tempo, tempo...

Madura, A Vida da Gente é um dramalhão da melhor qualidade

Lícia Manzo estreou como titular em grande estilo há dez anos

Publicado em 01/03/2021

Sucesso de crítica em 2011, A Vida da Gente retornou à grade da Globo nesta segunda-feira (1º), reafirmando a maturidade do texto de Lícia Manzo. A trama marcou a estreia da autora como titular e, dez anos depois, ainda é uma das poucas novelas de Manzo, que assinará a próxima novela das nove.

Mesmo estreando na titularidade, Lícia Manzo faz uso de sua experiência como colaboradora e autora de humorísticos para trazer à faixa das seis da Globo um dramalhão da melhor qualidade. A novelista tem um estilo muito próprio de narrar uma história, focando nos conflitos psicológicos em detrimento à ação.

A Vida da Gente é toda calcada em diálogos, que exprimem a angústia de seus personagens. A história é focada na relação entre Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manuela (Marjorie Estiano), duas companheiras de vida que terão um estranhamento por um revés da vida: Ana entra em coma após um acidente, e Manu passa a cuidar da filha dela, o que faz com que ela se envolva também com o namorado da irmã, Rodrigo (Rafael Cardoso).

Ao acordar, anos depois, Ana percebe que não tem mais a vida que deixou para trás. E passa a enxergar que a irmã “tomou” o espaço que era dela. Com isso, as duas irmãs, outrora companheiras inseparáveis, já não conseguem mais compreender a relação que as une. O drama de Ana, que não se encaixa mais na atual configuração de sua família, e de Manu, tomada pela culpa, é intenso e muito bem trabalhado.

Todo o drama das personagens de A Vida da Gente é retratado por meio de diálogos extremamente bem construídos. E esta é a grande beleza do texto de Lícia Manzo. Por isso, a novela das seis da Globo é um prato cheio para o espectador que gosta de texto. As palavras e ideias são todas muito bem colocadas, levando todos os personagens da obra para algum lugar.

Por tratar de relações humanas, o texto de Lícia Manzo é muito comparado ao de Manoel Carlos. O que não deixa de ter certo sentido, visto que o mergulho na alma de cada personagem parece ser um ponto em comum entre os dois autores. Mas Lícia imprime algum arrojo a este estilo, além de fugir da ambientação da Zona Sul carioca, o que lhe dá um diferencial.

Toda a sensibilidade vista em A Vida da Gente se repete, ainda mais intensa, na trama seguinte da autora, Sete Vidas (2015). Por isso, a reprise da trama faz aumentar as expectativas em torno de Um Lugar ao Sol, a substituta de Amor de Mãe, também de Lícia Manzo. Os dramas adultos e bem construídos da autora parecem feitos para o horário nobre.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade