Mocinha ou vilã?

Sem mocinha forte, Império tem em Maria Marta sua protagonista moral

Personagem de Lilia Cabral sofre como uma mocinha, mas é ácida como vilã

Publicado em 28/05/2021

Um dos problemas estruturais de Império é a falta de uma protagonista feminina forte. A figura do Comendador (Alexandre Nero) ocupa todo o centro do enredo, mas não há alguém ao lado dele com força o suficiente para dividir os holofotes. Maria Isis (Marina Ruy Barbosa) não é a mocinha da história, e bem poderia ser coadjuvante. E Cristina (Leandra Leal), a principal heroína romântica do enredo, é filha de José Alfredo.

Sendo assim, este lugar acaba sendo ocupado por Maria Marta (Lilia Cabral). Ela é figura fundamental para a construção da joalheria e, consequentemente, de toda a fortuna do protagonista. Se não fosse a entrada de Maria Marta na vida de José Alfredo, ele não chegaria onde chegou. Além disso, ela sofre por ele não mais amá-la, e sua grande frustração é não ser correspondida. Ou seja, no fundo, é uma mocinha típica.

Mas a trama de Aguinaldo Silva subverte a ordem ao colocar Maria Marta como vilã. Apesar de ela carregar os típicos conflitos de uma protagonista, ela acaba sendo pintada com tintas mais carregadas, seja por suas frases cortantes, por sua arrogância exacerbada ou pela inconsequência de seus atos.

Por outro lado, é Maria Marta quem demonstra força para lidar com os conflitos familiares. E, ao contrário do Comendador, não foge das brigas. Ela enfrenta suas lutas com muita convicção. Porém, ao ficar no meio do caminho entre uma mocinha e uma vilã, Maria Marta acaba não cumprindo nenhuma destas funções. E este é um dos motivos para que Império pareça capenga.

Passado

Além disso, há muita coisa mal explicada na trajetória de Maria Marta e José Alfredo. Na primeira fase, o protagonista (Chay Suede) se apaixona por Eliane (Vanessa Giácomo/Malu Galli), mas também se mostra muito entusiasmado por Maria Marta (Adriana Birolli).

Já na segunda fase, os dois aparecem num casamento de aparências, vivendo em casas separadas e numa queda de braços intensa. Afinal, o que aconteceu neste período? Como foi que a relação entre ambos desandou? Falta um motivo mais sólido para que o público consiga embarcar nesta briga.

Além disso, apesar de Maria Marta ser apresentada como antagonista, ela tem todos os méritos nas conquistas do Comendador que, por sua vez, não reconhece tal mérito e a trata com desdém. Afinal, quem está certo e quem está errado? Quem é o herói e quem é o vilão?

Maria Marta é a protagonista moral de Império. No entanto, acaba ficando em segundo plano ao longo de toda a trama. Era um tipo promissor, mas que foi desperdiçado por conta de um texto que parece desalinhado.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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