Símbolo da relação da TV com o público, Sessão da Tarde completa 45 anos

Publicado em 04/03/2019

Todos em alguma fase da vida já chegamos a casa no início da tarde, deixamos nossos livros e cadernos de lado, almoçamos e curtimos uma preguiça vendo filmes que “moldaram nosso caráter”, não é verdade? Em 4 de março de 1974, estreou na Rede Globo uma de suas sessões de filmes mais célebres: a Sessão da Tarde, ícone da relação de muitas pessoas com a televisão em seu cotidiano. Especialmente durante a infância e a adolescência.

Há anos alvo de boatos de que será retirada do ar a fim de ceder o espaço para outras atrações, a faixa vespertina de filmes tem sido utilizada atualmente como arma da emissora para enfrentar a concorrência. Com efeito, nem sempre se sai bem, mas demonstrou recentemente uma vez mais, ao ser antecipada em janeiro das 15h para as 14h, que ainda tem lenha para queimar.

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Algumas curiosidades da história da Sessão da Tarde

A estreia ocorreu às 15h. Conforme as grades de programação disponíveis nos jornais Folha de S. Paulo e Jornal do Brasil, a saber, cada praça apresentou um filme diferente. Os paulistanos assistiram a Oito e Meio, de Federico Fellini, com Marcello Mastroianni, ao passo que os cariocas puderam ver Os Perigos de Paulina, protagonizado por Pamela Austin.

Nos anos 1970 era comum que a Sessão da Tarde apresentasse filmes dos anos 1950, por exemplo, inclusive brasileiros. Comédias de Oscarito como Treze Cadeiras deram as caras na faixa mais de uma vez na época. Musicais, dramas e romances norte-americanos faziam a glória dos cinéfilos, e isso em tempos nos quais havia cinemas de rua dedicados a reprises de filmes. Um dos maiores clássicos do cinema, … E o Vento Levou, de 1939, só foi exibido pela Globo em 1983, só para ilustrar. E com toda a pompa e circunstância, na Semana da Primavera, em horário nobre.

Na temporada de 1975, às terças-feiras duas séries ocupavam o horário de um filme na Sessão da Tarde, das 15h às 17h. Eram exibidos episódios de Daktari e, na sequência, de Tarzan. Nos outros dias da semana filmes iam ao ar normalmente.

Sessão da Tarde é carta na manga da Globo na luta pela audiência vespertina

A faixa vespertina tem apresentado alguns dos mais frequentes problemas da Globo em termos de audiência. Seja uma novela que não se sai como o esperado no Vale a Pena Ver de Novo, como também pelo Vídeo Show, programa de variedades e bastidores da TV recentemente tirado do ar, as tardes globais têm perdido espectadores para a Record TV, com fofocas, reprises de novelas e notícias policiais, e para o SBT, sem o policialesco, mas com o resto.

Desde 14 de janeiro, a Sessão da Tarde foi antecipada para as 14h, com o fim do Vídeo Show. Entre os filmes e os capítulos de Cordel Encantado em reprise, entra outro repeteco: o de A Grande Família. Na faixa das 14h às 16h, os números variam conforme o filme, claro. Mas em geral têm sido melhores do que os de Sophia Abrahão, Joaquim Lopes e companhia.

Com o tempo, os “grandes clássicos” da faixa foram sendo deixados de lado

A Globo tem designado para a sessão filmes que apresentaram bom desempenho em apresentações noturnas, na Tela Quente, por exemplo. No entanto, nunca é demais lembrar que produções consagradas pela Sessão da Tarde têm sido cada vez mais raros nela nos últimos anos. Os Goonies, A Lagoa Azul, Curtindo a Vida Adoidado, Mulher Nota Mil, Esqueceram de Mim, Manequim – A Magia do Amor… Top Gun – Ases Indomáveis, Uma Linda Mulher, Olha Quem Está Falando, Quero Ser Grande, Um Dia a Casa Cai… Meu Primeiro Amor, História Sem Fim, O Feitiço de Áquila, Loucademia de Polícia, A Família Addams, Conta Comigo… E muitos, muitos outros… Fora as comédias clássicas de Jerry Lewis, dos Trapalhões e tantos filmes que marcaram gerações. A saber, o filme exibido mais vezes pela Sessão da Tarde até hoje foi Ghost – Do Outro Lado da Vida. No total, até 2018 foram 25 ocasiões.

Ademais, em relação a filmes há muito mais tolerância ao “reaproveitamento”, por assim dizer. Clássicos cinematográficos são reverenciados. Em parte pela classificação indicativa impeditiva, em parte pelo desejo de explorar filmes mais recentes, fato é que a Sessão da Tarde perdeu boa parcela do seu apelo de atrair os espectadores de sempre. Tanto quanto novos, já nascidos com a internet em seu cotidiano. Por um lado é correto afirmar que a relação dos millenials com a TV é diferente da minha e dos mais velhos do que eu. Mas também é correto que clássicos são incontestáveis e os “novos clássicos” podem perfeitamente conviver com os antigos.

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A esperança de que a Sessão da Tarde sobreviva a eventuais mudanças na grade

Em meio à onda de reformulações que a Globo promete para este ano, corre de novo a história que a Sessão da Tarde pode ser limada da grade. Caso isso realmente ocorra, seu espaço será dedicado a programas de variedades e entrevistas, provavelmente. Salvo a implementação de saídas mais inusuais.

Espera-se que uma sessão de filmes que em plena tarde ainda atrai a atração potencial de quase 12 milhões de espectadores, metade deles da classe C, seja considerada pela emissora como algo a ser mantido. Inclusive deve ser esse o pensamento na casa, afinal, há anos se ouve falar no cancelamento da Sessão da Tarde.

Numa TV como a Globo, que raramente tira programas do ar e mesmo os muda de horário ao sabor da audiência, com tantas atrações sendo exibidas há décadas, cancelar uma delas soa mal e incomum. Enquanto as emissoras concorrentes frequentemente mudam sua programação.

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