Jornalismo no SBT: atingido por demissões e cortes, departamento nunca foi o forte da emissora

Publicado em 25/06/2019

Desde o início de suas atividades, em 1981 – isso se desconsiderarmos os cinco anos anteriores, nos quais já existia a TVS do Rio de Janeiro, Canal 11 –, o SBT nunca teve em seu departamento de jornalismo o que podemos chamar de “ponto forte”. Com toda a certeza, não devem ser desprezadas iniciativas que deram certo e renderam audiência e prestígio, como o TJ Brasil de Boris Casoy, ao longo de quase 10 anos (de 1988 a 1997).

No entanto, mesmo nessa época os programas de auditório, as novelas e séries e as sessões de filmes, em virtude de terem potencialmente mais audiência, sempre tiveram mais destaque do que o jornalismo no SBT. Emissora de características populares, quando não popularescas, em sua tentativa de atingir outros públicos de maior poder aquisitivo o SBT cometeu alguns anacronismos de programação. Todos devidamente sentidos pelo público fiel, comprador da Tele Sena e do carnê do Baú da Felicidade.

As obrigações legais garantiram uma sobrevivência mínima do jornalismo no SBT

Ademais, também não podem ser sublimadas todas as muitas vezes em que Silvio Santos mexeu na grade a seu bel prazer e relegou o jornalismo a mera posição figurativa. Fruto de uma obrigação legal, a ausência de jornalismo rende problemas às emissoras de televisão. A saber, as leis de radiodifusão brasileiras obrigam os concessionários de emissoras à exibição de jornalismo e noticiários no mínimo 5% de seu tempo no ar por dia. De tal forma que assim se cumpra uma das funções das concessões dessa natureza, que é a de informar o público.

Jornalismo no SBT: mera consequência de obrigações legais?

No entanto, não é estabelecida pela legislação a distribuição desse percentual obrigatório na grade nem o horário preferencial ou obrigatório da transmissão dos telejornais. Ou seja, isso explica como desde o antigo Noticentro até o Jornal do SBT, por anos a fio os noticiários da casa não raro foram levados ao ar já de madrugada. Não apenas esse fato merece destaque e lembrança, como também devem ser recordadas iniciativas como o Notícias da Última Hora, que o SBT exibiu em meados dos anos 1990. Ao longo de toda a grade, nos intervalos, eram exibidos boletins de um minuto com as notícias que chegavam à redação da emissora, apresentados pelos repórteres de plantão. Embora interessante, a ideia claramente servia para “engordar” a cota diária de jornalismo de forma constante e barata.

Nos primeiros anos, pouco investimento em jornalismo no SBT ante as concorrentes

De 1981 a 1988, basicamente havia uma hora de jornalismo no SBT por dia. Com efeito, houve ocasiões em que houve menos ou mais dos que 60 minutos diários. Isso em se falando de telejornais, com notícias locais, nacionais e internacionais. O grande título do setor era o Noticentro, que ficou no ar até 1988, quando o TJ Brasil o substituiu. Houve também o Cidade 4 (no caso de São Paulo, acompanhando o número do canal), jornal local, e o programa de entrevistas Ideia Nova, que estreou em 1985. Além disso, no fim de noite era exibido o Jornal 24 Horas. Contudo, o investimento era baixo, especialmente se comparado às redes Globo, Bandeirantes e mesmo à Manchete, que entrou no ar em 1983.

Nesses meados da década, conforme a própria imprensa noticiava, Silvio Santos buscou credibilizar sua emissora junto a públicos que o mercado publicitário não via como alcançar através dela na época. Contratações para a linha de shows e para o jornalismo no SBT visaram à maior aceitação da TV do Homem do Baú junto às classes A e B, principalmente. Embora entre os mais pobres o SBT sempre tenha sido muito visto, não são os pobres que consomem de forma predominante.

Outros departamentos podem sofrer a mesma redução de custos que atingiu o jornalismo no SBT

Há alguns dias, o departamento de jornalismo do SBT demitiu dezenas de funcionários. Entre eles, os apresentadores Analice Nicolau, Karyn Bravo e João Fernandes. Os três compunham o time de apresentadores do SBT Notícias, que ia ao ar nas madrugadas e foi encerrado. Mesmo apontando bons números, especialmente numa faixa que levou até a Globo a exibir um telejornal inédito, o Hora Um. Anteriormente à decisão de ampliar o noticiário apresentado por Monalisa Perrone em uma hora, passando seu início das 5h para as 4h, edições do Globo Repórter foram exibidas para testar o horário.

Além disso, não é o só o jornalismo no SBT que anda ameaçado pelas demissões e mudanças. Mesmo a teledramaturgia, que atualmente produz As Aventuras de Poliana, não está imune a um eventual passaralho. Alguns contratos de atores já não têm sido renovados, ainda que o fim da novela só deva ocorrer daqui a mais de um ano. Só para ilustrar, esse é o caso de Nando Cunha e também de Eduardo Semerjian. Cortes muito agressivos podem inclusive prejudicar a produção da sucessora, que até aqui é uma adaptação de Patinho Feio. De tal forma que, se excessivos e mal executados, os cortes no orçamento da emissora podem até inviabilizar a produção de novelas. Cortes foram o motivo apontado como determinante para as demissões e encerramentos de projetos do jornalismo no SBT.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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