Enzo Romani, e por uma situação X, perguntei se ele queria conhecer o Milton Nascimento, e ele disse “Será”? Tudo o que ele estava me dizendo era a cara do Milton, e acho que a maior qualidade do ser humano é juntar pessoas. Se você não perceber que pode fazer conexões e seguir em frente, sua vida fica monótona e pequena. Quando eu era criança, nunca pensei em casar nem em ser cantora, eu queria ser manicure porque eu achava lindo, depois queria ser psicóloga e fui crescendo querendo conhecer o mundo para conhecer gente. Você só conhece gente se desenvolver afeto e trocas. Quando o Fausto estreou o Balancê, ele convidou todo mundo, só aparecemos Serginho Chulapa e eu. A vida da gente é agregar pessoas. Conheço gente de tantas tribos diferentes. E aos 60 anos me reinventei, a partir de um disco que ninguém quis.

Como foi pra você a experiência no Show dos Famosos?

Foi ótimo. Fiz aula de canto que nunca tinha feito, empostação, que nunca tive, dança, perceber como é outro, e oportunidade de agradecer pessoas importante da minha vida.

Você ficou muito nervosa com o desafio?

A questão não é só essa. É uma novela das 9, que está dando altos picos de audiência, escrita pela Gloria Perez e com esse elenco que bate uma bola, que todos são protagonistas, e eu sou de Belém. Tudo isso pra mim é muito grande, e sou muito grata.

Você é uma figura muito carismática. Como foi chegar para gravar no seu primeiro dia?

Foi maravilhoso. Fui muito abraçada e muito acarinhada, desde o porteiro, maquiadoras, elenco e direção. Tonico ontem foi de uma delicadeza, de um afeto, me ajudando a marcar uma cena. Minha principal atividade é o canto e ele teve uma paciência e generosidade comigo que não sou primordialmente atriz. Tomara que minha personagem fique até o final e ninguém mate ela atropelada (risos).

Você não se leva a sério não é?

Não. Essa brincadeira com o nosso cotidiano nos faz entender que todo mundo é igual. Temos uma profissão glamourosa, o que não quer dizer que sejamos diferentes de ninguém. Sempre digo que tudo o que vivemos é uma mentira. O hotel 5 estrelas é mentira, a passagem executiva é mentira, é apenas fruto do trabalho que você está fazendo, porque às vezes até as pessoas que trabalham com a gente viajam na maionese, e precisam entender que é apenas um trabalho que vamos desempenhar da melhor forma mas é um trabalho.

O que você acha dessa onda de mulheres na música, como na música sertaneja por exemplo?

Eu adoro elas, porque elas são humanas. No momento que vivemos que todas as mulheres têm manequim 38, chapinha no cabelo, e não comem glúten e lactose, elas dizem que tomam cachaça. Essa verdade estava fazendo falta no cenário musical, e sem vulgaridade, porque elas não ficam com a perna aberta mostrando a bunda. Eu acho que são mulheres do Brasil. Dia desses uma amiga minha perguntou “Você já ouviu Infiel“? E eu respondi “Meu amor, canto aos gritos”. (risos).

A forma como você fala nos remete muito à personagem Edinalva. A sua personagem será amiga dela?

Ela vai se aliar a ela contra o Abel. Ela acolhe a Almerinda.

Como foi pra você buscar essa emoção do reencontro?

A coach foi fundamental, porque a novela já estava andando, e eu não queria passar do ponto. Conversamos muito sobre como seria essa cena, e me auxiliaram me fazendo lembrar das minhas netas, eu fui para esse universo. A cena ficou muito bonita.

Você assistiu a essas cenas?

Eu morro de medo. Só vejo no ar. Na música também, não gosto de ouvir nada. Gravo 5 trilhas diferentes, e deixo o produtor se virar, caso ele use alguma que eu não gostei, eu gravo de novo. Acredito que quando você está muito envolvida, você coloca uma percepção muito sua, e tanto o trabalho do produtor, na música, ou do diretor aqui na novela é olhar de fora, e achar o melhor para o personagem. Se eu não confiasse em todas as pessoas que estão em torno, eu não estaria aqui.

Você está feliz?

Muito. Estou num dos grandes momentos da minha vida, pessoal dando um pontapé numa série de coisas, e com 60 anos me reinventando. As pessoas dizem que falo muito que estou com 60 anos, e falo mesmo, porque minha vida está recomeçando aos 60 anos e a mulher no Brasil com 20 está se enchendo de Botox. Eu começo uma nova caminhada agora.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade