fase ruim

SBT chega aos 39 anos vivendo uma de suas piores crises criativas

Emissora perdeu a capacidade de surpreender o público e revelar talentos

Publicado em 19/08/2020

O SBT completa nesta quarta-feira (19) 39 anos de operações. O canal de Silvio Santos nasceu sob imagem e semelhança de seu dono e principal apresentador e, com isso, criou uma relação afetiva com sua audiência, que sempre torce a favor da emissora. No entanto, esta torcida tem poucos motivos para sorrir neste aniversário.

Isso porque o SBT vive, em 2020, uma das mais graves crises criativas e de audiência de sua história. A emissora ostenta uma grade de programação fraca e sem novidades, é muito dependente de reprises e vive, basicamente, de reverenciar sua própria história, sem olhar para o futuro de uma maneira mais firme.

A emissora nasceu e se criou alicerçada em dois pilares do entretenimento: auditórios e enlatados. O primeiro, capitaneado pelo próprio Silvio Santos, deu espaço a veteranos da TV, como Hebe Camargo e Raul Gil, além de revelar grandes nomes do segmento, como Gugu Liberato e Celso Portiolli. Porém, os auditórios foram perdendo espaço para formatos, como os que formam os atuais Domingo Legal e Eliana. E a pandemia de covid-19 afastou Silvio e Raul de suas funções.

Já os enlatados, que já chegaram a ocupar mais da metade da grade do canal, hoje vivem de filmes antigos nas duas únicas sessões de cinema que ainda permanecem na programação. As séries desapareceram, as novelas mexicanas são subaproveitadas e há apostas que parecem fazer sentido apenas ao próprio Silvio Santos, como Alarma TV e WWE Raw.

O jornalismo, que já teve altos e baixos, hoje fica no meio do caminho. O SBT nunca dedicou tantas horas para a informação quanto atualmente. No entanto, isso é feito sem investimentos, o que resulta no inexplicável Primeiro Impacto de seis horas de duração. O SBT Brasil, principal jornal do canal, acaba de completar 15 anos, mas vive uma fase de controvérsia por conta do alinhamento político do canal.

Outro segmento de altos e baixos é a dramaturgia. Depois de reencontrar o caminho do sucesso com as novelas infantis, a emissora enfrenta agora o desgaste da fórmula. A trajetória de As Aventuras de Poliana resume bem isso: estreou em alta, em 2018, mas viu sua plateia diminuir na mesma proporção em que os capítulos aumentavam. Mesmo em queda, a emissora ainda aposta na novela, engatilhando a “segunda temporada”, que teve gravações interrompidas por conta da pandemia.

Parado no tempo

No contexto da pandemia, o SBT foi a emissora aberta que mais perdeu público. Mas a fase ruim da emissora não tem a ver apenas com isso. Nos últimos anos, o canal já vinha dando claros sinais de dificuldades em se renovar. A emissora parece parada no tempo e perdeu alguns de seus trunfos, que a tornaram a segunda maior rede do país no passado.

Em seu início, o SBT sempre se caracterizou pelo entretenimento, e por ser um celeiro de talentos. Boa parte dos artistas que fizeram sua história são “nascidos” na casa. Neste quesito, Silvio Santos sempre mostrou um olhar apurado para enxergar valores e fez muitas apostas, várias delas muito bem-sucedidas.

Gugu Liberato, no auditório, e Mara Maravilha, nos infantis, são alguns dos expoentes dos primeiros anos do SBT. Mais tarde, vieram nomes como Eliana e Celso Portiolli, que hoje dividem o domingo com o “patrão”. Christina Rocha, atualmente à frente do Casos de Família, é outra prata da casa, atuando em programas da emissora, entre idas e vindas, desde sua estreia.

Hoje, a emissora perdeu este know-how. Não há mais a preocupação em apostar em novos valores. As grandes “novidades” do cast do canal em seus últimos anos são as filhas de Silvio Santos, que ocupam grande espaço na grade. Silvia Abravanel no Bom Dia e Cia, Patrícia Abravanel no Topa ou Não Topa e Receba Abravanel no Roda a Roda foram os últimos “lançamentos” da emissora.

Além de não conseguir mais revelar novos talentos, a emissora também perdeu a mão no que se refere a lançamentos de programas que surpreendem o público. Lembram do frisson que foi a estreia de Casa dos Artistas? Há quantos anos o SBT não aposta num formato capaz de mexer com o público, como o Show do Milhão, um fenômeno do início da década de 2000?

Apostas equivocadas

Soma-se a isso a insistência de Silvio Santos em emplacar programas que não encontram qualquer possibilidade de acontecer. Além de promover mudanças quase diárias no Triturando, que agora ganhou o “spin-off” Notícias Impressionantes aos finais de semana, o “patrão” segue tentando enfiar goela abaixo do público enlatados de gosto duvidoso, como Milagres de Nossa Senhora.

Além disso, investe de maneira errada nos poucos valores humanos que ainda aparecem por ali. O caso mais notório é Maisa Silva, estrela da casa desde a mais tenra idade, com uma entrada absurda junto aos adolescentes nas redes sociais, mas que na TV aparece com um programa engessado, envelhecido e que não dialoga com seu público-alvo.

Outro valor desperdiçado é Chris Flores. Profissional versátil e de grande gabarito, a jornalista se divide entre Triturando e Notícias Impressionantes, dois programas muito aquém de sua capacidade.

É um cenário muito triste para uma emissora que já teve tantos bons momentos, revelou grandes nomes, trouxe grandes formatos e já mexeu com público e crítica com passos ousados e surpreendentes. Hoje, é um canal estagnado, sem a mesma capacidade de se renovar. Infelizmente, o SBT caminha para um futuro bastante obscuro.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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