conflitos distintos

Malhação Sonhos teve o mérito de reinventar triângulo amoroso clássico

Trama dá menos ênfase à batida fórmula "casal e vilãzinha"

Publicado em 26/01/2021

Depois da bem-vinda reapresentação de Viva a Diferença, Malhação Sonhos também ganhou a oportunidade de um repeteco. A trama de Paulo Halm e Rosane Svartman, apesar de muito querida pelo público da faixa, não é exatamente um grande sucesso, embora tenha conseguido fugir da fórmula clássica que tanto desgastava a trama teen.

Quando foi ao ar, em 2014, Malhação Sonhos foi numa direção diferente do que a novela costumava apresentar até ali. Uma destas diferenças foi o cenário: saiu a tradicional escola, e entrou uma escola de artes “vizinha” de uma academia de luta. A Ribalta e a Academia do Gael revelaram-se cenários eficientes para propor novas situações.

Mas foi na estrutura básica do texto que Malhação Sonhos acabou encontrando um diferencial. Enquanto as temporadas anteriores não conseguiam fugir do esquema “casal apaixonado é atrapalhado por uma vilãzinha que também gosta do mocinho”, Sonhos focou um triângulo entre duas irmãs. Bianca (Bruna Hamú) e Karina (Isabella Santoni) gostavam do mesmo Duca (Arthur Aguiar).

Ou seja, inicialmente, Malhação Sonhos apostou num conflito familiar sem “culpados”. O fato de Bianca e Karina gostarem do mesmo rapaz não as colocava como inimigas, mas como duas irmãs lidando com uma questão delicada. Com isso, o texto de Paulo Halm e Rosane Svartman conseguiu fugir do maniqueísmo rasteiro que sempre caracterizou Malhação.

Mesmo assim, a dupla de autores acabou por mirar no que viu e acertar no que não viu. Afinal, a trama só decola mesmo quando Karina desiste de Duca e passa a formar um casal “cão e gato” com Pedro (Rafael Vitti). Deste modo, o enredo mais uma vez fugiu do triângulo clássico, preferindo apostar numa versão adolescente de A Megera Domada, o que funcionou bem. Ao ponto de ofuscar Bianca e Duca, que perdem importância no decorrer da obra.

Projetando novelistas

Além disso, outro grande mérito de Malhação Sonhos foi projetar a dupla Rosane Svartman e Paulo Halm, que, a partir dali, se instalaria no horário das 19 horas com duas boas histórias. Pode-se dizer que não haveria Totalmente Demais (2016) e Bom Sucesso (2019), se não houvesse Malhação Sonhos.

Isso porque Sonhos já mostrava a grande capacidade da dupla de autores de incluir alguma sofisticação em seu texto, mas sem perder o apelo popular. Ao ter uma escola de artes como centro da ação, Malhação Sonhos introduziu elementos de teatro, dança e música a um público amplo. E o fez com muita delicadeza, sem parecer panfletagem.

Trata-se de uma característica que seguiu nas novelas posteriores da dupla. Totalmente Demais reverenciava o cinema, por meio de falas e situações que remetiam à sétima arte. Já Bom Sucesso era toda focada na literatura, na qual os personagens vivenciavam grandes obras literárias.

Malhação Sonhos está longe de ser um clássico. Mas é um produto que serviu como alicerce para outras produções da dramaturgia que, posteriormente, se tornariam novos clássicos.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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