O Brasil tá vendo

Parece que o jogo virou no BBB 21 – e fora dele

A dois meses da final, programa pode finalmente engatar no eixo da diversão

Publicado em 25/02/2021

Decorrido um terço da duração do BBB 21, temos ainda dois meses pela frente e o programa agora já parece recuperar seu eixo de entretenimento. Com a eliminação da cantora Karol Conká e do não menos polêmico humorista Nego Di, o núcleo de personalidades com comportamento de repercussão negativa além da conta começou a ser desmantelado.

O reality show tem tudo para voltar a ser um programa mais de jogo individual e de relações do que de conflitos inspirados na polarização de grupos existentes do lado de fora da casa.

Um estudo independente realizada pela empresa de monitoramento de consumo e pesquisa de mercado Hibou após os primeiros dez dias do programa tinha concluído que o BBB 21 estava despertando emoções negativas e os chamados ‘gatilhos’ – quando se remete a experiências traumáticas do passado.

Isso mesmo com a maior parte dos entrevistados revelando que não assistia ao programa, com 30% deles dizendo que ficavam sabendo dos acontecimentos do reality por outros meios.

Os entrevistados da pesquisa citaram sentimentos de raiva, tristeza, preconceito, humilhação, indignação, nojo, repúdio e falta de empatia. Ainda, uma pequena parcela dos entrevistados, 6,7% deles, pensava até em parar de assistir ao programa, sendo 50% por acharem o conteúdo pesado.

Votação no passado

Acontece que o brasileiro tende a votar em reality show como num espelho de sua própria vivência, e isso bem antes do advento das redes sociais. É emblemático o caso do antigo programa Você Decide, num episódio do ano de 1992 no qual uma pessoa muito necessitada ficava com uma maleta de dinheiro deixada por um morto.

Para escolher o final preferido (na época, a votação era por telefone), o brasileiro optou com larga vantagem que a pessoa não deveria entregar o dinheiro, cujo destino pela vontade do morto deveria ter sido uma instituição de caridade.

A emissora e a mídia ficaram surpresas com a opção do público, um exemplo de que a audiência também reflete no entretenimento suas necessidades do dia a dia.

Neste BBB 21, até os patrocinadores da atração passaram a criar esforços de comunicação para entregar mensagens positivas, seja pelas palavras motivadoras formadas pelas latinhas de Coca-Cola, seja pelos conceitos de força e positividade em ação da cerveja Amstel no programa. Afinal, quem quer ter sua marca associada a sentimentos ruins como os da pesquisa?

Uma operação interna para salvamento do programa já tinha começado desde a saída do participante Lucas Penteado. O ator, extremamente abalado pelo que passou dentro do programa, desistiu de ficar na casa, abrindo mão de todas as benesses contratuais. Karol Conká e Nego Di saíram com os maiores percentuais de rejeição já registrados ao longo de 19 anos do programa, respectivamente com 99,17% e 98,76%.

Agora, é seguir de olho nas tramas tradicionais do próprio reality: articulações, armações, fofocas, romances, discussões decorrentes da convivência e do próprio jogo.

Falta a alguns participantes entendimento de que as pessoas do lado de fora estão mais dispostas a se divertir, a ver festas das quais nunca poderão participar, ver roupas e brincadeiras a que nunca terão acesso. O público assiste ao Big Brother Brasil como se fosse uma novela. Os atores lá dentro – e há profissionais ali – só precisam colaborar mais.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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