O talento de Osmar Prado livra o judeu Bóris de ser odiado em Órfãos da Terra

Publicado em 30/06/2019

Osmar Prado vive o judeu Bóris Fischer em Órfãos da Terra, a novela das 18h da Rede Globo. As autoras Thelma Guedes e Duca Rachid acertaram em sua criação. Um personagem que poderia facilmente ser detestado pelo público em virtude de suas posições religiosas e a respeito do conflito entre Israel e Palestina. Mas que, ao contrário, conquista a simpatia dos telespectadores devido a seu jeito ranzinza que chega a ser engraçado. Ademais, também pela clareza quanto a seu comportamento não se dever a maldade nem a rancores gratuitos.

Osmar Prado e Nicette Bruno: boa dupla

Nicette Bruno e Osmar Prado como Esther e Bóris em Órfãos da Terra ReproduçãoTV Globo

Desde o começo de Órfãos da Terra, quando a história era ambientada três anos antes da fase atual, Bóris e sua amiga Esther (Nicette Bruno) desejam casar os jovens Sara (Verônica Debom) e Abner (Marcelo Médici). A moça é neta de Bóris, filha de sua filha Eva (Betty Gofman). Ao passo que o rapaz é filho único de Esther. Justamente por isso ela o trata com excesso de zelo e controle, como toda boa mãe judia. Só que ninguém esperava que Sara se apaixonasse por Ali (Mouhamed Harfouch), neto do palestino Mamede (Flávio Migliaccio). Justamente o dono do cachorro Sultão, que Bóris deseja manter longe de sua cadela, Salomé, a saber. Afora as diferenças de religião e mentalidade que existem entre os dois patriarcas, ambos contrários à união dos netos.

Nem amnésia de Sara a casou com Abner

Aliás, Bóris e Esther também não contavam que Sara e Abner, que de início se detestavam, acabassem se tornando grandes amigos. E que Abner se apaixonasse verdadeiramente por Sara e até concordasse em fingir ser seu namorado para deixar Ali enciumado. Alguns capítulos atrás, durante um período que passou desmemoriada em decorrência de uma queda, Sara chegou a ficar noiva de Abner e quase se casou com ele. Mas foi por pouco tempo.

A questão Israel-Palestina é representada na relação de Bóris com o neto, Davi

Davi (Vitor Thiré) é o outro filho de Eva. Tão logo atingiu a idade necessária para isso, o rapaz se incorporou às forças militares que lutam em Israel contra os palestinos. Passou lá alguns anos e voltou ao Brasil, onde se encantou por Cibele (Guilhermina Libânio). Como representa a figura paterna para os netos, o saba Bóris exerce sobre eles grande influência. O que, com efeito, mostrou-se determinante na opção de Davi por lutar ao lado dos israelenses. Além disso, Bóris se refere a Israel como “a nossa terra” e “a terra de Davi”. Embora o neto tenha nascido no Brasil e ele mesmo viva aqui há décadas.

Osmar Prado conduz seu personagem com leveza

As questões que envolvem os destinos de sua terra de origem mexem profundamente com os sentimentos do velho judeu. E aí Osmar Prado encontra mais possibilidades de exercitar sua infinita capacidade de emocionar o público. Na dose certa de rabugice e ternura, cabeça-dura e leveza, o ator conduz seu personagem do vovô que vai à sinagoga e não ameaça ninguém ao patriarca que influencia decisivamente o destino dos netos. Ou, pelo menos, do neto.

Personagens com características diversas são comuns na vasta carreira de Osmar Prado

Em mais de 50 anos de carreira, Osmar Prado já deu vida a personagens com as mais diferentes características. Já foi um simplório catador de caranguejos pelos mangues, que sonha com o enriquecimento que um diabinho guardado na garrafa pode lhe trazer. Esse foi o Tião Galinha, lembrado até hoje pelos que viram a novela Renascer (1993), de Benedito Ruy Barbosa. O Sérgio Cabeleira, que um dia é “sugado” pela Lua em Pedra Sobre Pedra (1992), o jogador de futebol Mingo de Bandeira 2 (1971/72), o politizado Júnior da primeira versão de A Grande Família (1972/75) e o farmacêutico caipira Zeca de Éramos Seis (1994) são apenas alguns outros personagens de Osmar, só para exemplificar. Uma pequena mostra de sua vasta e diversa galeria de trabalhos. Para a qual o Bóris de Órfãos da Terra entra com louvor, com toda a certeza.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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