Com Shippados, série do Globoplay que agora ganha exibição na TV Globo, o casal de roteiristas Alexandre Machado e Fernanda Young imprime alguma novidade ao seu estilo particular. A saudosa escritora e seu marido voltam à comédia ácida, mas acrescentam a ela uma dose de drama e melancolia.
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Isso porque o casal da vez, Rita (Tatá Werneck) e Enzo (Eduardo Sterbitch), se une pelo traço comum de suas personalidades incomuns: são desajustados anacrônicos e antissociais. Perdidos em meio às redes sociais, e sem interesse em tudo o que interessa aos amigos, os dois são dois deslocados que ficam juntos tentando se encaixar.
Com isso, Rita e Enzo se distanciam de Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres), o principal casal criado pela dupla de autores em Os Normais. Enquanto a dupla da sitcom de 2001 reproduz pequenas loucuras comuns a qualquer casal, Rita e Enzo destoam destes elementos de identificação. São disfuncionais às suas maneiras.
Justamente por se sentirem deslocados e parecerem de outro tempo, Rita e Enzo carregam um traço de melancolia bastante evidente. Com isso, a graça do casal não é óbvia. Ela vem de um riso terno, quase nervoso. Mas que se potencializa quando os dois se encontram e dividem suas estranhezas.
Drama
Além disso, Shippados também tem momentos que fogem da metralhadora verborrágica do texto de Machado e Young. Desta vez, os roteiristas investem num arco dramático que permeia a primeira temporada e acrescenta elementos dramáticos ao enredo da série.
Estas cores ficam mais fortes quando a busca de Rita por seu pai passa ao centro do enredo. É a desculpa para unir todos os casais da série, já que, além de Rita e Enzo, há Brita (Clarice Falcão) e Valdir (Luis Lobianco), e Suzete (Júlia Rabello) e Hélio (Rafael Queiroga). Esta “união” em ritmo de excursão rende gags impagáveis.
Entretanto, o passado dramático de Rita aumenta o traço de melancolia da moça, levando a série para outro lugar. Por isso, o último trabalho na TV da dupla Alexandre Machado e Fernanda Young é, também, um de seus trabalhos mais maduros. Shippados é surpreendentemente terna, dentro da loucura e da comédia habitual dos autores.
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