Gelado

No Limite virou um programa frio, mesmo no calor do Ceará

Esperada nova versão do reality show de resistência frustra pela falta de emoção

Publicado em 08/06/2021

Em comparação àquele programa que estreou na Globo há 21 anos, esse atual No Limite não empolga. Se lá atrás o reality foi um sopro de novidade na televisão, ganhou prêmio de melhor atração de variedades da APCA (Associação Paulista de críticos de Artes) daquele ano pelo seu frescor, a versão atual não está acompanhando a expectativa do público, tão ávido por atrações inéditas nacionais na TV. Pior, proporciona ao telespectador que fica acordado até mais tarde uma edição fria, mesmo no calor do litoral cearense, e sem emoção. É uma frustração para quem ainda consegue torcer pelo ótimo elenco selecionado para esta edição.

No Limite tinha tudo para agradar ao fã do gênero, sedento por preencher a lacuna na programação noturna após o final do BBB 21. Ainda mais quando se leva em conta que foram chamados participantes de edições anteriores do reality de confinamento, o que sempre desperta novas paixões, uma vantagem em relação aos programas com participantes desconhecidos.

Esta é uma clara desvantagem do divertido Power Couple, competidor no horário pela Record, repleto de casais que não eram conhecidos do grande púbico. Mas o Power Couple ganha em agilidade, com ritmo e edições muito movimentadas.

Com o No Limite, tudo indica que a Globo se acomodou com a mesma fórmula de exibição utilizada no ano 2000, que funcionava então, mas não serve para os dias de hoje. Acontece que ali não havia as redes sociais e a internet ainda engatinhava no sofrimento das conexões de linha discada. Atualmente, a falta de emoção na condução do programa – desde sua apresentação até o ponto alto de cada episódio, com uma eliminação – é compensada em tempo real pelos telespectadores que reclamam na rede social.

E o problema não diz respeito ao formato. No Limite continua com uma pegada interessante, as provas são boas, os participantes passam por mil e um perrengues, as relações ficam abaladas diante de condições tão difíceis de adaptação, seja de dia ou de noite.

No entanto, a emissora, diante de um material captado tão rico, parece que não quis ter muito trabalho de edição. Primeiramente, optou por exibir apenas um parco capítulo semanal, com um modorrento programa de entrevista com o eliminado que vai ao ar na noite do domingo.

Todo mundo no programa parece muito cansado – e a gente só entende o cansaço dos participantes. Muito tem se falado sobre a aparente pouca empolgação de André Marques como apresentador nas provas e na condução do reality. Aparentemente, a falta de empolgação é contagiante. Até o popular Wesley Safadão, atração musical convidada para o programa, mostrou-se insuficiente para levantar os ânimos ao cantar na praia. O pocket show foi realmente mínimo, com apenas alguns minutos levados no ar durante a edição.

As explicações sobre as disputas de cada prova não são muito claras– felizmente o programa contratou um bom desenhista que ilustra bem cada uma delas. André Marques não passa a emoção das disputas, não varia sua entonação na narração, e também não se preocupa em descrever muita coisa ao telespectador. Na semana passada, foi preciso muito esforço para entender por que o eliminado da semana, escolhido pelo grupo, foi o participante Lucas Chumbo, e não a favorita de todos do time Carcará, Íris Stefanelli.

A saber: o próprio Chumbo implorara para a equipe tirá-lo dali, visto que seus problemas de gastrite estavam tornando sua presença impossível tamanha a dor que vinha sentindo. Por mais que se estranhe por que alguém com uma condição de saúde dessas tenha topado participar do programa – sempre se pode alegar desconhecimento – todo mundo sabe que o forte do reality não é a parte culinária. Comer olhos de cabra e testículos de boi são algumas das tarefas famosas de outras edições de No Limite.

Nesta semana, quando excepcionalmente o reality foi exibido na noite de segunda-feira, outro eliminado, Arcrebiano, da equipe Calango, também estava pedindo aos amigos para sair por não estar suportando a fome e as condições árduas que estavam todos enfrentando. Aparentemente, nossos atletas sarados e musculosos de reality show estão em busca de vitórias suadas mas desde haja algum conforto!

Uma hipótese para essa lentidão para a edição do No Limite pode ser um esgotamento por parte da emissora. Depois do esforço gigantesco da equipe da Globo para colocar três meses diários de BBB no ar, o diretor do núcleo, Boninho, pode ter preferido levar o programa dessa forma arrastada.

É um problema recorrente quando uma emissora assume todas as etapas de suas produções – isso seria facilmente contornável com a delegação de algumas atrações da casa a produtoras externas, que entregariam programas feitos por equipes independentes dedicadas. Essa solução é adotada, por exemplo, pelas maiores redes abertas de televisão do mundo – as dos Estados Unidos. Isso movimenta o mercado e dá agilidade para uma rede de televisão.

Ainda, a ausência de uma mini edição diária de No Limite também é um ponto negativo, diante das reprises de novelas no horário nobre e da escassez de atrações inéditas nestes tempos de pandemia.  A falta de frequência tira engajamento do programa, as pessoas se desacostumam e não se empolgam quando há novos acontecimentos.

Entretanto, há algo ainda pior em se exibir uma edição dessas pré-gravada tão antecipadamente: a imprensa sempre atenta já está vazando os prováveis finalistas. Os participantes que saíram do programa também estão aparecendo muito na mídia, o que tira o foco do reality.

Tudo isso junto tira um pouco da graça do programa. Tomara que nos episódios finais algum fator novo nos surpreenda para fazer valer a pena ter acompanhado esse retorno do No Limite.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de sua autora e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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