John of God

Netflix mostra para o mundo a história bizarra de João de Deus

Documentário em formato de minissérie aborda os crimes do médium de Abadiânia

Publicado em 03/09/2021

É para o mundo saber quem é esse tal John of God. A minissérie documental João de Deus – Cura e Crime, feita para a Netflix, leva para os mais de 200 países que recebem a plataforma a história bizarra de João Teixeira de Faria.

O autodenominado médium era esperança de cura para as pessoas, atraindo aos milhares gente do Brasil e do mundo para o seu centro religioso Casa de Dom Inácio de Loyola, na pequena cidade de Abadiânia, em Goiás, ao longo de mais de 40 anos. No entanto, ele acabou indiciado e condenado por crimes sexuais e outros após de mais de 300 denúncias de vítimas.  

João Teixeira de Faria, ou João de Deus, acumula também processos sobre posse ilegal de armas e lavagem de dinheiro, além da acusação de abuso sexual por parte de uma de suas filhas.

A série especial mostra também a facilidade com que se constroem organizações ilícitas no Brasil. Um religioso que atrai multidões é capaz de colocar a seus pés, numa pequena cidade, todo o serviço de hospedagem (pousadas), transporte (táxis e ônibus) e alimentação, recolhendo valores e escolhendo quem pode oferecer qual serviço.

Quem viu os telejornais e a excelente série Em Nome de Deus, produção original Globoplay e exibida em 2020, pode achar que o assunto havia se esgotado.

Contudo, além de todo aquele material, muito bem separado desde que as primeiras denúncias foram exibidas no programa Conversa com Bial, quem poderia imaginar que ainda havia mais casos para serem contados.

Novas histórias

Pois nesta minissérie, em quatro episódios de aproximadamente uma hora cada, há mais desdobramentos do caso e novas histórias pessoais de mulheres vítimas da ação de João de Deus.

Foi para estes depoimentos que os diretores da produção, Mauricio Dias e Tatiana Quintella, direcionaram as câmeras e microfones.

Documentário João de Deus Netflix
Vista da Casa de Dom Inácio de Loyola na pequena cidade de Abadiânia em Goiás Foto ReproduçãoNetflix

O documentário, feito pela produtora Grifa Cinematográfica, conseguiu um tanto de entrevistas exclusivas com vítimas.

Há também um volume de material inédito de acervo que explicita o quanto de apoio essa espécie de seita movimentava ao seu redor. Havia funcionários tão dedicados e próximos dos acontecimentos que parece impossível que não percebiam o que de errado acontecia.

E, pelas entrevistas, é de espantar a devoção psicológica e religiosa tão grande em relação ao líder, capaz de fazer as pessoas simplesmente ignorarem o drama das mulheres abusadas.

Preso, solto e preso

Preso em dezembro de 2018 e liberado em março de 2020 para cumprir prisão domiciliar durante a pandemia, João de Deus no final de agosto acabou voltando à cadeia em regime fechado.

Foi exatamente no período de estreia do documentário na Netflix.  Já condenado em alguns processos, João de Deus segue alvo de outros que ainda aguardam julgamento.  

Como diferencial, este João de Deus – Cura e Crime traz ainda um depoimento do próprio. Recolhido em sua residência na cidade de Anápolis/GO, João de Deus deu uma breve entrevista durante sua prisão domiciliar. Trata-se de uma cena emblemática, mostrando um condenado que tenta manter sua imagem de santo, injustiçado pelos homens. Close no anel de ouro, que ele tira dos dedos e afaga.

​O documentário também mostra o que restou de Abadiânia, com seu comércio fechado e falta de movimento nas ruas. Parece uma cidade fantasma, ainda que o centro religioso siga mantido pelos fiéis escudeiros.

Guardadas as devidas proporções, este João de Deus – Cura e Crime é a versão mande in Brazil de outro documentário famoso da Netflix, o Wild, Wild Country, que mostrou a história da seita fundada por Osho, de origem indiana, no Oregon, Estados Unidos.

Para gringo ver: há neste documentário uma série de entrevistas e depoimentos em inglês, além de cenas de viagens internacionais feitas por João de Deus e seu grupo.

* As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de sua autora e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade