Personagens apagados e sem função prejudicam O Sétimo Guardião

Publicado em 23/01/2019

A esperada volta ao realismo fantástico de Aguinaldo Silva não tem dado os resultados esperados pela Globo. O Sétimo Guardião tem amargado baixos índices de audiência e sido alvo de muitas críticas quanto à história, que parece andar a passos de tartaruga. No entanto, o maior problema da novela não parece estar na trama principal: a fonte de água mágica e seus “guardiães” (como os guardiões se chamam na novela) é interessante e pode render. O problema maior está nos núcleos paralelos.

Uma das características das novelas passadas em pequenas cidades do interior é a possibilidade de criar uma gama de tipos. Afinal, o cenário pretende ser um microcosmo e, como tal, tem habitantes que representam diversos nichos. O realismo mágico dá espaço para que se pese a mão na caricatura, o que normalmente resulta em tipos marcantes. Basta se lembrar da exagerada Ilka Tibiriçá (Cassia Kis), em Fera Ferida, ou da hilária vilã Altiva (Eva Wilma), de A Indomada. São tipos que ficam na memória.

Leia também: Atriz transexual terá papel de destaque na substituta de O Sétimo Guardião

Porém, em Serro Azul, não se vê tipos tão marcantes assim. Pelo contrário. Há o delegado Machado (Milhem Cortaz), por exemplo, que chama a atenção pelo seu fetiche em calcinhas. Poderia até render, dado o inusitado da situação e o bom desempenho do ator. Porém, Machado está envolvido numa trama paralela que é uma completa bobagem.

Casado com Rita (Flavia Alessandra), ele lida com o fato de a mulher sonhar em ser estrela de cinema. Uma história fraca que não ata e nem desata. Fica só em sequências intermináveis de Flavia Alessandra de lingerie numa cachoeira sendo filmada por Leonardo (Jaffar Bambirra). Um baita desperdício.

Personagens apagados

Outro núcleo que aborrece é o da família de Afrodite (Carolina Dieckmann). Ela e seus filhos lidam diariamente com o machismo e a intolerância de Nicolau (Marcelo Serrado). São cenas e mais cenas de desaforos disparados gratuitamente. Assim, a história se resume numa sequência de cenas aleatórias que não evoluem. Tudo tão jogado que a trama nem desperta a comoção da audiência. Não há torcida para que esta família se livre do patriarca antiquado.

Leia também: Mudança na programação da tarde não é prioridade para a Globo atualmente

Isso sem falar em personagens que poderiam render, mas não há espaço para eles. O padre, normalmente uma figura central nas novelas regionalistas de Aguinaldo Silva, aqui tem cenas pouco interessantes, mesmo com o bom desempenho de Aílton Graça. A cafetina, normalmente um tipo que chama a atenção, também não tem espaço, embora Ana Beatriz Nogueira esteja ótima como Ondina. Marcos Paulo (Nany People) é outra personagem com potencial, mas só tem servido como capacho de vilã.

A Indomada

Enquanto isso, o canal Viva exibe A Indomada, uma trama recheada de bons personagens. Em Greenville, há tipos marcantes, com Emanoel (Selton Mello), o deputado Pitágoras (Ary Fontoura), a fogosa Scarlet (Luiza Tomé, que aparece também em O Sétimo Guardião, mas totalmente perdida), a juíza Mirandinha (Betty Faria), a cafetina Zenilda (Renata Sorrah)… enfim, personagens carismáticos que conseguem manter a novela de pé mesmo quando a história não anda.

Justamente o que falta à O Sétimo Guardião (entre outras coisas). Uma cidadezinha como Serro Azul seria um cenário e tanto para habitantes capazes de gerar alguma simpatia no público. Mas, estranhamente, não há. Assim, a novela parece uma grande ideia desperdiçada.

Leia também: De sucessor de Silvio Santos a comandante de reality shows: a reinvenção de Gugu Liberato

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade