Vade Retro teve seus méritos, mas não decolou

Publicado em 30/06/2017

Terminou na noite de ontem (29) a série Vade Retro, retorno da dupla de roteiristas Alexandre Machado e Fernanda Young à Globo após a malfadada O Dentista Mascarado. E, apesar dos muitos pontos positivos da série, não foi desta vez que os autores conseguiram agraciar público e crítica com uma nova história. Vade Retro teve trajetória irregular.

Quem deu uma chance à comédia não se arrependeu. Vade Retro cumpriu a sua principal missão, que é fazer rir. Com diálogos afiados e referências espertas aos filmes de terror, Vade Retro fez humor diante de uma temática um tanto ousada. Afinal, não é todo dia que a Globo coloca no ar um produto que faz chacota com elementos sacros e coloca o próprio diabo como herói. Vade Retro divertiu, sobretudo, com as brincadeiras constantes aos filmes de terror. Só o fato de Abel Zebu (Tony Ramos) e Lucy Fergusson (Maria Luísa Mendonça) terem como herdeiros Carrie (Nathália Falcão, que tinha um jeito meio “Samara”) e Damien (Enrico Baruzzi) já era qualquer nota.

Vade Retro também acertou ao colocar Tony Ramos e Monica Iozzi como protagonistas. Foi bem legal ver o veterano ator fora de sua zona de conforto ao fazer um personagem charmoso, irônico e com aquela pinta infernal que só a personificação do diabo poderia ostentar. Monica também não decepcionou como a advogada Celeste, fazendo valer a sua escalação e primeira protagonista. A dupla funcionou. Além destes, é sempre um prazer ver Maria Luísa Mendonça fazer mais uma adorável maluca. Cecília Homem de Mello roubou a cena como a simpática Dona Leda. Luciana Paes (Kika) e Juliano Cazarré (Davi) também estiveram muito bem.

As inúmeras referências aos clássicos do terror, com direito a sustos involuntários, câmeras nervosas e ambientação nebulosa também foram acertos, assim como a canção em tom sacro que abria os episódios. Ponto para Mauro Mendonça Filho e a equipe da produtora O2, que deram uma cara diferente a Vade Retro. Os diálogos afiados, que ora faziam uma crítica contundente aos excessos do poder em qualquer esfera, e ora descambava para o nonsense e a escatologia, também arrancaram risos. Vade Retro usou todos estes elementos com inteligência.

No entanto, o maior erro da série, e talvez o principal motivo que a fez não decolar, foi a falta de uma trama mais coesa. A história andou quase como numa sucessão de esquetes, e muitos episódios foram focados em situações um tanto tolas e despropositadas. Passados 11 episódios, Vade Retro passou a sensação de não contar história nenhuma. O mesmo problema, aliás, que acometeu O Dentista Mascarado. Curiosamente, Alexandre Machado e Fernanda Young têm sido mais felizes com suas séries do GNT, como Surtadas na Yoga, Odeio Segundas e a recém-encerrada Edifício Paraíso, que foram mais bem-resolvidas. Os dois ainda devem à Globo uma série com uma carpintaria mais redonda.

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