Divas sem função

Renata Sorrah, Eva Wilma, Arlete Salles, Totia Meirelles: os talentos desperdiçados em Fina Estampa

A novela reúne atrizes do primeiro time em papéis totalmente irrelevantes

Publicado em 16/06/2020

Fina Estampa reúne um elenco de estrelas do primeiro time. A trama de Aguinaldo Silva, reapresentada na faixa das 21 horas na Globo, é encabeçada por Lília Cabral e Christiane Torloni, duas atrizes de quilate. E tem coadjuvantes de peso, como Eva Wilma, Renata Sorrah, Arlete Salles e Totia Meirelles, entre outras.

No entanto, enquanto Griselda e Tereza Cristina têm os holofotes constantemente, personagens como Tia Íris, Danielle, Vilma e Zambeze parecem não ter muito o que fazer na história. São coadjuvantes frouxas, que, além de pouco acrescentarem ao enredo, ainda desperdiçam o imenso talento de suas intérpretes.

O caso mais emblemático é o de Renata Sorrah. Uma das atrizes preferidas de Aguinaldo Silva, a atriz tem personagens antológicas nas obras dele, como Pilar de Pedra Sobre Pedra (1992), Zenilda de A Indomada (1997), e a “imortal” Nazaré Tedesco de Senhora do Destino (2004). Por conta deste histórico, é bem difícil compreender os motivos que levaram o autor a entregar uma personagem tão insossa quanto Danielle para a atriz.

Danielle Fraser é uma das protagonistas da trama paralela mais “séria” de Fina Estampa. Ela é a médica que comete uma infração ética ao misturar seus sentimentos à vida de uma paciente, Esther (Julia Lemmertz), o que culmina com uma batalha nos tribunais pela guarda de uma criança. No entanto, esta trama demora a se desenrolar, só ficando clara aos olhos do público na reta final da obra.

Assim, enquanto Danielle espera seu momento em Fina Estampa, a personagem fica circulando sem maiores emoções. Ela surge em cenas descoladas da trama, seja nas discussões com Celina (Ana Rosa), seja num romance sem graça com Enzo (Julio Rocha). A falta de um propósito se reflete da interpretação da atriz, completamente no piloto automático. Renata passa a novela toda tateando, sem encontrar o tom de Danielle.

Reboot de Altiva

Outra veterana que parece desperdiçada em Fina Estampa é Eva Wilma. A atriz até teve mais sorte que Renata Sorrah: tia Íris não é muito útil, mas ao menos rende sequências de humor interessantes, o que permite à atriz brincar em cena. Entretanto, a personagem é outra que parece completamente descolada do enredo.

Tia Íris serve como mais um dos “problemas” de Tereza Cristina, mas seus golpes e armações são tolos e não levam a lugar nenhum. Assim, ela parece apenas uma personagem feita para que Aguinaldo Silva reverencie sua própria obra, já que Íris repete maneirismos e cacoetes de Altiva, a impagável vilã de A Indomada.

Escadas

Quando Fina Estampa foi exibida, em 2011, Totia Meirelles já havia emplacado bons personagens, em novelas como América (2005), Cobras & Lagartos (2006) e Caminho das Índias (2009). Sendo assim, sua presença como Zambeze chama a atenção negativamente. Sem qualquer função na história, a hippie serve apenas como escada para o núcleo da pousada, composto por personagens tão desinteressantes quanto ela.

O mesmo acontece com Arlete Salles, como a taxista Vilma. O tipo tinha tudo para ser divertido, mas, sem história própria, a motorista serve apenas de escada, à Griselda e à Letícia (Tania Khalil). Com a falta de material para trabalhar, Arlete parece repetir sua Copélia, de Toma Lá Dá Cá.

Este excesso de personagens despropositados é mais um sinal de que o autor não foi feliz na criação das tramas paralelas de Fina Estampa. Todos os núcleos são frouxos, e os personagens parecem perdidos. A novela é muito dependente de sua trama principal, e é fácil entender o motivo.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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