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Opinião no Ar é mais um programa de debates sem contraponto

Programa da RedeTV! estreia com um debate pouco plural

Publicado em 28/09/2020

Novidade desta semana na RedeTV!, o programa Opinião no Ar, com Luís Ernesto Lacombe, prometeu ser um programa de debates que escuta “todos os lados da história. Jornalismo posicionado, mas sem militância”, segundo o material de divulgação distribuído pela própria emissora. Mas não foi isso o que foi visto no programa de estreia.

Ao debater a “cultura do politicamente correto” e a volta às aulas na pandemia, Opinião no Ar reuniu em seu debate pessoas com visões muito semelhantes. Ao lado de Lacombe, Silvio Navarro e Sikêra Jr. opinaram sobre o tema, todos com linhas de raciocínio bastante semelhante à do próprio âncora.

O “debate” sobre o politicamente correto, por exemplo, rendeu frases clichê como “o mundo está muito chato” e “daqui a pouco, serei preso por ser hetero”. Navarro chegou a afirmar, no ar, que não acredita em pesquisas. Ou seja, o debate não apenas não teve contraponto, como ainda abriu mão de dados científicos para embasar as opiniões da bancada.

Na verdade, houve um contraponto. Amanda Klein, que também compõe a bancada, colocou pontos de vista diferentes no debate. A jornalista ressaltou a importância da defesa às minorias, afirmando que há uma parcela da sociedade que é reprimida e que busca (legitimamente) igualdade de direitos (e não “privilégios”, como alguns ressaltaram). No entanto, ela foi constantemente interrompida.

Assim, na prática, não houve contraponto. É louvável a tentativa de Amanda de se posicionar em meio a uma bancada composta por outras quatro pessoas que pensavam diferente dela. Foi um debate desigual. E a jornalista ter sido interrompida a todo o momento foi bastante deselegante.

A questão não é concordar ou discordar. O fato é que, ao propor um programa de debate de opiniões, a RedeTV! prometeu uma pluralidade que não existe na prática, além de muitas opiniões sem qualquer embasamento. O programa devia se chamar Minha Opinião no Ar.

Problema crônico

Debates pouco plurais não são exclusividade da RedeTV!. Na verdade, o telejornalismo brasileiro, como um todo, não consegue oferecer um programa de debates que seja realmente plural no campo das ideias. A maioria costuma reunir debatedores com linhas de raciocínio semelhantes. Aí, o confronto de ideias não acontece, dando espaço a um “papo comadre”.

Mesmo quando há a tentativa de ser plural (como O Grande Debate, da CNN), a escolha dos debatedores (e dos temas) acaba desnivelando a conversa. Não é um debate de fato, e sim uma contenda feita para viralizar na internet. Ou seja, a TV brasileira ainda carece de um bom debate de ideias.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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