Dentre as várias mudanças que Daniel Ortiz imprimiu no texto original de Sassaricando para criar a sua Haja Coração, uma das mais sentidas é a mudança de perfil de Fedora Abdala. Ao transformar a herdeira dos Abdala numa “patricinha” metida a digital influencer, o autor esvaziou o tipo brilhantemente criado por Cristina Pereira na obra de Silvio de Abreu.
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Por conta desta mudança de perfil, Tatá Werneck optou por dar à nova Fedora um tom irritantemente infantil. Voluntariosa em demasia, a personagem mais irrita do que arranca risadas do público. Com isso, desperdiça o talento da própria intérprete, que é uma comediante de mão cheia.
Assim, a entrada de Cristina Pereira em Haja Coração como Safira, tia de Fedora, acabou por corrigir este erro de percurso. A atriz veterana entrou em cena fazendo exatamente a mesma Fedora que fez tão bem há 33 anos. Fogosa, debochada, grossa e sem papas na língua, a tia Safira deu um chacoalhão mais do que necessário no núcleo cômico de Haja Coração.
Afinal, a família Abdala sempre soou como um grande desperdício de talento por metro quadrado. O núcleo conta com comediantes do naipe de Claudia Jimenez, como Lucrécia, e Marcelo Médici, como Agilson, mas eles estão inacreditavelmente apagados. Enquanto isso, Alexandre Borges repete o Cadinho, de Avenida Brasil, e Grace Gianoukas, um dos poucos destaques, passa a maior parte da história fora de cena, perdida na floresta.
Salvação da lavoura
Ou seja, a entrada de Cristina Pereira não apenas serviu para resgatar as características que fizeram da Fedora original um sucesso, mas também para dar alguma vida ao núcleo da mansão. Com a presença da atriz, a Fedora de Tatá fica menos intragável, e o Leozinho de Gabriel Godoy cresce absurdamente.
Neste contexto, tia Safira rouba a cena em Haja Coração e dá alguma graça ao enredo. Mesmo que o texto não ajude muito, já que Ortiz é adepto do humor mais infantilizado, a performance da atriz acaba por compensar a falta de piadas mais inteligentes. Tia Safira chegou para “salvar a lavoura”.
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