Globoplay

Vale Tudo volta 32 anos depois, para um Brasil que não mudou

Dirigida por Dennis Carvalho, novela infelizmente segue atual em seu retrato do Brasil

Publicado em 19/07/2020

A novela Vale Tudo, de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, foi ao ar pela primeira vez entre maio de 1988 e janeiro de 1989. Nesses 32 anos, a obra teve outras três apresentações na TV e foi lançada em DVD. Neste domingo (19), ela passa a integrar o catálogo do Globoplay.

Raquel Aciolli (Regina Duarte) é guia de turistas que visitam a cidade de Foz do Iguaçu, divisa do Brasil com a Argentina. Foi morar na cidade após desistir de apostar em seu casamento com o desajustado Rubinho (Daniel Filho), um músico da noite.

Foi quando voltou a viver com o pai, Salvador (Sebastião Vasconcelos), fiscal da Receita Federal de honestidade indiscutível. Os anos passam e Maria de Fátima (Glória Pires), a filha, chega à maioridade detestando a cidade onde mora e a vida que leva. A morte do avô abre terreno para que ela tome uma atitude abominável.

Com a casa tendo sido passada ara o seu nome pelo avô, que temia que a filha a jogasse fora numa eventual recaída com Rubinho, Maria de Fátima vende a casa sem que a mãe saiba e vai embora com o dinheiro.

O destino de Fátima é o Rio de Janeiro, onde ela pretende reencontrar o modelo César (Carlos Alberto Riccelli), que conhecera alguns dias antes no hotel onde a mãe encontrava os turistas que guiava.

Ela vai morar na casa da jornalista Solange (Lídia Brondi), que trabalha na prestigiada revista Tomorrow e, por isso, é um elo importante com o mundo no qual ela pretende ingressar, o dos ricos e famosos.

Por isso mesmo, Fátima não hesita em separar Solange do namorado Afonso (Cássio Gabus Mendes), herdeiro de uma família milionária, contando com a ajuda do amante, César.

Afonso é filho de Odete Roitman (Beatriz Segall), a poderosa dona da empresa de aviação TCA. Empresária de sucesso, o que tem de competente Odete tem de prepotente, pedante, egoísta, um ser humano bastante desagradável para quem não deteste o Brasil como ela nem concorde com seus valores deturpados e sua hipocrisia.

O total inverso de sua irmã, Celina (Nathalia Timberg), muito querida por todos, especialmente pela sobrinha Helena (Renata Sorrah), outra filha de Odete, oprimida pela mãe e que encontra no álcool uma válvula de escape após seu casamento infeliz com Marco Aurélio (Reginaldo Faria), que gerou um filho, Thiago (Fábio Villa Verde).

É claro que Raquel parte para o Rio de Janeiro tão logo toma conhecimento da venda da casa, acreditando que sua pobre filhinha deveria ter sido vítima de algum ladino de fala macia. Ela se nega a enxergar o monstro que a jovem é.

Ao chegar à Cidade Maravilhosa e ir procurar o ex-marido para saber da filha, Raquel é assaltada e conhece Ivan (Antonio Fagundes), que também acaba de chegar ao Rio na expectativa de mudar de vida, com um novo emprego.

Mas ele sequer chega a assumir a vaga, demitido que é no dia em que começaria a trabalhar e após abandonar uma boa colocação em São Paulo. Ele é separado de Leila (Cássia Kiss) e tem com ela um filho, Bruno (Danton Mello).

As vidas de Raquel e Odete se cruzam não apenas porque Fátima se casa com Afonso, mas também porque Ivan, que vai trabalhar na TCA, acaba despertando a atenção de Helena. Para ganhar pontos com a sogra, Fátima se compromete a prejudicar a própria mãe e separá-la de Ivan, a fim de que o caminho fique livre para Helena.

Enquanto Raquel, que ao chegar à Cidade Maravilhosa foi vender sanduíches na praia e depois abriu o restaurante Paladar, vence pelo esforço e acreditando na honestidade e nos princípios éticos, Fátima vai descendo ladeira abaixo em razão de seus muitos expedientes amorais.

Vale Tudo ainda hoje é lembrada por um crime que mobilizou as atenções do Brasil entre o Natal de 1988 e a primeira semana de 1989, nos últimos capítulos da novela: “Quem matou Odete Roitman?” foi a pergunta que todo mundo se fez, e cuja resposta foi conhecida apenas no último capítulo – Leila matou Odete por engano, pensando que atirava em Maria de Fátima, numa das cenas mais reprisadas da TV.

Com direção geral de Dennis Carvalho, Vale Tudo teve em seu elenco ainda as presenças de Adriano Reys, Cláudio Corrêa e Castro, Pedro Paulo Rangel, Lília Cabral, Sérgio Mamberti, Cristina Prochaska, Lala Deheinzelin, Marcos Palmeira, Flávia Monteiro, Marcello Novaes, Zilka Salaberry, Turíbio Ruiz e Maria Isabel de Lizandra, entre outros.

Vale Tudo
Vale Tudo

A história fez muito sucesso por diversos fatores. Um dos principais é ter sido bastante ousada numa crítica à situação do País de maneira que antes ou depois de 1988 talvez não tivesse funcionado da mesma maneira – e, paradoxalmente, a mantém bastante atual mesmo passado esse tempo.

As questões morais e comportamentais do brasileiro não mudaram em nada, ou mudaram muito pouco, e a discussão sobre valer ou não a pena ser honesto num país como o nosso permanece válida.

Hoje em dia nossa moeda e os ocupantes de cargos eletivos mudaram – nem tanto assim também –, uma ou outra marca que tenha exposição na novela não existe mais, determinadas gírias podem causar estranhamento nos que não viveram a época, mas Vale Tudo, como outras novelas dos anos 1980, segue fiel à sua condição de retrato do Brasil.

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