rainha da tv

Série Hebe foi uma bonita e justa homenagem à apresentadora

Roteiro conseguiu traduzir bem as contradições da protagonista

Publicado em 01/10/2020

A minissérie Hebe, exibida nas noites de quinta-feira da Globo, encerra seu ciclo afirmando-se como uma bela e justa homenagem a Hebe Camargo, grande nome da televisão brasileira. Não apenas por se tratar de Hebe, uma figura relevante do cenário cultural nacional, mas também porque ela, por si só, é um grande personagem, com uma trajetória rica e cheia de contradições.

A série conseguiu explorar bem todas as nuances de Hebe, vivida por Andrea Beltrão. A roteirista Carolina Kotscho conseguiu retratar esta figura antagônica, reforçando os dois lados marcantes de sua personalidade única: o conservadorismo e a contemporaneidade. O texto foi feliz na tradução desta persona, que poderia caminhar no limiar da caricatura.

Hebe era isso. Era uma mulher à frente de seu tempo: trabalhou desde cedo, num contexto social em que o trabalho feminino era tabu. Mas chegou a abrir mão do trabalho para viver o sonho do casamento perfeito, já que tinha em mente que precisava se casar e assumir o papel de esposa tradicional para ser feliz. Isso a levou ao divórcio, numa época em que a separação matrimonial era um escândalo. Ao mesmo tempo, defendeu minorias no ar. Mas também apoiou políticos conservadores.

Muito se falou que a série Hebe acabou distante demais da realidade, criando situações que não existiram. Pode ser, mas isso não é um problema. O roteiro, na verdade, abriu concessões ao folhetim para contar a história em tom de saga. Sendo assim, é natural carregar nas tintas de vez em quando. A inteligência, neste caso, foi saber dosar o tom, para que a Hebe vista na tela não se tornasse completamente diferente da Hebe real.

Ou seja, houve fatos inventados e houve exageros. Mas, no geral, Hebe fez um retrato digno da homenageada, que é o que vale no fim das contas. E vale ressaltar o trabalho de Andrea Beltrão, que fugiu da armadilha de uma imitação. Trouxe maneirismos e cacoetes, mas o fez ao seu tom. Compôs sua própria Hebe, que funcionou muito bem dentro da trama.

Mais importante é que a série fez um necessário retrato da trajetória da animadora. Mais do que isso, desvendou bastidores deliciosos da era do rádio e do início da televisão do Brasil. O crescimento de Hebe, atrelado à evolução da própria comunicação brasileira, foi um pano de fundo eficaz de uma história que envolveu.

Filme que vira série

Além disso, a série deu uma nova cara às coproduções Globo e Globo Filmes. Anteriormente, as séries baseadas em longas-metragens eram apenas o filme dividido em capítulos, com uma ou outra nova cena inserida. Desta vez, o longa Hebe – A Estrela do Brasil e a série Hebe proporcionaram experiências completamente distintas ao público.

O filme narra apenas um pequeno recorte da carreira de Hebe. Já a série atravessa a vida da apresentadora. Assim, a narrativa da série é mais ampla, completamente diferente da do filme. Neste caso, o filme foi “absorvido” pela série, tornando-se uma parte dela, mas não o todo. Um formato que deveria ser repetido mais vezes.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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