O futuro já começou

Verdades Secretas 2 e Silvio de Abreu na HBO Max indicam o futuro da novela no streaming

Movimentação mostra que folhetim no streaming já toma forma

Publicado em 01/11/2021

Quando as gigantes mundiais do streaming começaram a produzir dramaturgia no Brasil, com o lançamento de séries gravadas em solo nacional, especulava-se se a novela, produto que agrada muito ao espectador brasileiro, teria vez nestas plataformas. Pois a resposta a esta pergunta começa a aparecer. Globoplay e HBO Max saem na frente e ditam o futuro do formato no streaming.

A experiência do Globoplay ainda não é completa. Afinal, a “primeira novela do streaming” é Verdades Secretas 2, continuação de uma novela exibida em TV aberta há seis anos. Ou seja, trata-se de uma experiência praticamente a prova de erros, tendo em vista que o espectador já sabe o que esperar e conhece bem os personagens da trama de Walcyr Carrasco. O apelo da sequência de Verdades Secretas criou um hype que fez bem para a divulgação da obra.

Se a trama não é exatamente nova, a maneira como ela está sendo veiculada é. O Globoplay vem lançando Verdades Secretas 2 em lotes de 10 capítulos a cada 15 dias. Havia uma dúvida sobre como um produto tão enraizado no cotidiano do espectador comum se adaptaria ao streaming no sentido da veiculação, já que séries, salvo exceções, são lançadas com temporadas completas.

Até aqui, a maneira como o Globoplay encontrou para exibir a saga de Angel (Camila Queiroz) parece acertada. Afinal, lotes de 10 correspondem à maioria das temporadas de séries originais lançadas no streaming. E o lançamento regular destes lotes a cada duas semanas faz com que crie-se um hábito, como na TV. Ou seja, o Globoplay mirou tanto no público que consome séries em ritmo de maratona, quanto o espectador médio de novelas. Uma boa tática.

HBO Max

Enquanto isso, a HBO Max, streaming da WarnerMedia, tem feito movimentações para lançar seus próprios folhetins gravados na América Latina. Para isso, tem se aparelhado de executivos oriundos da Globo, aproveitando o know-how da TV aberta. Monica Albuquerque, Silvio de Abreu e Edna Palatnik, executivos de alto escalão recentemente dispensados pela TV aberta, agora vestem a camisa da Warner.

Em entrevista à Veja, Silvio de Abreu anunciou que será produtor executivo de “telesséries”, nome atribuído ao produto híbrido que mescla elementos de novelas e de séries. Ou seja, a “telessérie” que a HBO Max pretende lançar é uma novela curta, de 60 capítulos, que terá o melodrama da novela, mas também um “aprofundamento” de tramas típico de séries.

Ou seja, as contratações da HBO Max, somada à experiência do Globoplay, mostram que a novela (ou “telessérie”) terá futuro no streaming. A tendência é que estes produtos se tornem algo parecido com a até então extinta “novela das onze” da própria Globo: tramas curtas de temática mais adulta, com embalagem premium.

O fato de ter nomes como Monica Albuquerque e Silvio de Abreu à frente do projeto de dramaturgia indica que a HBO Max disporá de grandes nomes da TV brasileira, incluindo autores, diretores e atores, neste novo mercado que se abre. A experiência destes executivos no formato e a chancela da Warner (com o selo HBO) evidenciam que estas novas produções serão robustas.

Mas e a Netflix?

Enquanto isso, a Netflix ainda não anunciou seu projeto no segmento, embora a plataforma tenha sinalizado que pretende, sim, investir no formato. O remake de Dona Beija, anunciado pela produtora Floresta, é cotado para ser a primeira novela da Netflix, embora ainda não haja nenhum anúncio oficial. É aguardar pra ver.

Em suma: o streaming vem aquecendo a produção de dramaturgia no Brasil. A produção de novelas nestas plataformas abre não apenas um novo campo de trabalho para os profissionais da área, mas também cria novas possibilidades de narrativas dramatúrgicas que deve ditar os rumos da própria telenovela no país.

Claro, ainda será um público nichado, e a novela ainda será um produto forte na TV aberta. Mas experiências feitas nas plataformas podem influenciar transformações também na TV convencional, numa troca natural que pode ser benéfica para todos.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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