O adeus a Tônia Carrero aos 95 anos

Publicado em 04/03/2018

Morreu às 22h15min deste sábado, 3 de março, a atriz Tônia Carrero, aos 95 anos. Ela estava internada desde o dia anterior para um procedimento cirúrgico simples na Clínica São Vicente, no bairro da Gávea, zona sul do Rio de Janeiro, mas não resistiu a uma parada cardíaca que sofreu durante esse procedimento.

Maria Antonietta de Farias Portocarrero nasceu em 23 de agosto de 1922 no Rio de Janeiro. Filha de Hermenegildo e Zilda Portocarrero, a atriz era mãe do ator Cecil Thiré e avó dos atores Luiza Thiré, Carlos Thiré e Miguel Thiré. Formou-se em Educação Física, mas seu sonho de ser atriz a levou a partir para a França a fim de estudar com o ator francês Jean-Louis Barrault, já casada com o primeiro marido, Carlos Arthur Thiré.

Estrela da Companhia Cinematográfica Vera Cruz e um dos maiores nomes do nosso cinema, Tônia estreou em Querida Suzana (1949), de Alberto Pieralisi, e participou de mais de 20 filmes, dentre os quais Tico-tico no Fubá (1952), de Adolfo Celi; Appassionata (1952), de Fernando de Barros; É Proibido Beijar (1954), de Ugo Lombardi; Esse Rio que Eu Amo (1962), de Carlos Hugo Christensen; A Bela Palomera (1988), de Ruy Guerra; e Chega de Saudade (2006), de Laís Bodanzky.

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O primeiro trabalho no teatro foi em 1949: Um Deus Dormiu Lá em Casa, de Guilherme Figueiredo, primeira das quase 30 peças que faria ao lado do amigo Paulo Autran (1922-2007). Primeira também das quase 60 peças de que participou até 2007, quando fez a última, Um Barco Para o Sonho, de Alexei Arbuzov. Merecem destaque: Uma Mulher do Outro Mundo (1954), de Noel Coward; Santa Marta Fabril S. A. (1955), de Abílio Pereira de Almeida; Otelo (1956), de William Shakespeare – que inaugurou os trabalhos da Companhia Tônia-Celi-Autran, dos dois atores com o diretor italiano que foi o segundo marido de Tônia.

A companhia produziu 17 espetáculos e foi dissolvida em 1962; Seis Personagens à Procura de Um Autor (1959), de Luigi Pirandello; Dois na Gangorra (1960), de William Gibson; Lisbela e o Prisioneiro (1961), de Osman Lins; A Dama do Maxim’s (1965), de Georges Feydeau; Navalha na Carne (1967), de Plínio Marcos, que lhe rendeu um Molière; Casa de Bonecas (1971), de Henrik Ibsen; Doce Pássaro da Juventude (1976), de Tennessee Williams; Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1978), de Edward Albee; A Divina Sarah (1984), de William Luce; Quartett (1986), de Heiner Müller, e aqui seu segundo Molière; Um Equilíbrio Delicado (1999), também de Albee; e A Visita da Velha Senhora (2002), de Friedrich Dürrenmatt.

Na televisão, Tônia esteve presente desde os primórdios, em teleteatros nas TVs Tupi e Rio. Em 1966, Tônia protagonizou a novela A Mulher que Amou Demais, na TV Rio, baseada em Anna Karenina, romance de Leon Tolstói. Em 1969 foi a Pola Renon de Sangue do Meu Sangue, de Vicente Sesso, produção da TV Excelsior. Sua personagem se envolveu com Carlos e Lúcio, pai e filho, ambos interpretados por Francisco Cuoco, nas distintas fases de uma trama passada no Segundo Reinado. Logo em seguida estreou na Rede Globo no papel de Cristina Guimarães em Pigmalião 70, também de Sesso. Até 1973 participou de várias novelas em sequência: A Próxima Atração (1970/71), de Walther Negrão, como Glória; O Cafona (1971), retomando a parceria com Francisco Cuoco, ele como Gilberto Athayde e ela como Beatriz; O Primeiro Amor (1972), de Walther Negrão, como Maria do Carmo, ao lado de Sérgio Cardoso e Rosamaria Murtinho; e Uma Rosa Com Amor (1972/73), outra de Vicente Sesso, interpretando Roberta Vermont, a atriz consagrada que se envolve com Sérgio (Marcos Paulo), rapaz mais jovem.

Na década de 1970 participou de diversos programas do ciclo Caso Especial, mas apenas em 1980 a atriz voltaria a fazer novelas. Nessa volta viveu uma de suas personagens mais queridas pelo público: a excêntrica milionária Stella Fraga Simpson de Água Viva, escrita por Gilberto Braga. Ao longo da década Tônia participou na Globo também de O Amor É Nosso! (1981), de Roberto Freire, Wilson Aguiar Filho e Walther Negrão, no papel de Gilda; Louco Amor (1983), de Gilberto Braga, como Muriel, dona da revista Stampa e desafeto da vilã Renata Dumont (Tereza Rachel); foi Rebeca, o amor do passado de Aparício Varela (Paulo Autran) em Sassaricando (1987/88), de Silvio de Abreu. Em 1989 foi para a Rede Manchete viver Letícia Viana, um dos principais papéis de Kananga do Japão, novela de Wilson Aguiar Filho.

A partir daí as aparições de Tônia na televisão passaram a ser mais esporádicas. Em 1993 foi ao ar em Portugal pela RTP a série Cupido Eletrônico, escrita por Jayme Camargo e dirigida por Cecil Thiré, com Tônia no papel da protagonista, a modista Madame Nenette. Só em 1995 fez outra novela – a segunda versão de Sangue do Meu Sangue, agora no SBT, no papel de Cecile Renon, uma tia de Pola, criada especialmente para ela. No SBT também a atriz esteve no elenco de alguns programas do Teleteatro (1998), dirigido e adaptado por Crayton Sarzy a partir de originais de Marisa Garrido.

Nova pausa e, em 2000, a atriz interpretou Mimi Melodie em Esplendor (Globo, 2000), de Ana Maria Moretzsohn, e em 2004 a última personagem em novelas: a cafetina Madame Berthe na primeira fase de Senhora do Destino, de Aguinaldo Silva. Nesse mesmo ano, uma participação afetiva na minissérie Um Só Coração, de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira: Paulo Autran e ela interpretaram um casal que ia ao teatro assistir a um espetáculo de dois atores iniciantes que prometiam muito: Paulo Autran (Jonathan Nogueira) e Tônia Carrero (Brígida Menegatti). Nos anos 1990 participou de alguns episódios do interativo Você Decide e em 2005 fez uma participação especial num dos programas da série Sob Nova Direção, “Entre a cruz e a empada”, como Dona Celita, a senhora que fazia empadas para o bar de Pit (Ingrid Guimarães) e Belinha (Heloísa Périssé).

Nos últimos anos de vida, Tônia foi acometida de uma doença chamada de hidrocefalia oculta, que aos poucos a impediu de se comunicar e locomover normalmente. Vivia em seu apartamento no bairro carioca do Leblon, recebia visitas frequentes de amigos e sempre foi assistida pela família. Uma das mulheres mais bonitas do cenário artístico brasileiro, Tônia conseguiu ser respeitada também e mais pelo seu talento, comprovado em tantas atuações e amadurecido pelo tempo a cada novo desafio. Que ela descanse em paz.

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